
A Aston Martin é uma das marcas mais icônicas do mundo automotivo, sinônimo de luxo, velocidade e — ao que tudo indica — prejuízo.
Um novo profit warning (alerta de lucro) divulgado nesta semana pela Aston Martin-Lagonda escancarou uma realidade desconfortável: a montadora continua pagando para que seus clientes comprem seus carros, literalmente.
Segundo dados levantados desde 2014, cada unidade vendida no atacado custou à Aston Martin, em média, mais de £45 mil de fluxo de caixa negativo.
Considerando as aproximadamente 62 mil unidades entregues nesse período, a conta da “generosidade” da montadora com seus compradores já chega a cerca de £2,8 bilhões em subsídios indiretos.
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Um luxo bancado por dívida e acionistas
Desde seu IPO em 2018 — que, aliás, não levantou capital novo — a empresa sobrevive à base de emissões de ações (quase £2 bilhões desde então) e emissão líquida de dívida de mais de £400 milhões.
O resultado: uma dívida líquida estimada em £1,3 bilhão no fim deste ano, ou quase oito vezes o EBITDA atual da empresa.
Boa parte desse rombo foi assumida por Lawrence Stroll, bilionário canadense que liderou o resgate da montadora em 2020, evitando sua provável falência.
Desde então, houve uma espécie de conversão informal de patrimônio em dívida e um redirecionamento estratégico que, até agora, ainda não trouxe retorno financeiro consistente.

As ações da Aston Martin acumulam uma queda de 96% desde a abertura de capital, e ainda assim, a empresa segue viva — sustentada, em grande parte, por seus acionistas majoritários e pela esperança de dias melhores.
E a sangria continua
De acordo com projeções do JPMorgan, banco que atua como house broker da montadora, a Aston Martin deve queimar mais £360 milhões em 2025 e outros £230 milhões no primeiro semestre de 2026.
Uma nova capitalização da ordem de £200 milhões já está sendo considerada para tapar o buraco no caixa até o fim de 2026.

Apesar de peculiaridades como a sazonalidade (a maioria das vendas se concentra no segundo semestre), a expectativa é que a queima de caixa desacelere no final de 2026.
Ainda assim, não há nenhuma meta de “break-even” no horizonte, nem indicações concretas de quando — ou se — a empresa voltará a dar lucro de forma sustentável.
O comunicado mais recente trouxe apenas um corte modesto em investimentos (capex) e uma promessa de reduzir custos administrativos, mas nenhum plano claro de reversão da situação.
A previsão mais otimista? Que 2026 seja um pouco menos pior do que 2025.

Uma montadora de luxo… para o consumidor
A ironia não passa despercebida: enquanto muitos consumidores sonham com o luxo de dirigir um Aston Martin, a empresa parece determinada a manter o privilégio acessível — pelo menos do ponto de vista financeiro.
Não por meio de descontos diretos, mas por uma operação que, na prática, entrega mais valor do que captura.
A empresa vende menos, gasta mais, toma dívidas, emite ações e continua oferecendo ao consumidor algo que nenhum concorrente de luxo entrega: um superesportivo financiado, em parte, pela própria fábrica.
Se depender do ritmo atual, comprar um Aston Martin segue sendo um excelente negócio — só não para quem investe na empresa.
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