Em meio à turbulência provocada pelas novas tarifas de importação decretadas pela administração Trump, a Stellantis North America adotou uma abordagem mais conciliadora com seus fornecedores.
A montadora comunicou que está disposta a arcar com os custos das tarifas de 25% incidentes sobre peças importadas, desde que os fornecedores estejam tomando medidas para reduzir sua exposição ao impacto das taxas.
Segundo fontes ouvidas pela Crain’s Detroit Business, afiliada da Automotive News, a Stellantis está analisando pedidos de compensação tarifária caso a caso, mês a mês.
Embora não tenha comentado oficialmente sobre a iniciativa, a fabricante parece ter adotado uma política mais flexível do que suas rivais diretas. Ford e General Motors, por exemplo, ainda não definiram se irão repassar ou absorver esses custos, deixando fornecedores inseguros quanto ao futuro das parcerias contratuais.

A Stellantis, que recentemente anunciou a demissão temporária de quase mil funcionários nos Estados Unidos, também iniciou uma campanha de preços com desconto de funcionário para o público em geral.
A empresa estaria tentando conter os impactos financeiros gerados pelas novas tarifas, sem comprometer completamente sua rede de fornecedores.
As novas tarifas, que abrangem desde componentes de motores e transmissões até eletrônicos, bancos e para-brisas, começam a valer a partir de 3 de maio.
No entanto, peças que cumprem as exigências do USMCA (acordo de livre comércio entre EUA, México e Canadá) estão temporariamente isentas, até que o Departamento de Comércio estabeleça um sistema de verificação do conteúdo nacional.
A data para implementação desse sistema ainda não foi definida.

Os fornecedores interessados em receber o reembolso tarifário da Stellantis devem apresentar uma estratégia clara de mitigação, aceitar entrar em um plano de redução de custos e submeter seus pedidos à validação de uma terceira parte independente.
Apesar disso, a montadora não está revisando os pedidos de compra formalmente, o que evita implicações contratuais mais profundas.
Essa nova postura da Stellantis marca uma mudança significativa na forma como a empresa lida com seus fornecedores. A fabricante europeia, que tem sua sede norte-americana em Auburn Hills, Michigan, vinha sendo criticada por adotar políticas rigorosas de corte de custos.
Após a saída de Carlos Tavares da liderança global, promessas de um relacionamento mais colaborativo começaram a surgir, e essa medida pode ser vista como um reflexo dessa transição.
Do ponto de vista legal, ainda não há consenso sobre a responsabilidade contratual das tarifas. Segundo Daniel Rustmann, especialista em direito automotivo da Butzel, muitos contratos jogam a responsabilidade das tarifas nos ombros dos fornecedores.
No entanto, a magnitude dos aumentos de custo está levando as empresas a reagirem. “Neste caso, por serem tarifas tão significativas, os fornecedores estão se recusando quase que de forma unânime a aceitar esses custos sozinhos”, afirmou.
A preocupação maior das montadoras, segundo Rustmann, é evitar que uma posição inflexível leve fornecedores à falência, o que poderia interromper cadeias inteiras de produção.
Ao mesmo tempo, nenhum fornecedor quer ser visto como o responsável por paralisar uma linha de montagem. “Ninguém quer ser o primeiro a parar uma fábrica”, resume.
O impacto das tarifas também afetou o mercado financeiro. As ações da Stellantis caíram 5,35% nesta segunda-feira, fechando a US$ 9,20. No acumulado do ano, a empresa já perdeu cerca de 30% de seu valor de mercado.
Diante desse cenário, medidas que evitem rupturas na cadeia de suprimentos se tornam cada vez mais urgentes para garantir a estabilidade da produção e a continuidade dos negócios.

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