Na Fórmula 1, os pneus não são apenas um detalhe técnico — são os protagonistas silenciosos de todo o espetáculo.
Afinal, são eles que transmitem cada gota de potência, frenagem e aderência para o asfalto.
E como fornecedora única da categoria, a Pirelli carrega a responsabilidade (ou o privilégio) de fabricar pneus que precisam aguentar absurdos… mas se degradar no momento certo.
Porque, no fundo, o que se quer mesmo é emoção, e pneus duráveis demais não vendem drama.
À primeira vista, tudo parece simples: vermelho é o pneu macio, amarelo é o médio, branco é o duro.
Mas isso é só a casca. O que realmente define o desempenho dos pneus é um menu oculto que vai muito além das cores que o público vê na lateral.
Para 2025, a Pirelli disponibiliza seis compostos de pneus de pista seca, numerados de C1 (mais duro) a C6 (mais macio).
Mas em cada fim de semana, apenas três desses são escolhidos — e são rebatizados como Soft, Medium e Hard, de acordo com a ordem relativa entre eles.
Em outras palavras: o C3 pode ser o “macio” numa pista e virar o “duro” na outra. Confuso? Bem-vindo ao xadrez estratégico da F1.
O C1 e o C2 são os tanques de guerra da gama, ideais para circuitos que trituram borracha como Silverstone e Suzuka. O C3 é o coringa, usado em quase todas as etapas.
Já o C4 e o C5 são os grudentos e frágeis, perfeitos para traçados lentos e técnicos. Mas a estrela da confusão é o recém-chegado C6 — um composto supermacio que desaparece em poucas voltas, ideal para pistas de rua como Mônaco.
Ele não foi feito para durar, mas para gerar decisões arriscadas e pit stops extras.
Imagine isso: na Espanha, o C3 pode ser o pneu mais macio do fim de semana e vir com a faixa vermelha. Em Jeddah, esse mesmo C3 pode ser o mais duro e vir com faixa branca.
É assim que a Pirelli cria variações imprevisíveis a cada corrida. Para o GP da Bélgica, por exemplo, ela vai pular o C2 e levar C1, C3 e C4, criando um vácuo de desempenho entre os compostos e forçando escolhas ousadas das equipes.
Em vez de fornecer pneus, a Pirelli orquestra a corrida.
Quando chove, entram os pneus com sulcos, batizados de Cinturato. O verde (Intermediário) é para pista molhada ou secando, e consegue deslocar 10 galões de água por segundo — cerca de 40 litros por pneu a cada segundo.
Já o azul (Full Wet) é o monstro das chuvas pesadas, jogando 20 galões fora por segundo.
Só que esse poder todo gera um novo problema: a nuvem de spray que tira a visibilidade dos carros atrás, tornando ultrapassagens quase impossíveis.
A ironia é essa: na F1, até o que funciona bem demais vira problema.
E com os pneus, a lógica é invertida: quanto mais instável, melhor. Porque na guerra contra corridas previsíveis, a Pirelli é mais do que uma fornecedora — é roteirista e diretora do caos em alta velocidade.
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