Assim como fez a VW, a Ford acaba de abandonar um dos projetos mais ambiciosos de sua história recente

ford f 150 lariat 2025 impressoes (9)
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A Ford acaba de abandonar um dos projetos mais ambiciosos de sua história recente: o desenvolvimento de uma nova arquitetura elétrica e eletrônica que funcionaria como o “cérebro digital” da próxima geração de veículos da marca.

A plataforma, chamada internamente de FNV4, era vista como essencial para que a empresa competisse em pé de igualdade com nomes como Tesla e Rivian, oferecendo EVs mais eficientes, conectados e lucrativos.

No entanto, segundo reportagem da Reuters , o projeto foi encerrado por conta de custos crescentes e atrasos significativos no cronograma.

A decisão pode ter consequências profundas no desenvolvimento de futuros produtos da marca, como uma nova geração da picape elétrica F-150 Lightning.

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De acordo com fontes internas, a Ford já começou a comunicar discretamente alguns funcionários sobre o cancelamento do projeto, utilizando inclusive um vídeo interno para explicar os motivos por trás da mudança de direção.

O porta-voz da montadora confirmou à Reuters que a empresa está agora focada em melhorar sua arquitetura atual, aproveitando o que foi aprendido com o desenvolvimento da FNV4.

“Estamos comprometidos em entregar experiências de veículos totalmente conectados em toda a nossa linha, independentemente do tipo de motorização, enquanto muitos outros na indústria concentram a tecnologia mais avançada apenas nos modelos elétricos”, afirmou a empresa.

O problema é que, diferente das startups de mobilidade que começaram do zero com sistemas modernos e integrados, a Ford — como outras montadoras tradicionais — tem que lidar com uma colcha de retalhos tecnológica herdada de décadas de relacionamento com fornecedores.

ford maverick 2025 4
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Cada sistema, como bancos com ajuste elétrico, por exemplo, costuma vir com seu próprio módulo e software controlado pelo fornecedor, o que torna a integração entre os componentes um verdadeiro pesadelo.

O próprio CEO da Ford, Jim Farley, abordou essa dificuldade em seu podcast em 2023.

“Temos cerca de 150 módulos eletrônicos com semicondutores espalhados pelo carro. O problema é que o software desses módulos é escrito por 150 empresas diferentes e eles não conversam entre si. Então, mesmo que tenha o logotipo da Ford no carro, eu preciso pedir permissão para a Bosch para mudar o software de controle do banco”, revelou.

Essa realidade fragmentada tem sido um dos maiores obstáculos para montadoras tradicionais na corrida da digitalização automotiva.

A Volkswagen, por exemplo, também enfrentou problemas parecidos com sua divisão de software, a Cariad, que causou atrasos em projetos importantes como os veículos elétricos do Audi Artemis e do VW Trinity.

A situação foi tão crítica que a VW acabou firmando uma joint venture com a Rivian na tentativa de acelerar sua transição digital.

Na Ford, a decisão de abandonar o novo sistema FNV4 mostra uma guinada pragmática.

Em vez de insistir em uma arquitetura própria e cara, a empresa deve apostar no aperfeiçoamento de soluções já existentes — mesmo que isso limite, em parte, sua capacidade de oferecer atualizações por software mais sofisticadas e controle total dos recursos embarcados.

Em um mercado cada vez mais digital, essa escolha pode ser arriscada, mas também pode evitar mais prejuízos a curto prazo, num momento em que a Ford busca eficiência e rentabilidade em meio à desaceleração das vendas de EVs.


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Autor: Eber do Carmo

Fundador do Notícias Automotivas, com atuação por três décadas no segmento automotivo, tem 20 anos de experiência como jornalista automotivo no Notícias Automotivas, desde que criou o site em 2005. Anteriormente trabalhou em empresas automotivas, nos segmentos de personalização e áudio.