Carro da semana, opinião de dono: Peugeot 206 Sensation 1.4

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O Peugeot 206 era um sonho de adolescência.

Referência de estilo até hoje – faróis alongados do New Fiesta e Agile que o digam – o felino era, em sua chegada ao Brasil em 1998, o típico “carro de mulher”: bonito, bem feito, confortável, estiloso, com atenção aos detalhes – enfim, características que hoje se espera de qualquer carro de qualidade.

Mas a alcunha de “carro de mulher” não poderia ser mais mentirosa mesmo em 1998: o Peugeot 206 tem posição de dirigir baixa, pegada esportiva, boa aderência e ama uma estrada. Não me parece exatamente o que o estereótipo de mulher busca num carro.

Bem, em 2006 eu tive a felicidade de realizar meu sonho e adquiri um Peugeot 206 Sensation 1.4 de duas portas, com ar condicionado e direção hidráulica, com o qual fiquei por cinco anos e troquei agora há pouco, triste mas aliviado. Vou contar porquê.

Por dentro

O 206 é um carro simples, mas com muito bom gosto. Os bancos vestem o motorista, a direção regulável tem boa pegada e os controles ficam à mão, apesar de um tanto baixos. O acabamento é bom, com plástico de qualidade razoável mas com textura de couro que dá uma ótima impressão.

As portas e o encosto de braço na lateral dos bancos traseiros é forrada com um belo tecido e a sensação total de qualidade na parte interna é ótima, seguindo à altura o belo estilo externo com uma aparência bastante atual ainda para os padrões de hoje.

Segundo minha noiva, dona de um comportado Clio, o Peugeot 206 lembrava um avião por dentro. Exagero, claro, mas a sensação de arrojo e velocidade dada pelo design é verdadeira.

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Dirigindo

Ao volante o Peugeot 206 é muito bom. Esportivo, sentado no chão, ágil (mas um pouco ruim nas saídas), bom de curva mesmo tendendo a sair de traseira. A verdadeira vocação dele é na estrada, onde alcançava 120 km/h rápido e cheguei a fazer 18 km/l.

Fora da cidade o 206 era sempre gostoso de dirigir, mas no ambiente urbano nunca decepcionou, com trocas de marcha macias (apesar da péssima alavanca de câmbio barulhenta e de curso longo) e bastante agilidade.

O conforto do 206 é um dos seus destaques. Vindo de um Gol e com amigos e parentes que à época possuíam Fiesta, Celta, Corsa e Palio, a diferença era sentida rapidamente por eles, especialmente pela turminha volante-torto do Gol pré-G5 e Celta, que são carros cansativos de dirigir por causa da péssima ergonomia.

A pérola “carro importado é muito bom mesmo” era frequente, mesmo com o 206 tendo sido nacionalizado por volta de 2004. Na mesma faixa de preço, o 206 te trata muito bem, exceto pela embreagem muito comprida e pelo maldito câmbio de calhambeque, e te chama a pegar estrada.

Consumo? Entre 8 e 10 km/l na cidade com gasolina, fazendo uns 7 km/l a partir de uns 50 mil km — considere que são médias calculadas “de cabeça” com auxílio do hodômetro parcial e não por computador de bordo.

Na estrada, o pior que fazia era 14 km/l, sem exagero. O C3, praticamente o mesmo carro com outra carroceria, gasta menos, mas mesmo assim a média do 206 não é nada mal. E com um tanque de 50 litros, o 206 vai longe.

E que ar-condicionado absurdo de gelado! Enfrenta o clima amazônico de Belém com tranquilidade e resfria tudo em menos de 5 minutos e é ainda mais frio pro passageiro (o volante bloqueia o difusor) mas não chegava muito bem na parte de trás.

Problemas

Mas se é nos detalhes que o 206 se destaca, é também onde ele decepciona. O câmbio tem curso longo e engates imprecisos: é extremamente folgado e barulhento, parece defeituoso (aliás, soltou sozinho uma vez; bastou reconectar).

O estepe fica do lado de fora e é muito inconveniente de remover e guardar. O capô tem uma tendência sobrenatural de amassar acima do leão da Peugeot e a porta gigante da versão duas portas é incômoda. E o que diabos é aquele cinzeiro no console central se nem acendedor há?

Uma coisa também me chamou atenção: a escola de samba de que todo mundo reclamava nos fóruns da internet estava mais pra samba de fundo de quintal no meu 206. Sim, os plásticos rangiam por todos os lados, mas nada irritante demais. Já o nível de ruído era razoável, mas melhor que carros como o Gol G2-G4 ou Palio antigo.

Outra tragédia anunciada era a suspensão. Frágil, frágil, frágil. Depois de uma batida leve na lateral que danificou algumas partes da dita cuja, sofri com um barulho de chocalho vindo da suspensão direita por meses até que alguém apertou algum parafuso frouxo, finalmente.

Mas a suspensão era problemática sozinha, sem batida, e era objeto de reparo em todas as revisões. Uma pena, porque o 206 é absolutamente divertido de dirigir em estradas de terra.

Só que ruim mesmo era a assistência técnica. Aqui em Belém a única Peugeot fica fora da cidade, em Ananindeua (no centro só um showroom) – até a JAC Motors e a Chery, que acabaram de chegar, têm oficinas mais perto.

A Citroën, na mesma situação, se oferece para levar seu carro até a oficina igualmente longínqua, mas não a Peugeot, que nem transporte pra clientes possuía (o consultor me disse uma vez que andar de ônibus não era vergonhoso pra ninguém).

Fora isso havia os altos preços das peças. Pra ser honesto, coisas básicas como filtro de ar e pastilhas de freio nem eram caras. Saindo do básico era 500 paus por um volante (o meu descascou no quarto ano), 88 pilas por uma manopla de câmbio (a minha rachou e quebrou no quinto ano), 150 merréis pela alça de regulagem do encosto, 100 paus por cada difusor de ar (três quebraram lá pelos 50 mil km) e uma conta de 12 mil reais na quarta revisão, inflada à base de empurroterapia, que me recusei a pagar (eu o vendi por 11 mil).

A pior ocorrência foi em 2009, quando meu 206 parou, do nada, no meio da estrada. Depois de chamar o guincho de cima de um formigueiro (único lugar onde o celular pegava), ainda sofri de novo com o mesmo problema uma semana depois mesmo tendo levado na concessionária pra consertar e trocado a bomba de combustível.

A causa? Uma instalação desastrada do som teria causado curto no sistema elétrico, o que também ocorreu com meu Gol anterior a ele. Aí eu me pergunto: por que então, eu estando com as revisões em dia, isso não foi detectado antes pela concessionária?

Enfim, o Peugeot 206 era assim: um carro bonito e muito bom, trazido e mantido pelas mãos de gente pouco competente. Era um veículo prazeroso de dirigir e de viajar, mas preocupante tanto pela fragilidade de algumas peças (fruto de uma localização preguiçosa) quanto pela falta de confiança no pós-venda. Por isso, ao vê-lo ir, fiquei triste, mas aliviado.

Do 206 terei saudade. Da Peugeot, não.

Por Breno Peck

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Autor: Eber do Carmo

Fundador do Notícias Automotivas, com atuação por três décadas no segmento automotivo, tem 18 anos de experiência como jornalista automotivo no Notícias Automotivas, desde que criou o site em 2005. Anteriormente trabalhou em empresas automotivas, nos segmentos de personalização e áudio.