Os portos brasileiros estão recebendo milhares de carros chineses importados, mas a recepção longe de ser calorosa entre os trabalhadores locais.
Com a chegada do maior navio transportador de veículos do mundo ao terminal de Itajaí, em Santa Catarina, sindicatos industriais acenderam o sinal de alerta e agora pressionam o governo por medidas urgentes.
Para eles, a enxurrada de carros elétricos da BYD e de outras marcas chinesas representa uma ameaça direta aos empregos no setor automotivo nacional.
Lideranças sindicais acusam as montadoras estrangeiras de aproveitarem brechas tarifárias e incentivos temporários para despejar veículos no Brasil, sem oferecer contrapartidas concretas em geração de empregos ou desenvolvimento industrial.
Aroaldo da Silva, trabalhador da Mercedes-Benz e presidente da IndustriALL Brasil, foi categórico: “Outros países estão barrando os chineses. O Brasil não. A China está se aproveitando disso e o resultado é a perda de postos de trabalho por aqui”.
As promessas de fábricas nacionais, como a da BYD na Bahia, ainda não se concretizaram. Prevista inicialmente para operar em 2025, a unidade teve a produção adiada para dezembro de 2026 após denúncias de irregularidades no canteiro de obras.
Para os sindicatos, o atraso é apenas parte do problema. O mais grave é que, mesmo quando a planta estiver pronta, ainda não há sinal de contratos com fornecedores locais nem ações efetivas para desenvolver uma cadeia produtiva brasileira.
Enquanto isso, os carros continuam chegando. A BYD já enviou ao Brasil quatro grandes lotes só em 2025, totalizando cerca de 22 mil veículos, e lidera as vendas de elétricos no país.
Com mais de 80% de participação nesse nicho, os chineses vêm ganhando espaço num mercado ainda incipiente, mas que pode se consolidar rapidamente – e, segundo os sindicatos, às custas da indústria nacional.
Diante desse cenário, trabalhadores exigem que o governo Lula antecipe o aumento da tarifa de importação para veículos elétricos, prevista para chegar a 35% apenas em 2026.
Eles argumentam que a medida precisa ser acelerada para conter o que chamam de “invasão chinesa” e forçar as montadoras a investirem de fato no país.
A indústria local teme que, sem essa proteção, as fábricas brasileiras se tornem apenas depósitos de distribuição, com pouco valor agregado e poucos empregos de qualidade.
No momento em que o Brasil tenta se reposicionar como líder ambiental com a proximidade da COP30, o desafio será equilibrar sustentabilidade com proteção industrial.
E, se depender das vozes cada vez mais altas dos trabalhadores, o país precisará agir com mais firmeza – antes que os empregos desapareçam como fumaça no escapamento de um navio chinês carregado de carros elétricos.
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