Em um mercado onde picapes ganham cada vez mais espaço, a Ford decidiu elevar bastante o patamar da Maverick com a nova versão Tremor.
Posicionada como a opção mais aventureira da linha, ela chega ao Brasil com a missão de conquistar quem quer robustez e tecnologia e ao mesmo tempo procura conforto e da versatilidade no uso urbano.
O preço sugerido é de R$ 239.990, valor que coloca a picape como uma concorrente direta das versões mais caras da Ram Rampage e da Fiat Toro, só que entregando mais do que estas outras.
Visual invocado e elevado a deixa mais imponente
Visualmente, a Maverick Tremor ganhou uma cara mais invocada.
A dianteira foi atualizada com faróis em forma de vírgula, grade redesenhada e para-choque exclusivo, todos adornados com detalhes em laranja, característicos da família Tremor.
As rodas de 17 polegadas também têm acabamentos exclusivos, calçadas com pneus 235/65 All Terrain Plus. A altura do solo passou a 22,6 cm, com ângulo de entrada de 30,9º e de saída de 21,3º, o que melhora bastante sua performance em terrenos mais complicados.
Um amigo que já conhecia a Maverick, pelo fato de seu pai possuir uma, comentou que a versão Tremor aparenta ser bem maior, o que certamente é o efeito visual da suspensão mais alta, com pneus mais parrudos.
Na prática, ela passa a impressão de ser bem pouca coisa menor do que uma picape média, como a Ranger, sendo que na verdade tem quase 30 centímetros a menos no comprimento.
Motor de sobra, e consumo alto
O motor 2.0 EcoBoost segue firme, mas recebeu ajustes na eletrônica para a linha 2026.
São 253 cv de potência e 38,7 kgfm de torque, sempre com o câmbio automático de oito marchas. A aceleração de 0 a 100 km/h acontece em 7 segundos, com respostas ágeis e um ronco de escape encorpado que surpreende.
O modelo entrega um ronco falso através do sistema de som, que dá uma impressão de a Maverick ser equipada com um motor V6, mas mesmo não tendo um motor tão forte, seu desempenho ainda assim é ótimo.
(Um fórum norte-americano de donos da Ford Maverick confirma a informação, dizendo que as versões Lariat, Lobo e Tremor tem este detalhe, mas que ele pode ser desligado através da central multimídia.)
O consumo também é razoável para um modelo com proposta off-road: 8,4 km/l na cidade e 10,7 km/l na estrada, mas somente segundo dados oficiais da Ford.
Em nosso uso, o consumo foi bem mais alto, onde rodamos 350 quilômetros com a picape, durante uma semana, esvaziando seu tanque de 67 litros.
O principal problema é o uso em ambiente urbano. Fazendo os mesmos percursos onde conseguimos cerca de 10 km/l com modelos pequenos e econômicos, com motor 1.0 Turbo, a Maverick Tremor teve consumo na faixa dos 6,0 km/l.
Já na estrada, a média ficou em cerca de 10 km/l mesmo.
A suspensão ganhou novos componentes, com molas e amortecedores recalibrados, barra estabilizadora exclusiva e direção elétrica ajustada para entregar mais firmeza sem sacrificar o conforto.
Em trilhas, a Maverick se mostra à vontade, atravessando áreas alagadas de até 45 cm com segurança.
Mesmo com pneus de uso misto, o comportamento na estrada surpreende pela estabilidade e isolamento acústico. Não se escuta quase nada do lado de fora.
No entanto, um ponto que deveria ser revisado é o peso do volante, que poderia ser mais leve.
Interior com um tom diferente de azul
Por dentro, a Maverick Tremor aposta em uma cabine ousada, com combinação de azul e detalhes em laranja, bancos largos com ajuste elétrico e aquecimento, teto solar elétrico e diversos porta-objetos espalhados.
Até os celulares dos dois ocupantes da frente são bem tratados, existe o espaço para carregamento por indução, do lado do motorista, e um nicho que deixa o celular quase que em pé, para o acompanhante.
As cores do interior não agradam todos os gostos, mas eu gostei. Meu amigo que comentou que seu pai tem um modelo 2021 ou 2022, algo assim, não gostou, pois disse que a do seu pai é mais elegante, com o interior com tons claros.
Mas, de qualquer forma, o espaço interno continua sendo um diferencial, principalmente na fileira traseira, onde dois adultos viajam com conforto. O assento traseiro ainda abriga compartimentos extras e parte do sistema de som.
A caçamba tem capacidade para 943 litros e 550 kg de carga útil, com tampa leve (mas sem amortecimento), capota marítima, tomada de 110V, 12V e ganchos de amarração.
Pode rebocar até 499 kg sem freio próprio. O tanque comporta 67 litros de gasolina e o peso em ordem de marcha é de 1.832 kg, o que garante boa relação peso/potência de 7,24 kg/cv.
Tecnologia abundante e sistema de som de grife
O pacote tecnológico é um dos pontos altos.
A central multimídia agora tem 13,2 polegadas com sistema Sync 4, suporte a Android Auto e Apple CarPlay sem fio, GPS nativo e atualizações over-the-air.
Infelizmente ela tem uma inclinação que causa estranheza, assim que você começa a usar o carro, pois ela é um pouco inclinada para baixo, e não para o rosto do motorista, mas isso pode ter sido feito para evitar muitos reflexos na tela, durante a condução.
Depois de uma semana de uso, eu já estava plenamente acostumado com a posição da central.
O painel de instrumentos também é digital com tela de 8 polegadas, e o sistema de som é ótimo, da Bang & Olufsen.
Entre os assistentes de condução, há piloto automático adaptativo com stop & go, alerta de ponto cego, assistente de faixa, câmera 360º, frenagem autônoma de emergência, sete airbags e controle de descida.
Outro recurso que chama a atenção é o Trail Control, uma espécie de piloto automático off-road que permite ao condutor controlar a picape em terrenos acidentados com apenas um pedal.
Também há modos de condução exclusivos como Off-Road, Escorregadio, Esportivo e Eco, além dos tradicionais Normal e Rebocar/Transportar. Tudo isso com tração integral e diferencial traseiro com bloqueio eletrônico.
O aquecimento dos bancos e do volante é muito bom, apenas o do volante poderia aquecer um pouco menos, ou ter três níveis de aquecimento, como é o caso dos bancos dianteiros.
Um dos melhores pilotos automáticos adaptativos que já testamos
Infelizmente, a implementação do piloto automático adaptativo ainda não é muito bem feita em todas as marcas.
Vários carros tem sistemas que fream o carro de maneira muito forte, quando ele já está muito perto do carro à frente, e isso vai contra a ideia de uma condução mais automatizada, que tem que entregar conforto e tranquilidade, não deixar todo mundo apreensivo dentro do carro.
Como a Maverick é um carro feito para o mercado dos Estados Unidos, que tem uma vocação bem estradeira, a Ford teve que deixar o sistema bem azeitado.
E com isso, tivemos um uso muito agradável da Tremor nas estradas.
Ela traz uma centralização de faixa muito bem feita, e o piloto adaptativo age como se fosse uma pessoa dirigindo, ou seja, apenas tira o pé do acelerador quando tem um carro se aproximando.
Se é necessário frear, o faz de maneira suave, sem causar trancos ou incômodos.
A análise das mãos do motorista no volante também é bem feita, basta você segurar o volante com uma das mãos, aplicando uma pressão natural, sem fazer força, que o carro já não te perturba com avisos ou alarmes.
Isso é diferente de alguns modelos que pedem que você gire o volante, nem que seja por poucos graus, para entender que o motorista ainda está vivo.
Comparando com a Rampage
A Stellantis lançou a Rampage com a ótima motorização 2.0 Turbo de 272 cavalos achando que poderia cobrar o quanto quisesse por tanta potência.
O problema é que a Ford decidiu não levar em conta o desempenho na hora de precificar a Maverick, e isso criou um abismo de preço entre as duas.
A Ram Rampage R/T 2025 tinha o salgadíssimo preço de R$ 299.900, e na linha 2026 a marca teve que se virar e reduzir este valor em R$ 30.000, passando a R$ 269.900.
Mas, ainda assim, a Maverick Tremor custa R$ 239.900, deixando o bolso de seu dono recheado com R$ 30.000 se a escolha for pelo modelo norte-americano.
A Maverick Tremor entrega uma equação de valor muito mais interessante. Pode não ter o mesmo nível de sofisticação de acabamento, que é sempre o argumento para quem prefere a Rampage, mas oferece desempenho semelhante, mais espaço interno e uma pegada aventureira real.
Não é apenas um visual off-road, é uma picape que cumpre o que promete.
A nova Ford Maverick Tremor chega com uma proposta bem definida: ser a opção mais racional para quem busca uma picape intermediária com verdadeira capacidade off-road, tecnologia embarcada e preço competitivo.
É um produto que, pela primeira vez desde sua chegada ao Brasil, parece ter atingido o ponto de equilíbrio entre estilo, funcionalidade e desempenho. Se a concorrência vai conseguir responder à altura, só o tempo dirá.
Mas uma coisa é certa: o segmento das picapes intermediárias nunca mais será o mesmo.
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