Vamos falar sobre a história da VW Spacefox?
Bem, uma vez surgiu uma ideia diferente nas margens da rodovia Anchieta, próximo do Km 23, onde fica a sede da Volkswagen do Brasil, a primeira fábrica da montadora alemã fora de seu país de origem.
O projeto que ali tivera nascimento, surgiu escondido, oculto para que a chefia germânica não visse. Quando foi revelado, o comando de Wolfsburg disse não! Parecia o fim, mas havia simpatizantes poderosos para apoiar.
Então, com ajuda daqui e dali surgiu o projeto chamado Tupi foi em frente e chegou mesmo a ser finalizado ocultamente dentro da própria sede germânica da VW, onde agora se sabe que certas coisas podem passar despercebidas diante de alguns figurões do conselho de administração da empresa…
E foi assim, após uma manobra impensável, que o Fox surgiu em 2003. Quando ficou pronto, encantou a diretoria, que deu o sinal verde.
O hatch altinho, antes mal visto pela direção, agora não só estava sendo exportado para a Europa, mas também influenciara o Golf, que pela primeira vez em sua longa história ganhou uma versão que mescla seu “hatchismo” com a proposta de um monovolume, como era o Fox.
Assim, nasceu o Golf Plus e a filial brasileira calou a boca de alguns alemães… A partir daí, a ideia do compacto parecia boa demais para ficar só no hatch.
Índice
Spacefox
A ideia da Volkswagen do Brasil agora era outra, criar um compacto que desse esportividade à um monovolume. Daí surgiu o termo “sportvan”, ou seja, uma minivan com caráter esportivo, descolado, jovial.
Como o espaço interno era um dos focos do modelo, então a junção de várias propostas acabou na VW Spacefox, nome do novo produto para o Brasil. Ou seja, um Fox com mais espaço, uma opção mais familiar.
Mas, o nome não foi unanimidade fora da filial brasileira. Os argentinos preferiram algo diferente e assim nasceu a Suran para eles. Aliás, eles tinham parte da primazia, já que a produção não se daria em São José dos Pinhais-PR, onde o Fox era feito, mas em General Pacheco, região metropolitana de Buenos Aires.
Porém, a questão do nome tinha agravantes maiores no México. Lá o Fox era chamado Lupo, mas por uma questão política, devido a presença do presidente Vicente Fox, que governava o país na ocasião. Então, se não podia Fox, muito menos Spacefox. Daí, a VW decidiu chama-la de Sportvan, exatamente a definição do produto para a empresa. E como ela surgiu?
Assim como o Fox, a VW Spacefox surgiu sobre a plataforma PQ24 modificada. O projeto contemplou ampliar a traseira para que o espaço para bagagens pudesse aumentar consideravelmente, mas por causa da preocupação em mante-la como uma minivan, ela não cresceu tanto quanto se esperava, afinal, existia ainda uma familiar compacta dentro da gama Volkswagen e essa era a Parati.
Porém, ambas tinham o mesmo porte, sendo que a Parati media 4,186 m de comprimento e a Spacefox exatos 4,180 m. Na largura, o novo modelo tinha 1,660 m contra 1,652 m da veterana. No entre-eixos, a derivada do Fox tinha 2,464 m ante 2,470 m da familiar do Gol. Entretanto, a grande diferença residia na altura, já que se a Parati tinha apenas 1,419 m, a Spacefox tinha nada menos que 1,576 m.
Essa discrepância de quase 16 cm era crucial para a habitabilidade na Spacefox que ainda rendia 430 litros no porta-malas contra 437 litros da Parati. Ou seja, apesar da perda de 7 litros, o habitáculo era enormemente maior e melhor no monovolume.
Como a VW nunca teve uma minivan por aqui e a cultura da Parati durou décadas, o produto novo chegou mais parecida com uma perua “altinha” do que propriamente uma minivan. Tanto é que todas as classificações relativas ao produto se referem como sendo uma “perua”.
Detalhes da altinha
A VW Spacefox compartilha muitos elementos com o Fox desde então. Na época de seu lançamento, mantinha a mesma frente com faróis compactos monoparabolas, grade em estilo “meia lua” e para-choque com base preta retilínea, onde ficavam os faróis de neblina. O layout era bem limpo e baixo, criando um aspecto aerodinâmico e fluído.
Por causa da altura, a área envidraçada era bem grande e dava ampla visão do exterior para quem estava dentro. Sem inovações de estilo que saíssem da influência da extinta escola Bauhaus, que moldou o design alemão no século 20, a VW Spacefox se manteve bem conservadora e focada na funcionalidade.
Então, como uma boa alemã, era limpa e prática. No teto alto, barras longitudinais.
Na traseira, o visual de lanternas circulares dentro de um corpo quase retangulares era a moda de estilo da VW na época. Eram lentes grandes para destacar bem a perua. Num primeiro olhar, o conjunto lembra bastante o segundo SUV da marca, o Tiguan, nascido poucos anos depois. As rodas de liga leve também não eram chamativas, mas agradavam pela estética funcional.
Por dentro, a VW Spacefox apresentava o mesmo padrão retilíneo do painel e a compactação da instrumentação. Para ganhar em conforto e aumentar a posição de dirigir, os bancos foram elevados e os assentos dianteiros ganharam espuma extra para manter as pernas apoiadas.
Abaixo do banco do condutor, uma gaveta muito prática para guardar objetos pessoais. O banco traseiro apresentava um sistema de deslizamento que permitia ampliar o bagageiro.
Razoavelmente equipada, a perua sofreu muitos anos com a política de opcionais da VW e a pouca preocupação da indústria com a segurança, tendo airbags frontais como opção por muitos anos até 2013.
Ar-condicionado, direção hidráulica, trio elétrico, freios com ABS, sistema de áudio, rodas de liga leve, faróis de neblina, entre outros, eram itens que poderiam ser adquiridos conforto a preferência ou o bolso do consumidor. Era oferecida em duas versões.
Na parte mecânica, manteve o conjunto motriz do Fox (confira aqui FoxMPV, SpaceFox ou GrandFox?), mas apenas com motor EA111 1.6 8V e já com tecnologia Flex, entregando 101 cavalos na gasolina e 103 cavalos no etanol, ambos a 5.750 rpm. O torque era de 14,3 e 14,5 kgfm a 3.250 rpm, respectivamente.
O câmbio era manual de cinco marchas e com peso de 1.095 kg, ia de 0 a 100 km/h em 10,8 segundos com máxima de 175 km/h, nada mau. Fazendo 12,3 km/l na estrada, seu tanque de 50 litros podia garantir teoricamente 615 km, mas com gasolina.
Nos anos seguintes ao lançamento, a VW Spacefox teve a gama ampliada, passando a dispor da versão Sportline, com um apelo mais agressivo, além da série especial Route em 2009, que era focada no público jovem do Brasil. Pouco antes, a Volkswagen lançara uma atualização do motor EA111, que passou a ser chamado de VHT. Com isso, a potência no etanol pulou para 104 cavalos a 5.250 rpm, mas o principal ganho foi em torque.
O 1.6 VHT passou a dispor de 15,4 kgfm na gasolina e 15,6 kgfm no etanol, mas ao invés de 3.250 rpm da versão anterior, o propulsor agora tinha pico máximo de força a apenas 2.500 rpm, o que sem dúvida era um avanço significativo em termos de performance e economia.
Era como se o EA111 passasse a ser um EA113, que era o motor 2.0 8V vigente na época, ainda equipando modelos como Golf e Bora, por exemplo.
Mas mesmo assim, a VW Spacefox não evoluiu em performance, indo de 0 a 100 km/h em 11,1 segundos com máxima de 176 km/h. Em termos de eficiência, pouco mudou, fazendo na estrada somente 12,4 km/l.
Numa época em que o câmbio automático ainda era artigo de luxo, a Volkswagen decidiu seguir os caminhos da Fiat e adotou o câmbio automatizado ASG, que em realidade era o mesmo sistema acionador usado pela marca italiana, já conhecido como Dualogic.
A VW tratou de chamar a versão de I-Motion e este dispositivo permitia a mudança de marchas de forma automatizada, feitas sobre a caixa mecânica MQ-200. O sistema acionador eletro-mecânico também garantia mudanças de marchas na alavanca ou volante, através de paddle shifts, um requinte a mais para amenizar as críticas em relação ao funcionamento desse tipo de câmbio. A Volkswagen nunca equipou nem Spacefox e muito menos o irmão Fox com transmissão automática verdadeira, o que foi um erro.
Em 2010 o modelo um facelift leve, quando adotou faróis duplos e lanternas repaginadas, revisados em 2015. Por dentro, o painel deixou de ser compacto em instrumentação para oferecer um conjunto completo de mostradores no padrão de outros modelos da VW.
O conjunto ficou mais volumoso e sofisticado, parecido com o do Golf, por exemplo. O volante também passou a ser novo e multifuncional.
Space Cross
Dois anos depois de receber atualização de motor e leves retoques visuais, a SpaceFox ganhou uma versão aventureira, a exemplo do CrossFox, que era um equivalente do Fox. Lançada em 2011, o alvo da perua era combater a bem-sucedida Palio Weekend Adventure, que realmente inaugurou essa proposta e liderava as vendas de forma absoluta.
A Volkswagen Space Cross tinha como diferencial suspensão mais elevada, calibragem de molas e amortecedores revista e rodas de liga leve exclusivas.
Além disso, a Space Cross vinha com para-choque dianteiro diferente, semelhante em aspecto ao da Saveiro Cross e do CrossFox, tendo ainda grade diferenciada e grandes faróis de neblina. O protetor central em cinza também reforçava a proposta off road do modelo.
Saias de rodas, protetores das portas e soleiras exclusivas faziam parte do pacote da Space Cross, que também vinha com para-choque traseiro reforçado e barras longitudinais no teto. Por dentro, poucos itens a diferenciavam das demais versões.
Na mecânica, a perua altinha para o fora de estrada vinha com o motor 1.6 VHT e também com a opção de câmbio automatizado ASG na versão I-Motion, que também oferecia paddle shifts e modo Sport.
Como tinha um bom torque em baixas rotações, suspensão elevada e mais robusta, a Volkswagen Space Cross era uma opção interessante para quem ia ao campo sem regularidade, levando ainda um bom espaço para cinco ocupantes e mais 430 litros de bagagem.
Mas, apesar de ser apenas uma versão em separado, a VW insistiu em vende-la como outro carro, assim como o CrossFox, o que levou até a Fenabrave à cometer o mesmo erro no registro de emplacamentos.
Assim, a Spacefox com a Space Cross apenas seguiu o cronologia das peruas nacionais compactas, que migraram do familiar e urbano para a aventura e o fora de estrada. Mas, as coisas ainda iriam mudar para as duas, ou melhor, a perua derivada do Fox na linha 2016.
Nesse ano, a Volkswagen fez o último esforço para que o produto continuasse em evidência no mercado de peruas do Brasil, pouco antes de mudanças estratégicas que sentenciariam vários modelos da gama nacional.
SpaceFox com motor MSI e outras novidades
Em 2015, a Volkswagen promoveu uma grande mudança de estilo e proposta para a Spacefox e derivados. A perua passou a adotar um visual mais próximo do Golf, com projetores quadrados e cromados nos faróis, grade revisada e para-choque inspirado no hatch médio. As lanternas traseira também vieram com design mais sofisticado, imitando LED.
Na versão aventureira, as mudanças foram mais profundas na frente. O para-choque ficou mais quadradão e adotando faróis de neblina de mesmo perfil, além do nome Space Cross na grade.
Por dentro, o acabamento foi revisado e o volante passou a ser o mesmo do Golf, além da multimídia Discover Media com Google Android Auto, Apple Car Play, MirrorLink, navegador GPS, câmera de ré, hot spot Wi-Fi, Bluetooth, entre outros.
A padronagem dos assentos também mudou a oferecia opções de cores. Teto solar elétrico, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, entre outros, faziam parte do pacote.
Mas, a Spacefox era bem reforçada em proposta de segurança, tendo controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa e bloqueio eletrônico do diferencial, itens que já estavam presentes na picape Saveiro Cross. Porém, o grande diferencial foi a introdução do motor EA211 pela primeira vez.
Esse motor era diferente do EA111 por dispor de duplo comando de válvulas no cabeçote, coletor escape integrado e tecnologia flex sem o uso de tanquinho, entre outras coisas novas.
Com tudo isso, o EA211 1.6 16V entregava 110 cavalos na gasolina e 120 cavalos no etanol, ambos a 5.750 rpm e 15,8/16,8 kgfm a 4.000 rpm, respectivamente. Apesar de ter torque em giro mais alto, contra os 2.500 rpm do EA111, o novo motor deu um gás a mais para a perua, mas só era oferecido nas versões Highline e na Space Cross.
Junto com ele, um câmbio manual de seis marchas, que permitia ao modelo ir de 0 a 100 km/h em 10,1 segundos com máxima de 191 km/h. O consumo era de 10,7/12,1 km/l na estrada e 7,5/8,5 km/l na cidade, respectivamente com etanol e gasolina.
Mas não era somente isso, a direção passou a ser elétrica. Na Space Cross, havia ainda o controle de descida e a função Off Road no controle de estabilidade, permitindo mais liberdade para derrapar as rodas em areia e cascalho.
Nas versões Trendline e Comfortline, a Spacefox continuou com o bom e velho EA111 1.6 de 8V, mas a VW nomeou ambos como MSI, sem uma diferencial, pois na época se imaginava que o mais antigo sairia de linha logo, o que não aconteceu até hoje. No ápice de seu desenvolvimento como produto, a VW Spacefox ainda tinha defeitos graves (veja aqui Spacefox – defeitos e problemas) e imperdoáveis.
Um deles era a manutenção do câmbio automatizado na versão I-Motion, que simplesmente matava a performance do novo motor EA211 e ainda mantinha as cinco marchas anteriores.
Outro ponto que a perua falhou foi em não oferecer airbags laterais e nem de cortina, o que ajudaria mais na segurança. De resto, para sua proposta, ela estava até que bem servida, se pensarmos em como era o portfólio da marca naquela época.
SpaceFox: Fim de carreira
Nos últimos anos, para fins de ajuste na produção, a VW Spacefox chegou a ser parcialmente montada em São José dos Pinhais-PR, mas voltou-se completamente para a planta argentina de General Pacheco.
Dois anos após ter recebido importantes mudanças, a Volkswagen simplesmente cortou versões e encerrou a carreira da Space Cross, que na ocasião era um dos compactos mais caros do Brasil quando completo.
Com a redução da oferta, o motor EA211 foi embora e apenas o EA111 1.6 de até 104 cavalos foi mantido na versão Trendline, a única que sobrou, mas com opção de câmbio automatizado, algo que ela deve levar consigo até a última unidade argentina, infelizmente. Embora ainda esteja em produção, a simplificação da gama é um recado bem dado ao mercado: “logo ela sai de cena, mas vocês terão outra opção”.
Sim, nesse caso será o crossover T-Cross, que deve cumprir o que o mercado manda. Com a queda nas vendas de peruas, a Volkswagen Spacefox em breve dirá adeus, já que seu sucessor será um produto mais descolado e antenado com a preferência do consumidor, que quer um carro mais alto, robusto e seguro.
Com vendas mensais em pouco mais de 400 unidades, ela ainda briga com a também quase finada Weekend, que emplaca quase o mesmo.
Desde seu lançamento, a Spacefox tem sido um produto que tem boa aceitação no mercado e ajudou a preservar as famílias que ficaram órfãs da Parati, a clássica perua nacional. Sem ela, a rival Fiat teria abraçado todas elas.
Além disso, mostrou as capacidades do Fox de gerar uma família maior e também cumpriu sua missão de ser um carro de referência no país vizinho, a Argentina, onde é muito mais popular que aqui.