Você provavelmente já sabe que o Citroen C3 Aircross é hoje o carro com sete lugares mais barato do mercado, desbancando a Chevrolet Spin, que levou esse título durante muitos e muitos anos.
Aqui no Notícias Automotivas, já publicamos duas avaliações do modelo, uma que destaca que ele é um modelo sem luxos, e a outra mostra como ele desliza em alguns detalhes.
Surgindo a opção de andarmos novamente na minivan francesa, dessa vez com um modelo Shine de cinco lugares, decidimos dar um destaque para como a novidade é simples em suas origens, e também no nível de seus equipamentos a bordo, algo que vai, até certo ponto, na mesma linha das outras duas avaliações que publicamos.
Preço bom, pra que te quero
Se você analisa a questão do preço se baseando no segmento em que o modelo está, o preço até que é razoável.
O seu concorrente direto, a Chevrolet Spin, custa R$ 122.990 em uma versão de entrada, a LT5, mas ela, além de ter um visual mais simples que o C3 Aircross Shine, também tem câmbio manual, o que impede uma comparação correta.
Acima dessa versão de entrada temos a LTZ 7 AT e também a Premier AT, com preços de R$ 139.990 e R$ 149.250.
Tudo bem que são, ambas, opções que levam sete pessoas, mas o preço fica entre R$ 9.000 e R$ 19.000 acima do francês mostrado aqui nas fotos, que sai hoje por R$ 130.990 (isso se você não selecionar essa bonita cor vermelha do carro avaliado, que aumenta R$ 3.000 no preço).
Para quem não precisa levar sete pessoas, o C3 Aircross Shine se encaixa em uma pequena faixa de preços sem concorrente direto.
Só que existe um problema: Se o modelo é teoricamente bem precificado, quando lembramos que se trata apenas de um C3 mais longo, mais alto, e com bitolas maiores dos eixos, o que leva ao visual musculoso que o diferencia do popular C3, aí vemos que, pelo contrário, ele está bem caro.
Ao invés de começar em R$ 116.000 e subir até R$ 138.590, ele poderia muito bem começar em R$ 105.000 e terminar em R$ 125.000 que estaria muito bem pago.
E não digo isso apenas pelo seu parentesco muito próximo com o C3, que parte de R$ 77.590, mas pelo seu nível de equipamentos, muito fraco e depenado para o segmento em que se encontra.
É uma simplicidade exagerada, que poderia ter sido feita para alcançar esse preço, mas como vimos recentemente com o caso do Jeep Compass Sport, que do nada teve seu preço baixado em nada menos que R$ 32.000, existe muuuita gordura para queimar.
As margens de lucro são muito altas, então, o C3 Aircross poderia sim ter alguns bons equipamentos de série a mais pelo mesmo preço, que a nossa amiga Citroen não deixaria de lucrar bem com o modelo.
De que equipamentos estamos falando?
Antes, vamos lembrar que na linha 2025 o modelo Shine já ganhou ar-condicionado digital como opcional e também a chave canivete como item de série.
Sem delirar e exigir que o C3 Aircross tenha equipamentos de modelos de quase R$ 200.000, não seria muito pedir que ele tivesse regulagem de profundidade da coluna de direção, ar-condicionado automático, acendimento automático dos faróis e seis airbags, ao invés de quatro. Com certeza não é uma lista muito exigente, concorda?
E não precisamos nem falar sobre coisas sem sentido, como colocar o acionamento dos vidros elétricos traseiros apenas no console central, tudo para economizar apenas alguns metros de fio. É péssimo para quem está na frente, e ruim para quem está atrás.
No final das contas, o preço do modelo é ditado muito mais por quanto custa uma Spin, do que o valor que realmente poderia, e deveria, ter.
Conforto e espaço para quem é alto
Em questão de espaço interno e conforto, as coisas já melhoram um pouco. O teto bem mais alto do que o normal ajuda bastante no espaço para a cabeça de ocupantes altos.
Quem tem altura na faixa de 1,80 ou 1,82 metro, nota que sobram uns cinco dedos acima da cabeça até chegar no teto, o que dá uma boa sensação de espaço.
É esse espaço que é altamente valorizado por famílias, pequenas e maiores, que precisam de amplitude para acomodar muitas pessoas, sem precisar ter uma garagem enorme.
O comprimento de 4,32 metros do C3 Aircross garante que ele acomode essa família tendo o mesmo tamanho que modelos como Nissan Kicks e Honda HR-V, que obviamente tem menos espaço interno.
O C3 Aircross acaba aparentando ser quase do tamanho de um SUV médio, como é o caso do Jeep Compass com 4,40 metros.
Acabamento que consegue ser fraco, em pleno 2024
Estamos em uma época onde para se ter um acabamento um pouco melhor em um carro zero quilômetro, é preciso que você gaste um valor que encosta nos R$ 200.000.
Praticamente todos os carros tem acabamento ruim, fraco, que economiza em tudo que custe alguns centavos a mais, em nome dos lucros.
E mesmo estando nessa época, o Citroen C3 Aircross consegue ter um acabamento ruim frente a outros modelos rivais, seja no segmento em que se encontram, ou na faixa de preço.
As portas tem acabamento integralmente feito de plástico duro e ruim ao toque. Nem mesmo a área de contato do braço do motorista e do passageiro da frente, tem qualquer tipo de material que não seja plástico.
O painel tenta ser moderno e descolado, mas como é a mesma peça do C3, fica aquela sensação de se estar andando em um carro popular.
O quadro de instrumentos é muito pequeno, gerando comentários que ouvimos essa semana, de que “parece a telinha de um pequeno videogame”.
O tamanho da central multimídia é bom, maior do que vemos em modelos até mais caros, mas a área usada por Android Auto e Apple Carplay é reduzida, por conta de duas áreas laterais fixas, ao lado esquerdo com o controle de volume do som, e ao lado direito, com alguns botões de funções que deveriam ser controladas por botões físicos, inexistentes.
Os bancos dianteiros tem assento um pouco curto, o que causa um cansaço adicional em usos muito longos do veículo.
O carro que avaliamos estava com um ruído do tipo “nhec nhec” vindo do encaixe do cinto de segurança do motorista, bem incômodo, o que mostra que mesmo com apenas 9.000 km rodados, já começam a aparecer esses tipos de ruídos.
Uma suspensão bem trabalhada e agradável
Pra dar uma pausa nas reclamações, podemos afirmar que o C3 Aircross tem uma suspensão bem interessante.
Em nosso uso do veículo durante uma semana, onde rodamos aproximadamente 180 quilômetros, o que foi feito exclusivamente em percursos urbanos, sentimos que ela é muito bem preparada para o uso no Brasil.
Tem um bom balanço entre firmeza e maciez, passa por valetas, lombadas e travessias elevadas sem causar qualquer tipo de barulhos ou ruídos, e nunca chegou a dar fim de curso, mesmo ao ser usada com mais, digamos, “violência”.
O conjunto de rodas e pneus de 17 polegadas também se mostrou muito bem escolhido.
Motor que dá e sobra
Surpreendentemente, para uma minivan com 1.216 kg em ordem de marcha, o seu motor 1.0 Turbo com 125 cavalos de potência com gasolina e 130 cavalos com etanol, e 20,4 kgfm de torque, dá e sobra, para uso urbano, com no máximo quatro pessoas a bordo.
Foi neste tipo de uso que rodamos com o C3 Aircross, e não notamos falta de fôlego nesse conjunto mecânico que pode ser visto como insuficiente por muitas pessoas.
Mas é claro que aqui eu abro um parênteses e indico que esse desempenho fica legal para o gosto dos brasileiros, somente se você acionar a tecla Sport, que fica do lado esquerdo do volante, na parte de baixo do painel.
Isso pois, se você não acionar o modo Sport, terá respostas típicas de um motor pequeno com turbo, ou seja, precisará sempre estar enfiando o pé fundo no acelerador para obter uma boa performance, com o agravante de que, ao pisar pouco, o câmbio seleciona uma marcha mais alta, o que piora a situação.
Com o modo Sport acionado, temos aquele comportamento que o brasileiro prefere na cidade, de pressionar o pedal do acelerador apenas um pouquinho e já ter uma boa entrega de torque, o que é típico do comportamento de carros com motores maiores, como 1.8 ou 2.0, e sem turbo.
Aliás, esse modo Sport do C3 Aircross é um dos que mais alteram as respostas do acelerador, pelo que notamos nos carros recentemente avaliados aqui no NA. Ponto positivo.
O consumo que verificamos no nosso uso foi de 9,9 km/l de gasolina, na cidade.
Visual encarado como bonito e chamativo
Durante os dias em que avaliamos o C3 Aircross, sempre ouvimos coisas boas, de todas as pessoas que o viram.
Ele é visto como bonito, chamativo, atraente, e também bem maior do que parece ser pelas fotos.
Pena que esse entusiasmo todo não se traduza em muitas vendas.
Um modelo simplificado ao extremo, o mercado já percebeu
Ao falar dos preços do C3 Aircross, quase que acabamos chovendo no molhado, falando a mesma coisa que sempre falamos a respeito de qualquer carro vendido no Brasil.
“Caro demais, e poderia ser mais equipado.”
Mas, no caso específico do C3 Aircross, acredito que a simplificação foi levada a um ponto extremo, diferente até mesmo do que já é um ponto comum de todo o mercado.
E ele está percebendo isso. Fica claro, pelas 568 unidades vendidas em setembro, que pouquíssimas pessoas estão sendo convencidas a levar o modelo para casa.
Nos meses anteriores, as vendas ficavam sempre na faixa de 900 a 1.000 unidades, e infelizmente, no último mês, caíram bem.
Quem sabe, com reduções de preço, a coisa possa mudar?
Quer receber todas as nossas notícias em tempo real?Acesse nossos exclusivos: Canal do Whatsapp e Canal do Telegram!