
Por Thomaz de Castro
Baseado na reportagem (em inglês): https://www.hotcars.com/soviet-supercar-that-copied-cobra/
Quem diria que entre os anos de 1961 e 1962 o país de Stalin haveria uma resposta aos campeões europeus e americanos das corridas daquela época?
Até aqui, a imagem que tínhamos dos carros da ‘Cortina de Ferro’ era do foco em utilidade, durabilidade e simplicidade, mas a Zavod Imeni Likhacheva (ZIL), empresa estatal, usou seus recursos para criar um carro capaz de competir com carros campeões da Ford e da Ferrari.
A ZIL, famosa por fabricar limosines para autoridades do partido comunista, aproveitou o crescente interesse dos soviéticos por corridas automobilísticas e apresentou duas unidades do seu protótipo de concorrente do Cobra.
O engenheiro-chefe, Vitaly Grachev, havia ficado encarregado de demonstrar nas pistas que a URSS poderia competir em desempenho com carros e marcas lendárias do Ocidente.
Inicialmente apareceram desafios com a distribuição de peso no chassi, os freios e a durabilidade dos pneus, já que o objetivo era alcançar a maior velocidade máxima possível.
Porém, refinamentos e ajustes no desenho levaram a um carro com grande similaridade ao AC Cobra, um modelo que viria a ter uma reputação robusta nas pistas.
Nascia assim o ZIL-112S, um carro feito em fibra de vidro com motor V8 de 7.0 litros que despejava 270 cv nas rodas traseiras e tracionava suas mais de 1,2 toneladas, acompanhado de uma transmissão manual de 4 marchas.
Ao final, o modelo alcançou um impressionante equilíbrio entre potência e peso.
Voltado para as pistas, o carro foi construído sobre um chassi tubular do tipo spaceframe para reduzir o peso e melhorar a rigidez torcional.
A suspensão apresentava configurações independentes na dianteira e na traseira, enquanto os freios a disco ventilados nas quatro rodas proporcionavam um poder de frenagem impressionante, uma raridade nos veículos soviéticos da época.
Sua velocidade máxima declarada era de 273 km/h em condições ideais, embora em testes reais que ocorreram em clima desfavorável, foi certificado o alcance de 225 km/h, ainda assim uma marca notável para aquela época.
Para facilitar a dirigibilidade, os engenheiros instalaram um diferencial de deslizamento limitado fabricado pela própria ZIL e endureceram a suspensão para uso em corridas.
Embora o 112S possa ter inspirado elementos visuais do Cobra, sua engenharia o tornou um verdadeiro original soviético.
No interior, o cockpit oferecia dois bancos individuais, um painel simples com medidores analógicos e quatro pedais, sendo que o pedal extra acionava um freio de transmissão manual usado durante as provas, ajudando a gerenciar as cargas do sistema de transmissão e aumentando a durabilidade da embreagem.
O volante ficava próximo ao peito do piloto e a visibilidade permanecia limitada, reforçando seu design focado nas competições.
Ambas as duas unidades estão preservadas até hoje: uma está em exposição no Museu do Automóvel de Riga, na Letônia, o maior museu de veículos antigos dos Países Bálticos, enquanto a outra pertence a um colecionador particular na Suécia e permanece em grande parte escondido do público.
Por fim, O ZIL-112S introduziu tecnologias incomuns em carros soviéticos da época, o que marcou uma rara tentativa daquele país em construir uma máquina competitiva de alto desempenho, capaz de rivalizar com seus análogos ocidentais.
Mais do que uma raridade nas corridas, o ZIL-112S prova que, mesmo atrás da Cortina de Ferro onde o sistema priorizava a utilidade em detrimento da velocidade, os engenheiros buscavam inovação e desempenho de direção, entregando ao fim, uma máquina impressionante que precisa ser conhecida e lembrada.
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