Avaliação completa do Kia Sportage 2.0 2011: O estilo sempre cobra um preço

A cada geração, o Kia Sportage cresce e aparece. A versão original, trazida em 1993, tinha personalidade bem off-road, mas com desenho redondinho e acanhado. A segunda, importada a partir de 2005, ganhou porte, trazia algumas firulas no desenho, mas ainda mantinha um aspecto levemente aventureiro.

Já a terceira e atual geração é a maior de todas. Tanto em tamanho quanto em ousadia. O novo Sportage deixa evidente a nova orientação mercadológica da Kia, que tenta sofisticar sua imagem através de um design arrojado e original.

A linha de cintura é altíssima, as janelas, estreitas e colunas traseiras são bem largas. O aspecto é bem esportivo e robusto, embora tenha pouco a ver com modelos que costumam enfrentar lama.

Até agora, as vendas dessa nova geração do Sportage têm sido bastante tímidas. Desde o lançamento, em novembro, a média tem ficado em torno de 300 unidades mensais. A geração anterior conseguia comercializar exatamente o triplo disso, 900 unidades/mês.

A Kia justifica tal acanhamento pelo pequeno volume destinado ao Brasil pela matriz, na Coreia – situação que a empresa promete normalizar a partir de abril. Para o importador, com a importação regularizada, as vendas seriam de aproximadamente 2 mil unidades mensais.

Duas vezes o resultado da geração anterior. A proposta é conseguir, até dezembro, nada menos que 16 mil emplacamentos. Isso representaria 15% das 104 mil unidades que a Kia pretende vender em 2011. Coisa de 91% a mais que as 54,5 mil vendas de 2010.

O design do novo Kia Sportage evidencia a intenção de dar um ar mais sofisticado à marca. Mas a motorização definida para o mercado brasileiro deixa o utilitário muito comportado. O propulsor 2.0 16V com comando variável na admissão e no escape, rende 166 cv a 6.200 giros e 20,1 kgfm de torque a 4.600 rpm.

É o mesmo trem de força utilizado no Hyundai iX35, modelo com o qual divide plataforma e quase todos os recursos. Só que o modelo da Hyundai conta ainda com coletor de admissão variável, o que gera 2 cv a mais. Este propulsor dá uma mobilidade relativamente limitado ao modelo da Kia, que pesa mais de 1.500 kg – a relação peso/potência fica em pouco esportivas 9 kg/cv.

A opção por este motor tem a ver com os impostos, mais pesados nas motorizações superiores a dois litros. Mas, aparentemente, a Kia não conseguiu reduzir suficientemente os custos para tornar de seu modelo comercialmente atraente.

O valor inicial da nova geração do Sportage é 30% superior ao praticado no antigo modelo. A versão mais simples do SUV da Kia, com câmbio mecânico de 5 marchas, sai por R$ 83.900 – o anterior começava em R$ 64 mil.

Com câmbio automático de seis marchas, esta versão vai a R$ 87.900. E o preço do novo Sportage sobe consideravelmente, conforme se adiciona equipamentos, até chegar a R$ 105.900. E há muitos itens a adicionar.

O modelo básico vem apenas com o trivial para a categoria: trio, ar-condicionado, keyless, direção, rádio/CD com controle no volante, sensor de luminosidade e de obstáculos traseiro, airbags frontais e ABS.

A versão intermediária traz ainda ar dual zone, espelhos rebatíveis e com aquecimento, rodas de liga leve aro 18, ajustes elétricos para o banco do motorista, chave presencial com acionamento do motor por botão, revestimento em couro, piloto automático e controle de estabilidade e de tração. Esta configuração é vendida apenas com câmbio automático e é a única que pode receber o recurso de tração integral 4X4.

Com tração simples, dianteira, sai a R$ 97.900. A tração integral acrescenta mais R$ 5.500 ao preço. Por R$ 8 mil a mais que a 4X2, a versão top agrega apenas teto solar panorâmico, airbags laterais e de cortina e câmara de ré com visor no espelho interno.

Tudo isso deixa o Sportage em ligeira desvantagem diante de rivais de peso, como Chevrolet Captiva, Volkswagen Tiguan e Toyota RAV-4 – que têm preços semelhantes e trazem mais recursos. Já em relação a Hyundai iX35 e Honda CR-V, a briga é mais parelha.

De qualquer forma, a missão de vender 2 mil unidade mensais é muito dura. Afinal, os concorrentes que mais vendem não alcançam atualmente nem 1.500 unidades mensais.

Índice

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Instantâneas

# A primeira geração do Sportage era montada em chassis de longarinas e foi produzida entre 1993 e 2002. O projeto foi realizado em consórcio com a Ford e a Mazda, que o utilizou na pick-up Bongo. A segunda geração, de 2005, já era um projeto derivado do Hyundai Tucson.

# A Kia foi fundada em 1944. Em 1998, o controle da empresa foi adquirido pela rival Hyundai.

# A cor de lançamento do Sportage, com a qual o modelo aparece nas publicidades mundo afora, é laranja. Mas para o Brasil estão sendo trazidas apenas as cores preto, prata, branco, azul e marrom. A cor branca atualmente responde por 40% das vendas do SUV.

# A terceira geração do Sportage, em relação à segunda, ganhou 9 cm no comprimento e 1,5 cm na largura. Perdeu 6 cm na altura, mas boa parte por conta do novo rack, colado à carroceria.

# O Kia Sportage tem cinco anos ou 100 mil km de garantia.

Ponto a ponto

Desempenho – O motor 2.0 16V do Kia Sportage é moderno, potente para a litragem que tem, mas não opera milagres. Os 166 cv a 6.200 rotações são insuficientes para dar grande agilidade ao SUV coreano. Além disso, os 20,1 kgfm só aparecem aos 4.600 giros. Mesmo com recursos como comando variável de válvulas, o motor só começa a mostrar algum fôlego acima de 3 mil rpm. O resultado disso é um carro sem vigor nas arrancadas e ultrapassagens, que exige muito uso do câmbio. A transmissão automática de seis marchas, a princípio, passaria o problema para o próprio carro. Desde que não se queira arrancar do Sportage um comportamento mais esportivo. Aí será preciso utilizar o modo manual sequencial, para evitar os momentos de indecisão da transmissão. Nota 6.

Estabilidade – Para um carro alto, com 1,64 m, o Sportage é bem neutro. Nas versões com rodas de aro 18, o SUV aderna pouco nas curvas e é estável nas retas, mesmo em velocidades altas. Por outro lado, nos pisos irregulares, vibra mais que o recomendável. Já em buraco maiores, absorve bem os choques, sem comprometer a dirigibilidade. Nas frenagens e arrancadas o Sportage se mantém firme. Nota 8.

Interatividade – No Sportage, os comandos ficam nos lugares clássicos: controle de vidros e trava nas portas, faróis e limpadores nas hastes da coluna de direção, regulagens elétricas do banco em botões nas laterais do assento, ar-condicionado no console com botões rotativos e controles de som e cruise control no volante multifuncional. A linha de cintura alta prejudica bastante a visibilidade – o para-brisa traseiro parece uma escotilha, de tão pequena. Não é à toa que há sensores de obstáculos na traseira desde a versão básica. O volante tem bons tamanho e pega e o câmbio sequencial é bem agradável de manipular. O único pecado fica por conta do computador de bordo, comandado através de dois minúsculos botões na borda do cluster e que se escondem atrás do arco do volante. Um alterna a informação mostrada no pequenino visor acima do hodômetro e o outro reinicializa o computador. E não é difícil imaginar que muitas vezes o de “reset” será apertado indevidamente. Nota 7.

Conforto – Os bancos do Sportage são ergonômicos e confortáveis, seguram bem o corpo e têm várias regulagens, inclusive lombar. O teto solar panorâmico, da versão top, também ajuda ao produzir uma sensação de amplitude bastante agradável. A suspensão – McPherson na frente e multilink na traseira – é muito bem-calibrada. Apesar de permitir que o carro role um pouco nas curvas mais fechadas, ela consegue unir estabilidade e maciez de rodagem. Com aro 18, as imperfeições da pista são mais notadas, mas a filtragem feita pelas molas faz com que não incomodem. Nota 9.

Consumo – A Kia prefere não divulgar os dados de consumo, com o velho argumento de que cada motorista vai obter um resultado diferente. No modelo testado, segundo o computador de bordo, o resultado foi o seguinte: 6,8 km/l em uso misto e 8,9 em estrada. Para um veículo somente a gasolina, este índice não é motivo de orgulho. Nota 6.

Tecnologia – A versão top é bem recheada: ABS, airbags frontais, laterais e de cortina, controle de estabilidade e tração, ar-condicionado dual zone, etc. A plataforma também é nova e tem boa rigidez torcional. Falta, porém, conexão Bluetooth para que o som funcione como viva-voz de celular – coisa corriqueira até em compactos. Nota 8.

Habitabilidade – Como um bom utilitário esportivo, a boa altura promove um espaço no interior bem generoso para todos os passageiros. Essa característica também auxilia no acesso ao interior, que tem vários porta-objetos e os quatro passageiros contam com apoio de braços – o quinto já tira o conforto de todos. O porta-malas acomoda bons 740 litros e tem bagagito recolhível. O sistema de rebatimento é muito fácil de usar e eleva a capacidade para acima de 1.500 litros. O teto solar panorâmico é um item que amplia a qualidade de vida a bordo, mas só é disponível no modelo top, que custa mais de R$ 100 mil. Nota 9.

Acabamento – Tem altos e baixos. Os painéis de porta, de instrumentos e do console misturam texturas que são agradáveis aos olhos, mas não ao toque. A não ser pelas área revestidas em couro ou tecido, todo o interior é construído com plástico rígido. Os feltros de carpetes e porta-malas também não expressam grande qualidade. Os encaixes e fechamentos são bem feitos, mas não há requinte. E nem mesmo o acabamento em couro cria uma sensação de luxo ou sofisticação. Difícil justificar tanta economia em um veículo que começa em R$ 84 mil. Nota 6.

Design – O Kia Sportage consegue unir uma certa discrição com traços bastante originais para um SUV. As linhas traçadas pelo alemão Peter Schreyer criam uma sensação de robustez, com a grande área de carroceria pela altíssima linha de cintura, e esportividade – remete aos “hot rods”, principalmente pelas janelas estreitas e a última coluna extremamente grossa. Nota 9.

Custo/Benefício – A Kia começa a abandonar a política de oferecer mais por menos – praticada desde que passou a tentar apagar a imagem de marca de utilitários de trabalho. E acredita que já conseguiu mudar de patamar. Mas isso se refletiu muito bruscamente no preço. O atual Sportage é 30% mais caro que o da antiga geração. Apesar de custar mais ou menos o mesmo que os rivais, não oferece vantagem em relação a potência, requinte ou equipamentos. Nota 6.

Total – O Kia Sportage somou 74 em 100 pontos possíveis.

Primeiras Impressões – Utilitário de passeio

Conforme passam as gerações, mais o Kia Sportage se afasta da lama. A versão original, dos anos 90, era um carrinho pouco potente, mas bem valente para encarar estradas de terra.

A atual e terceira geração nem finge ser lameira. Está mais para um crossover. Dos utilitários esportivos ele traz a boa altura livre do solo e a capacidade de encarar os buracos e as irregularidades que infestam as cidades brasileiras. Das minivans, traz qualidades familiares como espaço interno, posição mais sentada de conduzir – melhor para encarar viagens longas – e porta-malas generoso.

Mas é no design que o Sportage tenta extrapolar. Com um estilo ousado, esportivo e sem espalhafatos, o visual do modelo não tem nada de controverso. Agrada muitos e não espanta os demais.

A esportividade prometida pelas linhas não é das mais ferozes. Melhor assim, já que o Sportage tem uma motorização muito comportada. Tanto que a Kia do Brasil prefere nem divulgar oficialmente os números, seja de desempenho, seja de consumo.

O zero a 100 km/h é feito de 10,8 segundos e a máxima fica nos 182 km/h. São números razoáveis, que não retratam o verdadeiro comportamento do carro. O fato de tanto torque de 20,1 kgfm quanto a potência de 166 cv chegaram em giros muito altos, torna o SUV bem pouco vigoroso.

No uso em estrada, qualquer ganho de velocidade exige redução de marcha. Na cidade, as arrancadas são lentas e civilizadas. Para gerar adrenalina é preciso encher o motor de verdade. O que só começa a acontecer a partir dos 3 mil giros.

Por outro lado, o Sportage responde bem às exigências reais e mais comuns do público de utilitários/crossovers: é confortável, imponente e agradável de dirigir. O conforto chega pela suspensão bem acertada, pela correta ergonomia, pelo bom nível de equipamentos e pelo revestimento em couro das versões superiores.

Aliás, o couro é o material mais nobre oferecido no interior do modelo. Pois todo o restante do revestimento é em plástico rígido – enquanto na categoria de SUV médio já o comum é contar com painéis espumados.

A imponência e o prazer de dirigir andam juntos no Sportage. A boa altura em relação ao trânsito transmite segurança. Direção tem o peso correto tanto em altas quanto em baixas velocidades e o câmbio sequencial é agradável de usar e responde aos comandos com razoável presteza.

Os comandos também estão todos nos locais corretos e tradicionais, o que facilita o processo de familiarização. Outro aspecto que torna a vida a bordo bem agradável é o teto solar panorâmico.

Contraditoriamente, o maior problema de quem está ao volante é visibilidade. Ou a falta dela. Os retrovisores externos, de bom tamanho, não são suficientes para compensar os efeitos colaterais da ousada linha de cintura alta, dos vidros pequenos e da coluna traseira larga.

Na hora de estacionar, ainda há o sensor de estacionamento e a câmara de ré, com visor no espelho interno, para facilitar o trabalho. Já no trânsito, a precariedade visual provoca excesso de pontos cegos. Mas, no final das contas, o estilo sempre cobra um preço.

Por Eduardo Rocha – Auto Press

Ficha técnica – Kia Sportage 2.0 16V Automático

Motor: Gasolina, dianteiro, transversal, 1.998 cm³, quatro cilindros em linha, duplo comando no cabeçote e 16 válvulas. Comando variável na admissão e no escape. I injeção eletrônica sequencial e acelerador eletrônico.

Transmissão: Câmbio automático de seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Possui controle eletrônico de tração.

Potência máxima: 166 cv a 6.200 rpm.

Torque máximo: 20,1 kgfm a 4.600 mil rpm.

Diâmetro e curso: 86,0 mm X 86,0 mm. Taxa de compressão: 10,5:1.

Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson com molas helicoidais, amortecedores a gás. Traseira independente do tipo multilink com molas helicoidais e amortecedores a gás. Oferece controle de estabilidade.

Freios: Discos ventilados na frente e discos sólidos atrás. ABS de série.

Pneus: 235/55 R 18.

Carroceria: Crossover em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,44 metros de comprimento, 1,85 metro de largura, 1,64 metro de altura e 2,64 metros de distância entre-eixos. Airbag duplo frontal, laterais e de cortina.

Peso: 1.550 kg em ordem de marcha, com 480 kg de carga útil.

Capacidade do tanque de combustível: 55 litros.

Capacidade do porta-malas: 740 litros e 1.547 com os bancos rebatidos.

Produção: Gwangju, Coreia do Sul.

Lançamento mundial: 2010.

Lançamento no Brasil: Novembro de 2010.

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Autor: Ricardo de Oliveira

Com experiência de 27 anos, há 16 anos trabalha como jornalista no Notícias Automotivas, escreve sobre as mais recentes novidades do setor, frequenta eventos de lançamentos das montadoras e faz testes e avaliações. Suas redes sociais: Instagram, Facebook, X