A partir da incorporação pela Renault, em 1999, a Nissan mudou a sua estratégia de fazer e vender carros. Antes, atuava como uma legítima marca japonesa, procurando fabricar produtos de alta confiabilidade e com foco na qualidade de produção.
Nos últimos 13 anos, no entanto, a Nissan buscou escala de mercado. Gradativamente, trocou os modelos maiores e mais sofisticados por carros mais baratos e facilmente construídos, mas que conseguissem ter preço mais competitivo.
Não é que a qualidade tenha sido esquecida – ainda produz carros exclusivíssimos, como o esportivo GT-R. Mas a Nissan agora atua no mesmo nível dos fabricantes automotivos generalistas em todo o mundo.
E o Nissan Versa, sedã lançado no Brasil em outubro de 2011, representa bem esta nova era.
Tem visual moderno – apesar da traseira pouco inspirada –, aspecto de carro maior, mas traz conteúdo apenas necessário para brigar no segmento de compactos.
Nas concessionárias, seu preço – iniciais R$ 35.900 –, normalmente aparece escrito no para-brisas. Quase sempre seguido das fatídicas palavras “a partir de”.
Essa mudança de abordagem demorou um pouco a acontecer no Brasil. Apenas no ano passado a Nissan ingressou nos segmentos de entrada do mercado nacional. Com o Versa, a briga é bem disputada, no miolo dos sedãs compactos.
Os principais rivais são o Chevrolet Cobalt e Fiat Grand Siena, três volumes que, assim como o Versa, oferecem bom espaço interno como principal argumento de vendas.
Em relação a eles, no entanto, o modelo mexicano de origem nipônica tem uma clássica vantagem mercadológica: o preço. Equipado com o máximo que pode ter, a versão “top” SL vai a R$ 44.640, cerca de R$ 2 mil a menos que os rivais.
Quando a comparação é com o Honda City, um sedã compacto claramente mais requintado, a discrepância é ainda maior. O modelo da marca compatriota chega a custar 60% a mais.
E, como era óbvio esperar, oferecer menores preços e produtos mais acessíveis fez a participação da marca crescer como nunca por aqui. Em março, a Nissan atingiu os 4% de market share no Brasil, seu recorde mensal, com mais de 11 mil emplacamentos.
O Versa foi responsável por cerca de 20% das vendas no mês, com 2.095 carros. Desde o lançamento, a média dele por mês é ligeiramente menor, na casa das 1.600 unidades.
Em termos de produto, o grande diferencial do sedã da Nissan é o tamanho da cabine. A plataforma, uma variação daquela usada pelo March, permite uma distância entre-eixos de 2,60 metros. O recém-lançado Honda Civic, por exemplo, tem apenas 6,6 cm a mais no quesito.
Em equipamentos, no entanto, o Versa não traz grandes novidades. Inclui airbag duplo e direção elétrica de série, mas nada que se destaque tanto. Na versão topo de linha, a testada SL, ainda recebe ABS, trio elétrico e rádio com entradas auxiliares.
Na parte mecânica, a Nissan deixa claro que preferiu não jogar com o Versa nas camadas mais inferiores do mercado nacional. Nada de 1.0 e seus desempenhos morosos. Ele só pode ser equipado com motor 1.6 com comando variável de válvulas na admissão.
Com 111 cv e 15,1 kgfm, ele leva o sedã a 100 km/h em cerca de 11 segundos, dependendo do combustível.
No entanto, as vendas da Nissan com o Versa podem ser afetadas por um problema que não ocorre com o produto em si. E sim com a legislação. A mudança no regime de importações de automóveis vindos do México, onde Versa e March são feitos, pode restringir a oferta dos dois modelos por aqui.
Preocupada, a Nissan já apressou seus passos para adiantar a fábrica que está levantando em Resende, Sul do estado do Rio de Janeiro. Agora, a unidade industrial deve começar a funcionar antes de 2014, previsão inicial.
Tudo para a Nissan continuar a sua gradual mudança de imagem em solo nacional.
Ponto a ponto
Desempenho – A relação peso/potência beneficia o Versa. São 9,71 kg/cv, uma boa marca para um sedã com pretensões familiares. Na prática, isso significa um desempenho animado para o três volumes mexicano.
Basta superar as 2 mil rotações para o modelo passar a ganhar boa velocidade. Quando se chega nos 4 mil giros, faixa de torque máximo, o Versa fica ainda mais aceso. O câmbio manual de cinco marchas é bem escalonado e tem trocas relativamente precisas e ajudam em uma tocada menos pacata. Nota 8.
Estabilidade – O baixo peso prejudica a estabilidade do Versa em velocidades elevadas. Nesses momentos, o carro fica um tanto impreciso e são necessárias correções ao volante lá pelos 140 km/h.
Antes disso, no entanto, o modelo vai bem e mostra um equilíbrio dinâmico razoável. Os pneus 185/65 R15 do Versa SL não são tão finos como o do March 1.0, por exemplo, e oferecem boa aderência.
Em curvas, a carroceria rola pouco. Nota 7.
Interatividade – O Versa é um sedã altinho, o que ajuda na visibilidade dianteira, com áreas envidraçadas grandes que auxiliam na visibilidade do trânsito. Por dentro, os comandos todos são bem localizados.
O único mal resolvido é o do computador de bordo. Em vez de apertar um botão em alguma das hastes do volante, é preciso pressionar uma tecla no painel de instrumentos. Pouco prático para quem precisa zapear entre informações de consumo ou autonomia, por exemplo.
Todas as versões contam com ajuste de altura do banco do motorista e do volante, o que facilita a melhor posição de dirigir. Na versão topo, que tem uma iluminação exclusiva, a visibilidade do painel de instrumentos é muito boa. Nota 8.
Consumo – O InMetro não fez medição de consumo de nenhum veículo da Nissan. O computador de bordo do Versa marcou uma média de 8 km/l com etanol, em um circuito predominantemente urbano. Nota 7.
Conforto – O espaço interno é excelente para um compacto, com espaço de sobra para cinco ocupantes. Os 2,60 m de entre-eixos fornecem uma grande dose de conforto interno. O rodar é suave e as pancadas da suspensão nos buracos não chegam a incomodar.
O banco do Versa é uma das principais falhas em conforto. A parte inferior, que abriga as pernas, é muito curta e dá pouco apoio para as coxas. Não ajuda a manter uma viagem muito longa sem cansaço. Nota 7.
Tecnologia – A lista de equipamentos da versão topo de Versa é bem recheada. Estão lá ar-condicionado, rádio completo, direção assistida, airbag duplo e ABS. A plataforma é uma variação da que já é usada no March, Renault Sandero, Logan e Duster, chamada de Plataforma V.
O motor tem arquitetura moderna, feito de alumínio e com controle variável de válvulas na admissão. Mesmo assim, sua força máxima só chega em rotações muito elevadas e os 111 cv gerados ficam apenas na média do segmento. Nota 7.
Habitalidade – Entrar e se acomodar dentro do sedã compacto da Nissan é algo bem simples. A começar pelo espaço interno, um dos pontos fortes do modelo. As portas têm boa abertura e não é complicado entrar no habitáculo.
O bagageiro é outro que impressiona pelo espaço. São 460 litros, mas a tampa tem hastes que invadem a área das malas. A oferta de porta-objetos na cabine é apenas razoável. Não há lugares adequados para guardar o celular, por exemplo. É preciso abrigá-lo no porta-copos, na frente da alavanca de câmbio. Nota 7.
Acabamento – As peças até são bem encaixadas e, para um sedã compacto, as rebarbas são escassas. Os materiais escolhidos ficam na média da concorrência, com plásticos rígidos e um pouco de tecido nas portas.
Mesmo assim, a impressão geral é de fragilidade. Parece que falta “generosidade” ao Versa. Tudo é muito justo e contado. Nota 6.
Design – O Versa não é de encher os olhos. Até existem ângulos interessantes do veículo, como o arco do teto que dá um aspecto moderno ao sedã. A dianteira também não desagrada, com uma grade bem imponente.
O problema é o porta-malas, que transmite a clara impressão de que foi encaixado no lugar sem muito cuidado. Nota 5.
Custo/benefício – Completo, o Versa vai a R$ 44.640, e vem com airbag duplo, ABS, rádio, entre outros. Equipados de maneira parecida, Fiat Grand Siena e Chevrolet Cobalt passam dos R$ 46 mil.
Portanto, em termos de preço, o carro da marca japonesa se mostra uma opção mais vantajosa. O recheio também agrada. Bom desempenho, ótimo espaço interno e consumo acima da média também jogam a favor do automóvel da Nissan. Apesar de serem pontos fracos, acabamento e design não chegam a ofuscar as qualidades do Versa. Nota 9.
Total – O Nissan Versa SL somou 71 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir – Postura pragmática
O Nissan Versa é um simples que funciona. O desenho interno não é tão caprichado, mas não chega a desagradar. O que incomoda são os materiais escolhidos e seus revestimentos. Parece ser tudo um tanto frágil, uma impressão de que se está andando em uma “casca de noz”.
Ao menos, é uma noz bem grande. O tamanho da cabine do Versa impressiona. Na frente, sobra espaço para cabeças, ombros e joelhos. Atrás, surpreendentemente, mesmo com os bancos dianteiras todos recuados, dá para se posicionar sem apertos.
Fruto do bom aproveitamento dos 2,60 m de entre eixos. Transversalmente, o espaço é menor. Eventuais três ocupantes ficam um tanto justos.
Em movimento, o sedã também trata com dignidade seus ocupantes. A suspensão é bem calibrada e filtra com competência as irregularidades do asfalto. O isolamento acústico também é correto e, mesmo com o conta-giros superando os 4 mil giros, é possível manter uma conversa em tom normal dentro do carro.
Em situações urbanas, a estabilidade também é elogiável. São raras as situações que o Versa sai do controle do motorista, ainda mais quando ele é equipado com os freios autoblocantes.
Apesar de não ser um poço de potência, o motor 1.6 até adiciona uma pitada de esportividade ao sedã. O baixo peso ajuda e o Versa é um carro ágil quando atinge a sua faixa máxima de torque, a 4 mil rpm. É só pisar fundo para ver o – nem tão – compacto sedã acelerar com vigor.
Sem buracos na bem acertada transmissão, é fácil chegar aos 100 km/h e a partir daí, manter uma velocidade de cruzeiro. Mas rodar muito rápido é algo que o carro parece não gostar muito.
Por ser muito leve, o simples atrito com o ar faz com que ele dê a sensação de estar ligeiramente “bambo” quando supera os 140 km/h. No resto, no entanto, o bom comportamento é uma constante.
Ficha técnica – Nissan Versa SL
Motor: A gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.598 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro e comando variável de válvulas na admissão. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial.
Transmissão: Câmbio manual de cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira.
Potência máxima: 111 cv a 5.600 rpm com etanol e gasolina.
Aceleração 0-100 km/h: 11,1 segundos com gasolina e 10,7 segundos com etanol.
Velocidade máxima: 189 km/h.
Torque máximo: 15,1 kgfm a 4 mil rpm com etanol e gasolina.
Diâmetro e curso: 78 mm X 83,6 mm. Taxa de compressão: 9,8:1.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson com barra estabilizadora. Traseira por eixo de torção com barra estabilizadora e molas helicoidais.
Pneus: 185/65 R15.
Freios: Discos ventilados na frente e tambor atrás. Oferece ABS com EBD na versão SL.
Carroceria: Sedã em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,45 metros de comprimento, 1,69 m de largura, 1,51 m de altura e 2,60 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais de série.
Peso: 1.069 kg.
Capacidade do porta-malas: 460 litros.
Tanque de combustível: 41 litros.
Produção: Aguascalientes, México.
Lançamento mundial: 2011.
Lançamento no Brasil: 2011.
Itens de série: Ar-condicionado, banco do motorista com regulagem de altura, computador de bordo, conta-giros, direção elétrica progressiva, trio elétrico, volante com regulagem de altura, faróis de neblina, rodas de liga leve de 15 polegadas, airbag duplo, ABS, travamento automático das portas com veículo em movimento e rádio/CD/MP3/Aux/iPod.
Preço: R$ 43.390.
Prós:
# Desempenho
# Preço
# Espaço interno
Contras:
# Design
# Acabamento
Por Auto Press
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