À medida que os carros modernos se distanciam dos tradicionais sistemas mecânicos, fabricantes estão aproveitando para reinventar algo que parecia imutável: o câmbio.

Com a eliminação dos cabos físicos entre a alavanca e a transmissão, o ato de mudar de marcha virou um campo de experimentação estética e tecnológica, dando origem a soluções como botões, joysticks, esferas giratórias e até comandos por toque na tela.

Mas, ao contrário do que os departamentos de design esperavam, muitos motoristas estão frustrados.

Hoje, em vez da clássica alavanca PRNDL posicionada no console ou na coluna de direção, os motoristas encontram mecanismos que parecem saídos de filmes futuristas — e isso está confundindo muita gente.

Uma matéria do Wall Street Journal relatou diversos casos, como o de Linda Hoff, de 65 anos, que alugou um Nissan Rogue com um seletor estilo joystick e simplesmente não conseguiu sair da vaga de ré.

Mesmo sendo uma pessoa acostumada a alugar carros, ela precisou voltar à locadora para pedir ajuda. “Eu nem sabia como dirigir aquele carro. Tive que perguntar se havia algum truque.”

E esse tipo de confusão não é raro. Muitas montadoras defendem que os novos câmbios liberam espaço para mais porta-objetos, carregadores de celular e outros mimos no console, mas os consumidores destacam a falta de padronização como um grande problema.

Afinal, cada fabricante aposta em um tipo de sistema diferente, o que transforma uma tarefa simples — engatar uma marcha — em um pequeno quebra-cabeça.

Entre os exemplos mais polêmicos está a esfera de cristal do Genesis GV60, que gira 180 graus para revelar o seletor de marchas. Parece elegante no papel, mas na prática exige um vídeo explicativo de quase quatro minutos para entender como funciona.

E não é só complicado — pode até engolir seus pertences. Um dono relatou que um bilhete colado parcialmente sobre a esfera foi sugado pelo mecanismo ao desligar o carro. “Agora, toda vez que ligo ou desligo, escuto o papel lá dentro. Não dá mais pra ver.”

Modelos da Tesla e da Rivian também foram citados. O Model S Plaid usa comandos na tela para selecionar as marchas. Um dono se acostumou, mas sua esposa, sempre que usa o carro, fica perdida.

Já na Rivian, o mesmo comando que muda as marchas também ativa o controle de cruzeiro adaptativo, o que levou a confusões, como engatar a marcha errada acidentalmente — algo que a empresa corrigiu com uma atualização de software.

O cenário é claro: enquanto jovens mais familiarizados com tecnologia talvez não liguem tanto, o público geral, mais velho e acostumado com comandos tradicionais, sente-se desorientado.

Pode parecer nostalgia ou resistência à mudança, mas há uma questão de segurança e usabilidade em jogo. Como ironizou o autor da matéria original, talvez o problema não sejam os carros cada vez mais complexos — talvez seja você que está ficando velho.