A Fiat Titano é uma tardia, mas ainda assim válida entrada da Stellantis no segmento de picapes médias no Brasil.
O grupo pegou a opção que tinha nos seus produtos, a Peugeot Landtrek, e decidiu a lançar como Fiat no Brasil, pois é claro que a marca teria muito mais sucesso em vender o produto.
Só que aí temos dois problemas. Sendo um modelo da Peugeot, todas as suas linhas também o são, fazendo com que a Titano seja um Fiat sem cara de Fiat em absolutamente nada, tanto por dentro quanto por fora.
E o segundo problema é que a Peugeot Landtrek é na verdade a picape chinesa Changan Kaicene F70.
Muito da Titano remete a uma picape legitimamente chinesa, desde a suspensão até a central multimídia, e vamos falar em detalhes sobre tudo isso nessa avaliação.
Visual de Peugeot
A versão Volcano, apesar de não ser a topo de linha, acabou ficando com um visual interessante, mais rústico. Talvez a cor branca da picape que testamos, tenha combinado bem com seus detalhes.
As rodas escuras e pneus largos que preenchem bem as caixas de roda, lhe caíram muito bem, muitas pessoas ficaram de olho nela durante os dias em que a usamos.
Mas, não importa a versão, ela tem um design claramente Peugeot.
Preço mais em conta
Ela custa R$ 239.900, preço que só é mais alto do que os modelos L200 Triton GL e L200 Triton GLS, que são mais ultrapassados, sem câmbio automático e voltados para frotistas.
Até dá para levar uma Hilux ou S10 pagando menos que a Titano Volcano, mas, novamente, versões super, mega simples, sem câmbio automático, e nestes dois últimos casos, até mesmo sem cabine dupla, então acaba não sendo justa a comparação.
Mais parecida com a Titano de versão intermediária, na mesma faixa de preços, temos apenas a L200 Triton Sport Outdoor GLS, já da geração nova e com câmbio automático, por R$ 245.490.
Só que se a Titano custa menos do que as mais famosas do mercado, Ranger, S10 e Hilux, é porque ela também entrega menos, não só em equipamentos, mas também em qualidade de construção e refino ao dirigir.
Já já vamos falar sobre isso, separadamente em cada aspecto.
Conforto interno é razoável
O conforto interno é razoável, ela tem um espaço condizente com o que se esperaria do segmento, e atrás tem a vantagem de ter um túnel central bem baixo, o que ajuda no conforto do quinto passageiro, aquele que sempre sofre em viagens.
Os bancos são largos o suficiente, mas entregam um conforto não muito bom em usos levemente mais prolongados.
Em ocasiões em que dirigimos por cerca de uma hora em trânsito urbano travado, já comecei a notar uma certa dor nas costas, na região lombar, por não ter muito apoio nesta região, nem mesmo regulagem.
O ar-condicionado gela bem.
Suspensão é o ponto mais negativo
A suspensão, podemos colocar como um ponto dos que mais mereciam ter sido melhor adaptados ao uso no Brasil.
Ela balança muito, por ter uma maciez exagerada. Em trechos urbanos com asfalto levemente ruim, ela já começa a balançar demais, chegando ao ponto de incomodar os ocupantes.
Ao olhar pelo espelho interno, você vê a caçamba toda alegre, requebrando pra valer. Poderia ser um pouco mais firme.
Mesmo andando em asfaltos com, digamos, 80% de qualidade, objetos na cabine ficam chacoalhando com força. Por exemplo, a minha garrafa de água, de alumínio, quase que caiu do porta-copos nessas ocasiões.
Passando por lombadas, valetas, e as temidas travessias elevadas, somos obrigados a reduzir muito a velocidade, pois senão ela vai pular forte e te fazer quase bater a cabeça no forro do teto.
Aí, neste momento, pequenos SUVs compactos passam rápido por você, e vão embora.
Desempenho poderia ser melhor
Usando o motor da Ducato, com 180 cavalos e 40 kgfm de torque, ficamos tranquilos ao rodar por saber que ali está um motor muito confiável e durável.
Mas, mesmo com os números razoáveis de potência e torque, eles poderiam ser melhores, já que o comprador de uma picape dessas não vai se contentar com o desempenho de uma van.
As suas rivais tem mais performance, salvo por motores mais fracos um pouco nas versões de entrada, que são até mais simples que a Titano Volcano.
Suas arrancadas são boas, mas parece que o câmbio automático acaba segurando um pouco demais as trocas de marcha, que quando entram, acabam dando aquele tranco sem muita suavidade.
Quem preferir trocas de marcha mais suaves, e feitas em rotações mais baixas, tem a opção de usar o modo Eco o tempo todo, que, ainda bem, continua acionado depois de desligar a picape e a ligar novamente.
Central multimídia chinesa mesmo
A central multimídia da Titano Volcano tem respostas muito lentas, o que denuncia suas origens.
Mas esse não foi o maior problema. A conexão com fio ao Apple Carplay e ao Android Auto (que deveria ser sem fio, afinal, estamos em 2024) caiu várias e várias vezes no nosso uso de uma semana do veículo.
Se fosse pra chutar, estimo que caiu umas 15 vezes. Quando você está com alguém te acompanhando ali no banco do passageiro, tudo bem, a pessoa vai lá, tira o cabo do celular e pluga novamente.
O pior é quando você está sozinho, se perde todo por não ver mais para onde o Waze está te mandando, e ainda tem que parar o carro para tentar fazer a central multimídia mostrar a conexão com o celular novamente.
Outro incômodo: Ao acionar a seta direita, a central multimídia te atrapalha mais uma vez, tirando a imagem da conexão com o celular e mostrando a imagem da câmera que fica embaixo do retrovisor direito.
O que aciona essa função não é apenas o esterçamento do volante para a direita, e sim isso, junto com o acionamento da seta.
Tudo bem que é uma função interessante, para poder saber se você vai acabar ralando a roda do lado de lá ou não, mas fazer isso todo acionamento de seta incomoda.
Até porque existe um botão no console central que é dedicado a acionar essa tal da câmera do retrovisor.
Consumo inferior
Tivemos um consumo urbano exatamente nos mesmos números que a Fiat indica para o modelo: 8,6 km/l contra 8,6 km/l declarados e oficiais.
Não é dos melhores consumos do seu segmento, e acredito que alcançamos este número por ter rodado em uma cidade quase que totalmente plana.
A Hilux 2.8 AT indica 10,1 km/l na cidade, a Ranger XLS 2.0 AT fica em 10 km/l e a Nova S10 LTZ também automática fica nos 9,5 km/l.
Equipamentos
Para levar a Titano Volcano para casa, você gasta menos do que levando as concorrentes, como já vimos acima.
Mas esse valor pago se traduz ao que ela entrega. Ar-condicionado manual, painel das portas todo em plástico duro, quadro de instrumentos bem simples, com uma tela de LCD de 4,2 polegadas ao centro, coisa que vemos em modelos de pouco mais de R$ 100.000.
O ponteiro do conta-giros ao contrário no painel também não agrada, e a alavanca do câmbio fica o tempo todo caindo no modo lateral, de seleção manual de marchas.
Mas pelo menos o volante da picape é bonito e tem boa ergonomia.
Resumo
Para resumir nossa opinião, fica difícil encontrar um comprador certo para a Titano, nessa versão intermediária.
Talvez, essa pessoa seja quem queira uma picape diesel com visual agradável, e que seja barata mas ao mesmo tempo tenha câmbio automático.
Mas, o modelo ainda tem muito o que melhorar, principalmente na suspensão, no desempenho e também nos equipamentos, com destaque negativo para a central multimídia, para poder se tornar uma verdadeira concorrente das líderes do mercado.
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