Veículos de imprensa sempre recebem produtos de marcas dos seus respectivos segmentos, para testes.
Um site de tecnologia recebe celulares e notebooks que acabaram de ser lançados, para efetuar suas impressões e reviews, assim como um canal de Youtube que fala sobre sistemas de monitoramento, recebe também câmeras e produtos de casa inteligente para seus testes.
Mas, como funciona o processo todo quando o produto a ser analisado é tão grande e caro como um carro? Será que sites automotivos, ou canais de vídeos sobre carros também recebem carros caríssimos, como um Porsche 911?
Vou explicar aqui como tudo funciona:
Existe uma grande diferença entre conseguir um carro para empréstimo com uma montadora do que pegar um carro brevemente com uma concessionária.
Hoje, com a grande profusão de "youtubers" fazendo avaliações de carros, é lógico que não serão todos eles que irão conseguir um empréstimo com a marca em si.
Aí, o que a maioria deles faz é pegar o carro com uma concessionária. Geralmente se trata de um carro de test-drive, o que pode ser comprovado pelos adesivos na lataria, com o nome da loja ou com alguma inscrição a respeito do carro.
Vídeos ou textos onde o autor agradece a concessionária X por fornecer o carro são esses.
O ruim é que carro de test-drive vai ser emprestado por um período curtíssimo, geralmente apenas um dia, ou no máximo do final da tarde de sábado até a segunda-feira de manhã, afinal, o carro precisará voltar a ser usado como carro de test-drive em horário comercial.
Existem marcas no Brasil que não tem frotas regulares, elas podem ter um veículo à disposição este mês, e depois passar, por exemplo, dois meses sem nada disponível.
Creio que a grande maioria dos sites, canais ou influenciadores automotivos precisam entrar em contato com as montadoras, ao invés de ter a sorte de ser contactado inicialmente por eles.
Aqui no Notícias Automotivas, avaliamos carros cedidos diretamente pelas marcas desde o ano de 2010, quando fomos agraciados inicialmente com um Honda City.
A logística era tenebrosa, visto que os carros eram retirados na cidade de São Paulo, e a cidade em que eu morava ficava a 200 quilômetros de lá.
Voltando à "conquista" inicial da marca, quando seu site ou canal atinge um tamanho considerável, seus emails ou mensagens serão respondidos por alguém do departamento de imprensa daquela montadora.
Quando um novo modelo é lançado no país, existe uma certa ordem das bicadas, para as marcas decidirem para quem emprestarão primeiro os carros.
É claro que os primeiros agraciados são as duas grandes revistas automotivas do país. Pode ser que elas tenham uma audiência menor na sua publicação mensal, do que alguns sites automotivos, mas a pompa vem de décadas, e continua assim.
Depois disso, o normal é que peguem os carros primeiro os grandes sites automotivos, como por exemplo, as áreas automotivas de grandes portais, como UOL, G1, R7, etc, e também grandes jornais, como Folha de São Paulo e o Estadão.
Em seguida, as marcas vão colocando os sites em ordem de importância para cada uma delas.
Algo que pode atrapalhar muito na demora é se o jornalista vive em uma cidade muito fora de mão. Existem estados que nem mesmo tem carros de imprensa disponíveis.
O grande centro de tudo é São Paulo, capital, é lógico.
O que mais existe no jornalismo automotivo, assim como em outras áreas do jornalismo, é a pessoa se mudar de sua cidade para lá, a fim de conseguir atuar mais livremente e rapidamente.
Vários eventos de lançamento são feitos por lá, e as frotas principais das marcas, também ficam localizadas lá.
Existe uma grande empresa que se especializou em cuidar dessas frotas de imprensa, então em uma mega instalação dela, bem perto de São Paulo, reúne a frota de praticamente todas as marcas.
Isso facilita aos jornalistas, pois se você pega um carro hoje, para devolver daqui uma semana, já consegue programar com alguma outra marca de pegar outro carro justamente naquele dia, entrando com um e saindo com o outro.
Várias outras capitais também tem frotas, mas elas são relegadas a um posto secundário.
Quanto menor a capital, ou mais distante de São Paulo, maior a chance de ser um local com pouquíssimos carros, ou até mesmo sem frota alguma.
Antes de tudo, é enviado um contrato de comodato, com páginas e mais páginas, assinado por diretores, gerentes ou representantes dos departamentos de imprensa, que deve ser assinado digitalmente pelo jornalista.
Sem esse contrato assinado é impossível pegar qualquer carro.
Nele, a comodante pode ser, por exemplo, FCA Fiat Chrysler Automóveis Brasil Ltda, localizada em Betim/MG, e o comodatário é a pessoa física que vai retirar o carro, representando o veículo de imprensa.
Ali, são listadas as obrigações de cada lado, especificando que o carro deverá ser usado apenas para fins de teste, avaliação, ou algo parecido.
Neste contrato, algumas empresas permitem a inserção do nome e documento de alguma outra pessoa do site, que também irá conduzir o veículo.
Viagens ao exterior são permitidas em algumas marcas, com as mesmas preparando toda a documentação para que o veículo possa passar tranquilamente pelas fronteiras.
Nestes casos, os carros tem até mesmo seguro com abrangência em outros países.
As frotas têm tamanhos muito variados.
Se a empresa tem veículos mais baratos, e ela também é muito grande e com uma grande participação no mercado brasileiro, a frota vai sempre ser maior.
Hoje em dia a Stellantis é um destaque. Tem uma frota bem ampla, e é mais fácil conseguir carros para avaliar com eles do que com outras marcas.
Me lembrei agora que no lançamento do JAC J3, em 2011, que aconteceu no hotel Royal Palm Plaza, em Campinas, com inclusive a participação do Faustão, existiam umas 30 unidades do hatch, o que me impressionou, pois fazia pouco tempo que eu frequentava este tipo de evento.
Depois de um lançamento, onde os jornalistas usam o carro bem brevemente, aqueles mesmos carros serão usados na frota de avaliação.
Já se o carro é muito caro, como é o caso de um Porsche 911, a frota é composta de pouquíssimas unidades, que são emprestadas a profissionais muito selecionados.
Isso também acontece se a marca tem menor participação de mercado, mesmo seus carros sendo modelos simples.
E a respeito de carros caríssimos, como uma Lamborghini ou Ferrari? Aí não é bem o caso de existir uma frota de imprensa, e sim apenas um ou dois carros, que, se emprestados, isso será feito rarissimamente.
O padrão dos empréstimos para avaliação é de 7 dias, com poucas exceções de marcas que emprestam por 4 ou 5 dias.
Mas, para carrões muito caros ou super esportivos, como o já citado Porsche 911, é geralmente de dois ou três dias.
Isso acontece porque aquele item é caríssimo e muito visado, e também para evitar que jornalista fique "pagando de gatão" passeando por aí com essas jóias, ao invés de apenas testar o veículo bem rapidamente.
Voltando a falar dos veículos comuns, você pode pedir para ficar mais tempo, se der um motivo específico para isso, como por exemplo, fazer uma viagem até a Argentina, e depois publicar sobre isso.
Mas se o carro tiver acabado de ser lançado, esqueça, eles não vão te dar um prazo maior, afinal, ainda existem muitos outros jornalistas na fila para os testes.
Já vi testes de 30 dias, e até de 60 dias, mas é raro ser liberado.
No período de festas de fim de ano, os carros são cedidos por períodos maiores, para alguns poucos sites ou canais.
Aqui mesmo no NA, na virada de 2024 para 2025, ficamos com três veículos, um C3 You, um Versa e também um T-Cross.
O carro é cedido por volta de 15 a 20 de dezembro, e você devolve entre 5 e 10 de janeiro, a depender de qual é o período de interrupção daquela montadora específica.
Além de não existir um limite de quilometragem que pode ser rodado, não, o combustível que é cedido (o carro sempre vem com o tanque cheio) não precisa ser devolvido.
E isso é um ótimo negócio para a montadora, pois com um gasto de 300 ou 400 reais, eles tem a divulgação em um veículo de imprensa que pode atingir dezenas de milhares de pessoas.
Você também não precisa lavar ou aspirar o carro, isso é feito pela própria montadora, ou se for em uma capital onde ela não tem instalações, existe uma concessionária que cuida dos carros.
Aí, sempre que você vai pegar ou devolver os carros, é naquela concessionária tal.
Na hora de pegar o carro, algumas marcas fazem um checklist bem extenso, anotando todos os danos, igual fazem oficinas mecânicas ou locadoras de veículos.
Em outras, o funcionário dá apenas uma olhada superficial e te libera o carro.
Como aquele modelo acabou de ser lançado, e, depois de participar do evento de lançamento, passou apenas nas mãos de alguns poucos jornalistas, a quilometragem é geralmente muito baixa, e o estado de conservação fica entre impecável e muito bom.
Já peguei carro com apenas 600 quilômetros, e no outro extremo já vi alguns poucos com mais de 10.000.
Mas a maioria fica naquela faixa de 3.000 até uns 6.000 ou 7.000 km.
Os carros são integralmente segurados, em um tipo de seguro diferente, que permite múltiplos condutores.
E aí acabam existindo várias situações onde eles são danificados, ou até mesmo roubados.
Há quase 10 anos atrás, um Jeep Renegade que estava em posse de um dos membros do NA foi levado por bandidos, que o abordaram em um local ermo, onde ele estava fazendo as fotos do carro.
Além de levarem a câmera Canon e o celular do motorista, o carro também se foi.
A Jeep foi avisada, e depois o carro foi encontrado, mas se não tivesse sido, não teria nenhuma consequência para nós, pois o seguro cobriria tudo.
Mas se você faz algo muito irresponsável com o carro, a marca vai arcar com os custos de reparo, só que depois nunca mais vai te emprestar carro algum.
Você pode muito bem ser colocado em uma espécie de lista negra dos empréstimos.
Todas elas são enviadas para o motorista que estava usando o carro naquele dia, mediante o contrato que foi assinado.
Tanto os pontos na carteira quanto o custo da multa são todos seus.
Existem alguns poucos casos de pessoas que sempre estão causando danos aos veículos de empréstimo.
Quando a atitude é assim, pode existir uma ou outra empresa que se recuse a emprestar carros para aquela pessoa em específico.
Isso mostra uma falta de respeito enorme não só com a montadora, mas também com os jornalistas que iriam pegar o carro logo em seguida, afinal, se ele chega danificado, a marca tem que cancelar todos os próximos empréstimos, durante alguns dias, para o consertar, e depois voltar a emprestar.
Nunca, nesses 15 anos em que pegamos carros para avaliação, alguma montadora exigiu que falássemos bem dos seus modelos.
Até porque a função da imprensa é informar o público e expor o que precisa ser exposto.
Eles correriam o risco de serem expostos em um editorial, por exemplo, aí o marketing negativo seria colossal.
É claro que isso não significa que todos podem fazer avaliações criticando muito pesadamente, passando do normal. Aqui mesmo no Brasil já existiram casos de veículos de imprensa serem proibidos de avaliar carros de uma marca, porque pegaram muito pesado nas críticas.
Aí, ou a pessoa se desculpa com eles e muda o tom, ou vai ter que pegar carros daquela marca em concessionárias pro resto da vida.
Até porque você pode criticar um produto sem ser mal educado, e sem "esculachar" o veículo ou a marca.
Pode ser que uma vez ou outra, você consiga fazer isso, com alguma marca ou outra, mas em várias delas, os funcionários procuram por artigos ou avaliações que você tenha feito a respeito daquele veículo, quer seja falando mal ou bem.
Ano passado mesmo, 2024, recebi um email de uma marca, dizendo que eles não encontraram a avaliação de um modelo específico.
Então tive que mandar o link para eles.
Tem dúvidas adicionais sobre isso tudo? Pergunte nos comentários que responderemos.
https://www.youtube.com/watch?v=PYj7M1qfc54
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