
Elas dominam ruas, avenidas e estacionamentos, mas nunca veem um canteiro de obras ou rebocam um trailer.
As picapes, antes símbolo de força e trabalho, hoje transitam com mais frequência pelos shoppings do que por estradas de terra. Uma tendência que revela mais sobre quem dirige esses veículos do que sobre sua capacidade real.
Ao contrário do que as propagandas alardeiam — sempre com cenários extremos de lama, reboque e aventuras — a maioria esmagadora dos donos de picapes não utiliza seus veículos para nenhuma dessas finalidades.
Uma pesquisa realizada pela Strategic Vision, que ouviu cerca de 250 mil compradores de carros, mostrou que 90% dos donos de picapes jamais usam o veículo para trabalho, reboque ou transporte profissional.
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Ainda assim, quase 40% afirmam dirigir suas caminhonetes apenas por prazer ao menos uma vez por semana.
Ou seja, as picapes deixaram de ser ferramentas e passaram a ser declarações pessoais.
Muitas vezes, elas não carregam nada no porta-malas nem puxam carretas, mas cumprem outro papel: reforçar a imagem de quem está ao volante.
O estudo divide os donos de picapes em quatro categorias: veículos com motorização alternativa, como os EVs da Rivian; modelos compactos como o Ford Maverick; picapes grandes, como a Ram 1500; e as pesadas, como a GMC Sierra 2500.
Curiosamente, os donos das picapes mais leves e modernas são os que mais relatam usá-las por lazer.
Nos modelos movidos a eletricidade ou híbridos, 63,8% dos motoristas usam a caçamba ao menos uma vez por mês.
Já entre os donos de picapes grandes, esse número é de 61,3%. O que chama atenção é que, mesmo entre as maiores e mais potentes, uma parte significativa dos motoristas nunca engata um reboque.
Quando se trata de rebocar, os dados revelam que 39% dos donos de EVs nunca o fazem, contra 32% dos donos de picapes grandes.
O número cresce quando analisamos os usos frequentes: 7,9% dos donos de picapes grandes rebocam semanalmente, frente a apenas 4,4% entre os eletrificados. Já nas pesadas, como era de se esperar, 12,2% dos motoristas usam esse recurso toda semana.
No entanto, 10% de todos os donos de picape jamais usam seus veículos como picapes.
Nada de carga, reboque ou uso fora de estrada. Na prática, têm um carro com cara de caminhonete — e talvez estivessem mais felizes ao volante de um SUV ou sedã.
Mas a relação com a picape vai além da função. Segundo Alexander Edwards, presidente da Strategic Vision, o vínculo é emocional: “Eles querem que o veículo represente quem desejam ser. Ao entrar na picape, se sentem mais confiantes, capazes e seguros.”
Essa busca por identidade sobre rodas levanta questões mais amplas, especialmente quando o tamanho dos veículos cresce sem que a necessidade acompanhe.
Estudo do IIHS (Instituto de Segurança Rodoviária dos EUA) aponta que veículos com capôs acima de 1 metro de altura aumentam em 45% o risco de morte para pedestres, em comparação com carros mais baixos.
Outro dado preocupante: o peso adicional das picapes não oferece mais segurança para quem dirige, mas pode ser fatal para os demais envolvidos em colisões.
Diante disso, fica o dilema: até que ponto é ético que as fabricantes promovam esse ideal de “super máquina” sem uso prático? Será que a publicidade de picapes não está moldando um mercado baseado mais na fantasia do que na função?
Enquanto isso, as ruas se enchem de caminhonetes que jamais verão um dia de trabalho pesado — mas seguem cumprindo um papel essencial: alimentar o imaginário de seus donos.
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