
A contrário aqui do Brasil, lá fora a Stellantis vive um momento turbulento.
A Chrysler só vende uma minivan, a Dodge amarga vendas baixas com seu novo muscle car elétrico, a Ram não empolga com o sucessor do Hemi, a Alfa Romeo perde espaço com uma linha envelhecida e planos elétricos que mudam a cada trimestre, e a Fiat não consegue emplacar o compacto 500 como carro elétrico.
No meio desse cenário nada animador, a divisão Abarth decidiu tentar algo que mistura saudosismo, exclusividade e uma pitada de desespero: lançar uma versão especialíssima de um carro que já havia sido aposentado.
Trata-se do Abarth 695 Club Italia, um tributo à tradição automotiva italiana feito sobre o antigo Fiat 500 a combustão — não o modelo elétrico atual.
Lembrando que a geração do Fiat 500 da qual estamos falando foi lançada em 2007. A nova geração apareceu em 2020, já fazem cinco anos.
A edição é limitada a apenas 8 unidades e será vendida exclusivamente para membros do seleto “Club Italia”, grupo fechado de entusiastas e colecionadores endinheirados.
A receita é conhecida: o mesmo motor 1.4 turbo com 180 cv do antigo 695, que acelera de 0 a 100 km/h em 6,7 segundos, agora com novo ajuste de suspensão, freios Brembo e um escapamento quádruplo que tenta justificar o apelo esportivo.
O visual traz pintura azul com teto verde e faixa vermelha — cores do Club Italia — rodas de 17 polegadas em bronze, retrovisores metálicos e uma dose generosa de logotipos por dentro e por fora.
No interior, o couro marrom nas poltronas tipo concha, o volante em Alcantara com marcador central personalizável e os detalhes costurados completam a proposta de luxo retrô.
O projeto é resultado de uma parceria entre a Abarth, a Fiat, o programa Stellantis Heritage e a iniciativa “Reloaded by Creators”, responsável por restaurar clássicos de marcas italianas e dar vida a séries limitadas sob medida.
A homenagem é bonita, mas revela também o desespero criativo de uma Stellantis que tenta se equilibrar entre um portfólio desatualizado e uma estratégia elétrica cambaleante.
A Fiat não conseguiu vender o novo 500e nos mercados estratégicos e já anunciou que vai relançá-lo como híbrido. Dodge e Chrysler mal conseguem renovar seus catálogos.
E a Ram enfrenta rejeição dos fãs com o novo motor seis cilindros que substitui o Hemi.
No meio desse cenário, a Abarth tenta se manter viva entre os entusiastas mais puristas — aqueles que ainda enxergam valor em uma série limitada, feita sob medida, e com visual vintage.
O problema é que essa fórmula parece cada vez mais voltada a um nicho bilionário e desconectado da realidade de um mercado que busca inovação, acessibilidade e, principalmente, novos produtos.
Roberto Giolito, chefe do Stellantis Heritage, tentou dar um tom poético à iniciativa.
“O Abarth 695 Club Italia é um tributo à cultura automotiva italiana e permite conectar-se com essa tradição emocionante”, disse.
Mas a verdade é que enquanto a Stellantis celebra o passado com carros para milionários, falta visão de futuro nas linhas de produção e nas concessionárias.
A pergunta que fica é: até quando a Stellantis vai sobreviver se continuar dependendo de releituras e edições comemorativas de um passado glorioso, mas distante?
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