Entre os estrangeiros que vivem no Japão, poucos temas provocam tanta angústia quanto o desafio de conseguir uma carteira de motorista local.
Mais do que um documento, ela virou símbolo de prestígio — ou de humilhação.
A burocracia japonesa, já conhecida por sua rigidez, atinge níveis quase surreais quando o assunto é a conversão de habilitação estrangeira.
Enquanto alguns felizardos conseguem traduzir sua carteira por 4 mil ienes (cerca de R$ 130) e trocar por uma versão japonesa em um único dia, muitos outros enfrentam um verdadeiro pesadelo administrativo.
Veja também
O sistema é desigual: sul-coreanos, alemães ou suíços entram direto pela “porta 1”, sem necessidade de provas.
Já americanos, chineses, brasileiros e outros têm que enfrentar exames teóricos, testes práticos, filas intermináveis e um labirinto de exigências específicas — que variam dependendo do estado ou país de origem.
E pior: cada província japonesa adota regras próprias, o que torna o processo ainda mais imprevisível.
Em Tóquio, por exemplo, alguns centros exigem reservas online disputadíssimas. Um motorista australiano acampou às 4h da manhã perto do centro Komyoike para tentar uma vaga.
Outro, nos arredores de Osaka, ligou 400 vezes até conseguir ser atendido — com ajuda da esposa, usando dois telefones simultaneamente.
Mesmo com horário agendado, é comum perder meio dia ou mais no centro de habilitação.
Alguns relatam que esperaram até quatro horas apenas para verificar documentos, antes mesmo de marcar o teste prático — que, em certos casos, só acontece seis meses depois.
E quando chega o tão temido teste, a frustração só aumenta.
Não basta saber dirigir: é preciso memorizar a pista de prova, cumprir rituais como dizer “yoshi!” ao checar os espelhos e passar por avaliadores com olhos de águia.
Um simples erro, como não olhar embaixo do carro antes de entrar ou confundir o limpador de para-brisa com a seta, pode levar à reprovação imediata.
A espera por resultados também é agoniante.
Um motorista das Filipinas teve que esperar duas horas após o exame, sem saber se havia passado.
No fim, foi aprovado na terceira tentativa — mesma quantidade necessária para um americano que tentava validar sua carteira de moto em Konosu.
Há ainda quem denuncie diferenças no tratamento entre candidatos, com estrangeiros do sudeste asiático sendo tratados com frieza e impaciência, enquanto europeus ou australianos recebem atendimento mais cordial.
Em Hiroshima, um motorista de Virginia (EUA) ouviu de um examinador que “estrangeiros não deveriam dirigir no Japão”.
Curiosamente, outras histórias mostram o oposto: alguns estrangeiros relataram experiências rápidas, simples e até gentis, passando de primeira e sem grandes obstáculos.
Esse contraste alimenta a frustração dos que enfrentam longos meses — ou até anos — tentando cumprir todos os requisitos.
Um exemplo simbólico é o de uma motorista do Colorado que enfrentou todo o processo em 2023 e, dois meses depois, soube que seu estado havia firmado um acordo com o Japão, permitindo a troca direta da carteira. “Se eu tivesse esperado um pouco mais, não precisaria ter passado por nada disso”, comentou com humor resignado.
No fim, a única certeza é que não há atalhos.
Conseguir a carteira de motorista no Japão, para muitos estrangeiros, é menos uma questão de habilidade e mais uma prova de resistência, paciência e sorte.
E para quem ainda está na fila, só resta repetir: “Yoshi!” e seguir tentando.
[Fonte: Japan Times]
📨 Receba um email com as principais Notícias Automotivas do diaReceber emails
📲 Receba as notícias do Notícias Automotivas em tempo real!Entre agora em nossos canais e não perca nenhuma novidade:
Canal do WhatsAppCanal do Telegram
Siga nosso site no Google Notícias
