Pickups: a história no Brasil e no mundo (detalhes)

pickup truck

As “Pick-up Trucks” são os veículos mais vendidos por 5 décadas nos EUA. Atrás delas é que vem os sedãs e outros modelos. Qual será o segredo? E no Brasil, qual o cenário das picapes? Veremos.

Picapes nos EUA

Um pouco de história: As “Pick-up Trucks” são consideradas “The workhorse of America”. Numa tradução livre, para manter a força da expressão, seria o mesmo que dizer que são “O Burro de Carga da América”. Verdadeiras mulas, cavalos valentes.

Na realidade, praticamente substituíram cavalos, burros, mulas e carroças na civilização ianque. Para pequenos sitiantes e comerciantes, tornaram-se uma “mão-de-obra” fundamental.

Desde 1917, as 3 grandes (Ford, GM – com suas marcas Chevrolet e GMC e Chrysler com sua marca RAM (que era Dodge) competem fortemente neste mercado, que hoje conta com importantes competidoras japonesas.

A evolução no design das brutas as tornaram mais populares. De veículo de entrega e trabalho, passaram a atrair também as pessoas físicas. Diziam os CEOs dos anos 1900: “Não precisam ser bonitas, precisam ser fortes!”

Mas as coisas mudaram desde 1905, quando a Ford inaugura o segmento com sua Ford Delivery Car (Carro para Entregas).

Era mais um chassis adaptável que um carro propriamente, já que nesta época eram as oficinas de carroceria que se encarregavam de montar sobre o chassis a cabine e a carroceria de madeira. Esta poderia ser alta ou baixa e conter tela de arame conforme a utilização do comprador.

dodge kc 1935
Dodge KC 1935

A Dodge KC 35, de 1935, foi a primeira a pensar em design e integração de cabine e chassis em chapa de aço. Picape é hoje também um Estilo de Vida nos subúrbios americanos. Por que? A picape inspira esporte e lazer.

Nela cabe a bike, o triciclo, a barraca de camping, a Asa Delta e a jaula do São Bernardo. E até reboca trailers.

É versátil, carrega vasos, ferramentas, materiais para construção, lenha etc. Vem em cabines simples, estendida e dupla. Na América as preferidas são as estendidas. Na Tailândia também são bem admiradas.

As duplas ou “Quad Cabs” ficaram por muito tempo restritas para as extra-grandes 2500 e 3500. No Brasil a D20 correspondeu a uma 1500 com cabine dupla e inspirou as americanas. Tendência esta que foi reforçada pelas picapes japonesas médias como Mitsubishi L200, Mazda B2500, Nissan AX / DX e Toyota Hilux.

Oferecem Diversão: Motores com bom torque e potência, imponência e boa altura a tornam divertidas para todos os tipos de terreno. Mais: têm opção de tração 4×4 com reduzida e tudo.

Existem em vários tamanhos, de pequenas a extra-grandes (2500 e 3500). Sendo estas, paixões na América e na Austrália. Podem ser até trucadas (dois pneus no eixo traseiro).

As Smooth-Side ou Step-Side, com seus charmosos páralamas abaulados, surgiram na década de 1940. Algumas Silverado e Ranger (Splash) importadas ostentaram este charme no Brasil.

ranger splash amarela
Ranger Splash

Outras marcas tipicamente americanas menos conhecidas ou que não existem mais foram: Mack, Studebacker, Willys Overland (engolida pela Ford nos anos 80) e International.

Por volta de 1940, com as melhorias em termos de design e a disponibilização de opcionais como grade cromada e pneus com faixa branca, novos consumidores começaram a vê-las como carros de passeio.

Após a Segunda Guerra Mundial, com o boom econômico dos EUA, grande beneficiado com sua participação no conflito, as 3 Grandes intensificaram a disputa pelos consumidores das picapes.

Além de bons produtos, bom marketing e designs cada vez mais aprimorados se tornaram fundamentais para atrair o consumidor. Potência e torque também não foram deixados de lado.

E o coração delas e dos consumidores começaram a pulsar mais forte nos anos 50 com a chegada dos motores V8, que os emblemas faziam questão de anunciar.

Atualmente as Guerreiras Americanas são representadas por RAM, Linha F (250 350 450) e Silverado (1500 a 3500). Continuam com motor V8 – também V8 Turbodiesel no caso das duas últimas.

As Full Size nipônicas Toyota Tacoma T100, Nissan Titan e Honda Hidgeline fazem companhia às ocidentais das 3 Grandes. Porém investem menos no Diesel e não oferecem versões extrapesadas (F350 e Chevrolet HD 2500 e HD 3500).

Evolução do segmento e influência japonesa

Em 1958, Datsun (que hoje é Nissan) e Toyota começam a montar timidamente suas picapes em território americano. Como de praxe, eram menores e mais econômicas que as norte-americanas.

Pecavam pela capacidade de carga, de 250 a 300 Kg, problema que a Isuzu KB resolveu, nos anos 80, provando viabilidade comercial. Ademais eram robustas, baratas e confiáveis.

A Ford percebeu o movimento japonês, comprou 25% da Mazda e lançou sua Courier em 1980, uma Mazda com logo Ford. Em 1984 desenvolve, ainda em conjunto com a Mazda, a Ford Ranger.

chevrolet s10 1983
Chevrolet S10 1983

A S10 surgiu em 1981 nos EUA. A Dodge competia neste segmento com a D50, que se tornaria RAM 50 e seria precursora da Dakota.

Na década seguinte, as japonesas e americanas médias continuam firmes. Além de S10, Ranger e Dakota, Toyota Hilux, Nissan XE / SE, Mazda B4000 (versão da Ranger) e Mitsubishi Mighty (L200) conquistam definitivamente seu espaço.

Bichos estranhos

O segmento cresceu muito nos EUA e com isso picapes como Ford Ranchero e Chevrolet El Camino e Dodge Rampage, mais baixas e derivadas de automóveis, ganharam as ruas. Algumas picapes com cara e alma de veículo militar também serviram a nichos específicos.

Dodge Powerwagon (esta dos anos 50) e Hummer Picape (dos anos 2000, mas com receita similar) são exemplos.

ford econoline pickup 1963
Ford Econoline Pickup 1963

Outra estranha no ninho foi uma picape derivada da van grande Ford Econoline (com porte de Renault Master). Houve também picapes que eram verdadeiros esportivos com caçamba: Chevrolet Cyclone, Silverado 454 V8, com motor de Corvette e Dodge RAM 8.0 V10 com motor de Viper.

Com direito a faixas duplas, rodas 20 polegadas e aerofólio.

Quanto às customizações, não há limites: de simples pinturas com chamas à personalização em estilo DUB com suspensões a ar, passando por sistemas de som poderosos na parte interna. Até caçambas basculantes já foram feitas.

Sem esquecer as monstruosas Big Foot, altíssimas, com suspensões especiais e pneus de trator.

Pickups no Brasil

Por aqui, caminhonetes, camionetas ou picapes vinham através de importação, novas ou usadas. Nos anos 50, Ford, Chevrolet, Willys e Dodge começaram a produzí-las localmente.

ford f75 1974
Ford F75 1974

Respectivamente, vieram a Ford F75, a Chevrolet Brasil, saudosa “Marta Rocha”, a Picape Rural e sua e a Dodge D100, que veio um pouco mais tarde. Para nosso mercado somente esta última trazia um V8 debaixo do capô.

As demais traziam um seis cilindros em linha. Bons por sinal. E sempre movidos a gasolina.

Após 1975, devido à crise internacional do petróleo, motores grandes foram trocados por 4 cilindros em linha. E os Diesel 4 cilindros, ainda aspirados, também vieram. Nesta década os produtos da Ford e Chevrolet seguiram sua evolução.

A esta altura já era oferecida Ford F100, que um pouco depois seria F1000 e Chevrolet C14 e C15, posteriormente C10 e D10 (Diesel). A Veraneio fazia parte da família. E também uma interessante versão cabine dupla com 2 portas.

Um grande marco para as picapes brasileiras foi o lançamento da linha 20 da Chevrolet. Com mecânica confiável de 6 clindros a álcool (A20), 6 cilindros a gasolina (C20) e 4 cilindros a Diesel (D20), fizeram estrondoso sucesso por mais de uma década.

chevrolet d20 custom 1989
Chevrolet D20 Custom 1989

A Linha 20 foi sendo atualizada constantemente em termos mecânicos, sendo as mudanças mais profundas destinadas às versões com motores Diesel, que passaram a ser mais silenciosos quando fornecidos pela Maxxion, em versões aspirado e turbo.

Antes eram Perkins aspirados.

Curiosamente hoje, uma D20 em ótimo estado chega a valer mais que uma Silverado (a sucessora) mais nova, apesar desta ser mais moderna e oferecer motores turbinados MWM com seis cilindros em linha.

D20 e F1000 foram as rainhas da customização nos anos 1980 quando a importação de veículos era proibida. Os endinheirados da época adquiriam suas picapes transformadas por marcas como Brasinca, Demec, Engerauto, Envemo, Sidcar, SR (Souza Ramos), Sulam, Tropical e Walk.

toyota bandeirante picape
Toyota Bandeirante Picape

Outros modelos disponíveis foram as Toyota Bandeirantes e Kombi em versão picape. E a partir dos anos 1990, primeiramente importadas, vieram as Mitsubishi L200, Peugeot 504 GR e GRD Diesel, Toyota Hilux e Nissan AX / DX e Mazda B2200 e B2500, Ranger e SS10 feitas nos EUA.

Posteriormente Ford e Chevrolet decidiram lançar S10 e Ranger nacionais, inaugurando o que seria praticamente o padrão até hoje: picapes médias, turbodiesel com cabines simples ou dupla (estendidas não foram tão bem aceitas).

E a partir de 2005, o segmento se fortalece e se renova com a reformulada Hilux com motor turbodiesel, câmbio automático e características mais próximas as de automóveis de passeio. Vem aí as novas S10 e Ranger seguindo a mesma cartilha.

A Amarok veio em 2010 pelas mãos da VW. As primeiras médias chinesas nestes moldes acabam de chegar.

Quanto às pequenas, tiveram como precursora, nos anos 80, a Fiat City, devirada do Fiat 147. Ela inaugurou um nicho importante: o das picapes até 500 quilos derivadas de automóvel. Esta capacidade de carga correspondia à metade das grandes.

As picapinhas agradaram por ser bem menos volumosas para se rodar em centros urbanos. Hoje em dia, uma Courier, Montana, Strada e Peugeot Hoggar levan 750 quilos de carga e uma ou duas motos. Além de construtores e pequenos comerciantes, jovens as adoram.

E para finalizar, morre recentemente a linha F brasileira e argentina (250, 350 e 400). Mais devido às novas normas de emissão de poluentes Euro 5 que seu motor Cummins Turbodiesel não atende do que por conta de baixo volume de vendas.

“- Qual o tamanho ideal de uma picape?” Muitos já devem ter se perguntado.

Depende do uso e da necessidade, mas na minha opinião o tamanho ideal seria: maior que Saveiro e Montana e menor ou no máximo do tamanho da Ranger atual que tem cerca de 4.88 m de comprimento e 1,85 de largura, pois muita gente reside em prédios de apartamentos, cujas garagens são geralmente mal projetadas e apertadas.

As SS10 americanas de 1994 eram muito interessantes! Lamentavelmente as cabine simples estão virando carro de trabalho com seus ganchos aparentes, tampa sem chave e caçambas retas e pouco inspiradas.

Exemplos são Hilux, Amarok e Nova S10 nesta configuração.

E você leitor, já se deixou levar pelo charme das picapes? Vai de pequena, média ou grande? Usa a sua para trabalho ou lazer?

Abraço aos picapeiros – e futuros – de todo o Brasil!

Por Gerson Brusco Gonzalez

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Autor: Eber do Carmo

Fundador do Notícias Automotivas, com atuação por três décadas no segmento automotivo, tem 18 anos de experiência como jornalista automotivo no Notícias Automotivas, desde que criou o site em 2005. Anteriormente trabalhou em empresas automotivas, nos segmentos de personalização e áudio.