
O novo diretor da EPA, Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, nomeado por Donald Trump, parece ter escolhido um inimigo inusitado para combater: a função start/stop dos carros modernos.
Em vez de mirar nos gigantes do petróleo, nas picapes gigantescas compradas por quem jamais vai usá-las para trabalho ou nos superesportivos beberrões, Lee Zeldin está de olho em uma das tecnologias mais simples e eficazes para economizar combustível e reduzir emissões de carbono, apesar de ser algo que a maioria dos motoristas odeia.
E isso levanta a pergunta: será que ele entendeu o que a EPA realmente deveria estar fazendo?
A função start/stop, adotada amplamente nos últimos 20 anos, desliga o motor do veículo quando ele está parado, geralmente em semáforos ou congestionamentos, e o religa assim que o motorista tira o pé do freio.
O objetivo é claro: reduzir o tempo de funcionamento do motor em marcha lenta, economizar combustível e, por consequência, emitir menos poluentes.
Mas segundo Zeldin, isso tudo é só um “troféu de participação climática”.
Start/stop technology: where your car dies at every red light so companies get a climate participation trophy. EPA approved it, and everyone hates it, so we’re fixing it. pic.twitter.com/zFhijMyHDe
— Lee Zeldin (@epaleezeldin) May 12, 2025
Em uma postagem feita na rede social X, ele declarou: “Tecnologia start/stop: quando seu carro morre a cada sinal vermelho só para a montadora ganhar um troféu de participação climática. A EPA aprovou isso, todo mundo odeia, então vamos corrigir.”
O problema é que o argumento não se sustenta nos dados, nem na realidade.
Estudos sérios e independentes, como os citados por Jason Fenske do canal Engineering Explained, demonstram que o sistema pode gerar uma economia real de combustível entre 4% e 8,7%, mesmo em tráfego moderado.
E o melhor: a economia já acontece em paradas de apenas 8 segundos. Ou seja, não é necessário estar preso por horas em um engarrafamento para que a tecnologia faça efeito.
Desde que a tecnologia começou a ser adotada, os sistemas evoluíram bastante, com motores de partida mais robustos e sistemas eletrônicos mais refinados.
Ainda assim, há quem critique o start/stop por desconfortos ocasionais — como o desligamento do ar-condicionado em dias quentes, por exemplo — mas isso é uma questão de ajustes técnicos, não de eficácia ambiental.
A fala de Zeldin evidencia não apenas um desconhecimento técnico sobre o tema, mas também uma postura ideológica voltada à desregulamentação ambiental.
Vale lembrar que ele não tem formação ou experiência em ciência ambiental, direito ambiental ou políticas públicas do setor, o que o torna uma exceção entre os ex-diretores da EPA — uma agência criada, ironicamente, por um presidente republicano, Richard Nixon, com a missão de proteger a saúde humana e o meio ambiente.
Enquanto isso, o foco da atual liderança parece se deslocar para temas de “conforto do motorista” e irritações pontuais, em vez de priorizar a missão da própria agência.
Em um momento em que os impactos das mudanças climáticas são cada vez mais evidentes, retroceder em tecnologias comprovadamente eficazes como o start/stop soa mais como um gesto político do que como uma política pública baseada em ciência.
Se o objetivo da EPA ainda for mesmo proteger o meio ambiente, como consta em sua missão, talvez atacar um sistema que comprovadamente reduz emissões e melhora o consumo de combustível não seja exatamente o melhor caminho.

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