O ano era 1990. O Brasil já estava a 14 anos com as portas fechadas para o mundo, em termos econômicos. Sem poder importar produtos mais avançados, o país simplesmente entrou num período de estagnação onde existiam apenas as chamadas “Quatro Grandes” e mais alguns fabricantes de caminhões e ônibus, bem como tratores. A Gurgel era a única proposta nacional que remava contra a maré estabelecida em 1976, quando as aduanas foram fechadas.
Fernando Collor de Mello era o presidente e na primeira viagem que fez à Europa como tal, andou em um carro local e depois, na Suíça, fez um comentário que entrou para a história automotiva nacional: “os carros brasileiros são carroças”. Naquele momento, ele não só havia declarado o que todo mundo já sabia, mas também deu o primeiro passo para que a importação de veículos não fosse apenas o objetivo final, a indústria nacional deveria modernizar-se também.
Porém, enquanto a chamada Lei da Informática não era derrubada, o que aconteceu pouco tempo depois, a importação de veículos começava a passos lentos. Enquanto o mercado via surgir o carro “mil”, os primeiros carros desembarcavam no país para a alegria dos primeiros compradores, ricos em geral, pois eram exclusivos e caros. Além disso, se os portos já estavam abertos, os primeiros a chegar vieram voando.
A velocidade do avião representava também fielmente a vontade do consumidor brasileiro em adquirir produtos de tecnologia, algo impensável nos 14 anos anteriores. E isso foi expresso de forma clara, pois em 9 de maio de 1990, uma medida provisória do governo acabava com a proibição de importação de veículos no Brasil, um marco na história nacional. No mês seguinte, pouco mais de 30 dias depois, desembarcava no país um BMW 520i, o primeiro a chegar oficialmente depois de 14 anos.
Logo ele foi acompanhado por um Mercedes-Benz 300E, que chegou voando até o Rio de Janeiro, no mês seguinte, sendo o primeiro importado da ex-capital nacional. Apesar desses dois primeiros carros, o Brasil ainda tinha um grande impedimento para ampliar a importação, uma taxa de nada menos de 85% em II. Isso deixava qualquer carro barato no exterior, chegar aqui por custando um absurdo. Mas, não eram só empresários ousados que estavam interessados no novo filão.
Desde a Constituição de 1988, movimentos no sentido de derrubar as proibições de importação em diversos setores estavam sendo desenhados e a Fiat estava de olho nisso. Ainda em 1989, a marca italiana já antevia o que iria acontecer e por isso iniciou a preparação para a importação do Alfa Romeo 164, que chegou ao Brasil no final daquele intenso ano de 1990, mas com preço equivalente a astronômicos US$ 135 mil.
Rapidamente, as montadoras e os primeiros importadores se animaram após a derrubada oficial da proibição. Assim, a General Motors do Brasil foi aos EUA buscar a minivan Chevrolet Lumina. Sérgio Habib, da importadora XM, trouxe os primeiros exemplares do Citroën homônimo e também do ZX. Outros Mercedes-Benz chegaram oficialmente também, assim como Suzuki, Mitsubishi L200 e Volvo 900. Dá Suécia se aprontavam os carros da Saab, mas também via GMB.
Mas, a ainda soviética Lada ajudava a derrubar nosso muro com uma enxurrada de Samara, Niva e Laika, este com sedã e perua. Para esta marca, nem a barreira fiscal gigantesca era impedimento para as vendas, já que seus carros, vindos através do Panamá, chegavam com preços de carro popular no Brasil. Se o rico podia andar de Mercedes e BMW, o consumidor de baixo poder aquisitivo tinha a Lada como opção. Estimativas falam em cerca de 15,6 mil carros importados ainda em 1990, sendo que mais de 95% eram russos.
Então, como eram esses primeiros carros vendidos no Brasil? Selecionamos abaixo alguns dos modelos que (re) iniciaram as importações de automóveis no Brasil, contando um pouco sobre cada um deles. Foram modelos que, sem dúvidas, deram um ponta-pé inicial para formar o mercado que temos hoje, onde podemos adquirir livremente um carro importado, seja novo ou usado (não confundir com importação, mas sim aquisição no mercado nacional).
BMW 520i
A geração E34 começou em 1987 e durou até 1996. Foi dessa geração que chegou o primeiro carro importado ao Brasil desde 1976. Apesar da nomenclatura, seu motor era um seis cilindros em linha 2.0 com 148 cavalos e 19,3 kgfm. Ou seja, um motor grande, mas com pouca potência. Era o menor da gama de seis em linha da BMW. O câmbio era automático de quatro marchas.
Mercedes-Benz 300E
W124. Essa era a geração do primeiro importado que chegou ao Rio. O sedã da marca alemã era o predecessor da atual Classe E e durou de 1984 até 1997. O modelo tinha diversas opções de motor nessa época e não sabemos exatamente qual delas chegou a bordo do veículo, mas eram todos seis em linha 2.6 de 160 cavalos até o 3.0 de 188 cavalos.
Alfa Romeo 164
Custando a bagatela de US$ 135.000, foi o primeiro carro importado oficialmente por fabricante no Brasil. O Alfa Romeo 164 nasceu em 1987 e durou 10 anos na Europa, sendo um projeto que gerou o Lancia Thema, Fiat Croma e Saab 9000. Aqui, ele chegou com motor V6 3.0 de 192 cavalos e 25 kgfm. Ele podia ir de 0 a 100 km/h em 8,7 segundos e tinha máxima de 230 km/h.
Chevrolet Lumina APV
O Chevrolet Lumina era um conhecido sedã nos EUA, mas havia também uma minivan revolucionária em termos estéticos, que era chamada Lumina APV. Com tração dianteira, ela tinha apenas motores V6 3.1, 3.4 e 3.8, mas somente o primeiro que chegou ao Brasil, entregando 120 cavalos e 23,4 kgfm, mas seu câmbio automático tinha somente três marchas.
Citroën XM
O Citroën XM foi um dos símbolos da nova era de importações no Brasil. O luxuoso e sofisticado francês era revolucionário e empregava a famosa suspensão Hydractive. Assim como a Lumina APV, surgiu em 1989 e tinha uma suspensão hidropneumática com esferas contendo hidrogênio para nivelar e manter estável o veículo, mesmo em curvas. O motor V6 3.0 tinha 167 cavalos e o câmbio era automático com quatro marchas.
Suzuki Swift
O pequenino da marca japonesa desembarcou com motor 1.3 e também chegou a ter 1.0 de 53 cavalos, mas a sensação era a versão GTi com motor 1.3 de 101 cavalos, que podia fazer ir de 0 a 100 em 10,9 segundos e tinha máxima de 188 km/h. O sedã chegou posteriormente com motor 1.6 de 92 cavalos. O câmbio era manual de cinco marchas.
Mitsubishi L200
A picape japonesa chegou com motor diesel 2.5 turbo de 84 cavalos e 20,5 kgfm, tendo câmbio manual de cinco marchas e tração 4×4 com reduzida. Foi a primeira de muitas que chegaram a ser feitas no Brasil. Lançada em 1986, ela durou oficialmente 10 anos. A versão cabine dupla prosperou por aqui. Mais tarde, a geração seguinte seria fabricada no país até recentemente.
Volvo 960
O sedã de luxo sueco chegou em grade estilo para acabar com as compras de usados importados, comuns em embaixadas. Seu motor seis cilindros em linha 2.9 com 204 cavalos e 27,4 kgfm, capaz de faze-lo ir de 0 a 100 km/h em 9,3 segundos com máxima de 205 km/h. Quadradão, o modelo tinha câmbio automático de quatro marchas e preço elevadíssimo.
Lada Samara
A Lada chegou com força e quatro modelos, mas se três deles eram bem antiquados, lá dos anos 60 e 70, outro era mais moderno e atraente, o Samara. Seu projeto é dos anos 80 e era o mais atual da gama russa, que contava ainda com o clássico Laika (perua e sedã) e o Niva, um jipinho 4×4 com reduzida. Oferecido como hatch, o modelo tinha motor 1.5 de 72 cavalos com carburador. O motor 1.3 tinha 62 cavalos.
Era pequeno mas lembro de concessionarias lada, vi muito niva, muito suzuki, civic hatch, mazda mx3, Como seria bom ter um mercado mais aberto, infelizmente nosso mercado não esta maduro pra isso.