
A transição para os carros elétricos parecia um caminho sem volta, e muitas montadoras embarcaram na ideia de que o futuro seria totalmente movido a bateria.
Mas, para a Dodge, esse futuro está se mostrando mais desafiador do que promissor. A prova disso é o desempenho decepcionante do novo Charger Daytona EV, que, ao contrário do que se esperava, não empolgou nem os entusiastas nem o mercado.
Lançado no final de 2023 com o objetivo de representar a nova era dos muscle cars elétricos, o Daytona eliminou completamente os motores V8 a combustão, apostando em um novo conceito de desempenho silencioso e instantâneo.
Mas o silêncio, ao que tudo indica, também chegou ao showroom: as vendas foram fracas no primeiro trimestre de 2025, a ponto de a Dodge oferecer um desconto nacional de US$ 6.500 em forma de bônus direto ao consumidor.

Só que a situação é ainda mais grave do que parece. Relatórios indicam que concessionárias já estavam oferecendo cortes bem mais profundos nos preços, mesmo antes do incentivo oficial.
Em um caso registrado em março, um Charger Daytona R/T 2025 com preço original de US$ 62.685 foi anunciado por US$ 39.945 — um desconto de quase US$ 23 mil. Em outro, um modelo de US$ 61.590 foi vendido por apenas US$ 36.932.
O recado do consumidor é claro: não adianta oferecer só potência se o carro não tem alma. E por mais que o Daytona seja rápido, ele não conseguiu preencher o vazio deixado pelo rugido inconfundível do motor Hemi V8.
Além disso, os preços altos — com versões que ultrapassam facilmente os US$ 70 mil, e em alguns casos, os US$ 100 mil — afastam o público que tradicionalmente comprava os Chargers e Challengers, dois ícones da marca.

Para piorar, a esperança de que a versão Sixpack (com motor a combustão, mas não V8) possa resgatar parte da herança está sendo adiada.
A fábrica de Windsor, no Canadá, onde o modelo seria produzido, teve operações suspensas devido ao impacto das tarifas de importação de 25% impostas por Donald Trump, o que deve atrasar ainda mais os planos.
A Dodge, ao que tudo indica, está repensando seu posicionamento. Rumores sugerem que a marca está cogitando adaptar a nova plataforma do Charger para receber novamente um motor Hemi V8.
Embora o projeto original não tenha sido concebido com essa configuração em mente, o clamor dos fãs pode forçar a Stellantis a buscar uma solução até 2026.

O caso do Charger Daytona EV é emblemático: mostra que o futuro elétrico ainda precisa ser moldado com mais sensibilidade às raízes e ao apelo emocional que modelos icônicos carregam.
Um muscle car sem barulho, sem cheiro de gasolina e sem o “peso histórico” de um V8, para muitos, é apenas um carro rápido — e isso, hoje em dia, qualquer EV pode oferecer.
A Dodge tem em mãos um dilema: ou encontra uma forma de conciliar inovação com tradição, ou corre o risco de se desconectar de seu público mais fiel.
A esperança agora está no retorno de um motor Hemi ou, quem sabe, numa versão eletrificada que consiga resgatar a emoção que sempre definiu um verdadeiro muscle car americano.

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