A evolução de potência dos motores 1.0 desde os anos 90

Motor Fiat Fiasa (Mille 1990)
Motor Fiat Fiasa (Mille 1990)

Em agosto de 1990, o governo brasileiro reduziu as alíquotas de IPI para um novo segmento no mercado de automóveis, o dos veículos com motorização entre 800 e 1.000 cm3. O percentual caiu de 40% para 20%.

A Fiat foi a primeira a reagir diante da novidade e em 60 dias apresentou o Mille, versão 1.0 do Uno com 48 cv e 7,4 kgfm. O modelo foi o primeiro da nova categoria que ainda não havia nascido, a dos chamados carros populares, que tinham como base o motor 1.0.

Até 1992, apenas o Fiat Mille existia com motor 1.0, mas agora surgia o Volkswagen Gol 1000 com seu motor AE (Ford CHT) de 50 cv e 7,3 kgfm. Logo em seguida apareceu a resposta da Fiat com o Mille Electronic 1992, com seu motor 1.0 de 56,1 cv, o “1.0” mais rápido do mundo na ocasião.

A GM partiu para o Chevrolet Chevette Junior, que teve o vetusto motor 1.6 reduzido para 1.0, entregando 50 cv e 7,2 kgfm. O Ford Escort Hobby só apareceu em 1993, igualmente com 50 cv, pois usava o mesmo propulsor do Gol.

Em fevereiro desse ano, o governo novamente mexe no mercado automotivo ao criar o programa do carro popular, que centrava-se no motor 1.0 e em um pacote básico. O IPI caía para apenas 0,1%.

Veja também: Carros com motor 1.0 mais fracos do Brasil

Motor GM OHV 1.0 (Chevette Junior)
Motor GM OHV 1.0 (Chevette Junior)

Briga por potência

A Fiat, por sua vez, viu a potência do Mille cair para 47 cv e 7,1 kgfm com o uso do catalisador. Em 1994, o Chevrolet Corsa substitui o Chevette e a versão Wind toma conta do lugar da Junior.

Ele tinha motor 1.0 8V com 50 cv, 7,7 kgfm e injeção eletrônica monoponto. Os Fiat Fiorino e Fiorino Pickup também passaram a usar o 1.0 de 56 cv.

Em 1995, o Gol 1000 Plus surge na segunda geração do modelo, mas mantendo os 50 cv do modelo “quadrado”. O Mille Electronic é substituído pelo Mille i.e, que vinha com injeção e alcançava 58 cv e 8,2 kgfm.

Esse ano também representou o fim do protocolo do popular, mas o motor 1.0 seguiu firme e forte.

O Palio nas versões ED e EDX chegava com motor 1.0 de 61 cv e injeção multiponto em 1996. O Ford Fiesta aparecia com o motor Endura-E 1.0 de 51,5 cv e entrava no páreo, ocupando o lugar que fora do Escort Hobby. Diante do “potente” Palio 1.0, a GM reagiu com o Corsa Wind Super e seu motor 1.0 de 60 cv e injeção multiponto.

Em 1997, o Gol Plus agora adotava o novo motor EA111 1.0 com 54,4 cv, mas a VW divulgou que era 62 cv, sendo essa a potência bruta e não líquida. Nesse ano, o Mille perdeu potência com o catalisador, baixando para 57 cv.

Motor Ford Zetec Rocam (Fiesta e Ka)
Motor Ford Zetec Rocam (Fiesta e Ka)

A VW novamente entra na briga pelo 1.0 mais potente com o EA111 16V, que entregava 69 cv e 9,3 kgfm. Era o primeiro do tipo no segmento. O Plus 16V chegada também à Parati. O Ford Ka surgia com um Endura-E mais potente, entregando 53,5 cv contra 51,5 cv do Fiesta.

O ano de 1998 foi relativamente tranquilo na já estabelecida guerra dos carros 1.0, agora definitivamente chamados de populares. No começo de 1999, a Ford aposenta o Endura-E e coloca no lugar o famoso Zetec Rocam 1.0 com 65 cv para o Fiesta e Ka.

Nessa ocasião, Siena e Palio Weekend já faziam uso do motor 1.0 de 61 cv, enquanto a GM apostava no 1.0 de 60 cv para o Corsa Sedan. Mas não demorou a aparecer o motor 1.0 mais potente da Chevrolet, com injeção sequencial, entregando 68 cv e 9,2 kgfm.

A americana voltava à briga. Os Corsa hatch, Sedan e Wagon usaram esse motor. O Clio aparecia com motor 1.0 8V na versão RN e tinha 59 cv.

Motor VW EA111 16V Turbo (Gol e Parati)
Motor VW EA111 16V Turbo (Gol e Parati)

Primeiro downsizing

Com a geração III, Gol e Parati ganhavam um novo impulso com mais uma redução do IPI para motores até 1.0, uma versão 16V Turbo. Foi o primeiro motor 1.0 turbinado do país, que tinha inclusive comandos de válvulas de admissão variável e intercooler.

O “pai do TSI” entregava incríveis 112 cv (o mesmo de um AP 2.0, por exemplo) e 15,8 kgfm a 2.000 rpm. A performance era surpreendente. Até hoje, muitos ficam impressionados com esses números.

Sem ousar tanto, a Fiat lançava o Fire 1.0 com 8V ou 16V, entregando 55 e 70 cv, respectivamente. Mille, Palio e derivados se beneficiaram do propulsor mais moderno. A GM lançava o Celta com motor 1.0 de 60 cv.

No ano de 2002, a GM retirou os 1.0 16V, mas o Novo Corsa chegava com um 1.0 8V de 71 cv. O Peugeot 206 chegou a ter motor 1.0 16V nessa época, compartilhado com a Renault e com 70 cv.

A Ford lançava nesse ano o Novo Fiesta e com ele o motor Zetec 1.0 Supercharged, que era equipado com um compressor volumétrico e entregava 95 cv. Na VW, o Polo chega com opção 1.0 16V de 79 cv, mas logo foi retirado de linha por conta da diferença de preço com o 1.6.

O Gol Power 1.0 16V passou a entregar 76 cv, ficando o 8V com 65 cv. O Clio 1.0 16V entregava 68 cv.

Ford Zetec Supercharger (Fiesta e EcoSport)
Ford Zetec Supercharger (Fiesta e EcoSport)

O Clio 1.0 16V passou a entregar 70 cv ante 68 cv anteriormente.

Em 2005, a Fiat elevava a potência do Fire 1.0 de 55 (exceto Mille) para 65/66 cv na versão Flex. O Gol Total Flex 1.0 passou a ter 65/68 cv, respectivamente com gasolina e etanol.

O Clio HiPower oferecia 76 cv ante os 70 cv das versões anteriores, mas depois surgiu o HiFlex com 77 cv.

Em 2006, o EA111 adota a nomenclatura VHT e entrega 72/76 cv. A GM elevou a potência do 1.0 para 78 cv com etanol, enquanto a Ford mantinha o Ka um pouco mais fraco que o Fiesta, cujos 71/73 cv davam conta do recado.

Motor Hyundai Kappa (HB20 e Picanto)
Motor Hyundai Kappa (HB20 e Picanto)

Segundo downsizing

A partir da segunda década do século 21, o motor 1.0 começou a evoluir novamente, iniciando um longo processo em termos de eficiência energética, o que resultou em redução de tamanho e emprego de mais tecnologia.

Cabeçotes de 16V e tecnologia Flex eram o que existia de mais moderno nesse segmento até 2012.

A barreira dos 80 cv (com etanol) foi quebrada pelo Renault Clio Campus 1.0 16V, estabelecendo assim uma nova meta de potência para o 1.0. A GM manteve 78 cv no Classic, mas com o Onix, o 1.0 SPE/4 atinge 80 cv.

A Fiat não entrou mais na briga por evolução no segmento 1.0, permanecendo com o Fire na faixa intermediária de potência entre 73 e 75 cv. O fim do Mille aposentou a versão de 65/66 cv.

O HB20 da Hyundai chegou com três cilindros, sendo o primeiro nacional com essa configuração e entregando até 80 cv (o mesmo do importado Kia Picanto). A Volkswagen lançou o novo EA211 com três cilindros, alcançando 82 cv. O mesmo foi feito pela Nissan com um 1.0 de três cilindros, mas com até 77 cv.

Motor VW EA211 R3 UP TSI
Motor VW EA211 R3 UP TSI

No entanto, foi o Novo Ka que estabeleceu um nível mais elevado, alcançando 85 cv com etanol em seu novo motor 1.0 de três cilindros. Com 80 cv na gasolina, ele era o mais potente 1.0 aspirado. A redução de cilindros se tornou uma missão para as marcas presentes nesse segmento.

Em 2015, o up! – até então com o 1.0 12V de até 82 cv – passa a dispor do novo EA211 1.0 TSI, que entrega 101/105 cv e 16,8 kgfm. O propulsor é o primeiro com injeção direta e turbo com tecnologia Flex. Também tem duplo comando de válvulas variável e intercooler.

Essa onda se espalhou por outras marcas posteriormente, com o próprio HB20 recebendo uma versão 1.0 turbo sem injeção direta com 98/105 cv e 15 kgfm de torque. O novo modelo elevou os números para 120 cv e 17,5 kgfm, em grande parte pelo uso da injeção direta.

O grande rival Onix foi outro que se aproveitou desse tipo de motorização, apresentando um motor de 1,0 litro turbinado com 116 cv e 16,8 kgfm de torque (ou 16,3 kgfm com gasolina), mas isso tudo com injeção multiponto.

A VW faz um extenso uso do seu motor 1.0 turbo de 116/128 cv e 20,4 kgfm de torque, conjunto que aparece nos modelos Polo, Virtus, Nivus e T-Cross. Essa potência com etanol foi, durante algum tempo, o máximo que você poderia ter por aqui.

Isso mudou recentemente, pois a Fiat apresentou o novo Pulse 2022 com seu novo propulsor 1.0 turbo de 125/130 cv e 20,4 kgfm de torque, se tornando o mais potente do segmento. Um grande avanço da marca em relação ao Mille de 1990 e seus 48 cv, não acha?

Até o momento, GM, Renault, Fiat e, em parte, a Volkswagen ainda mantém motores 1.0 com quatro cilindros, tanto com 8V quanto com 16V.

Dos 47 cv que um dia o Mille entregou no começo de sua carreira aos excelentes 112 cv do 1.0 16V Turbo dos Gol e Parati, o motor 1.0 nasceu humilde no Brasil e hoje dá uma aula de tecnologia com o mais recente TSI.

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Autor: Ricardo de Oliveira

Com experiência de 27 anos, há 16 anos trabalha como jornalista no Notícias Automotivas, escreve sobre as mais recentes novidades do setor, frequenta eventos de lançamentos das montadoras e faz testes e avaliações. Suas redes sociais: Instagram, Facebook, X