
John Elkann, herdeiro bilionário da dinastia Agnelli — fundadora da Fiat — está descobrindo que sair do setor automotivo pode ser mais difícil do que parece.
Mesmo com décadas tentando modernizar os negócios da família e reduzir sua exposição à indústria automobilística, ele segue atolado na complexa e cambaleante Stellantis.
E, segundo um extenso levantamento da Bloomberg, o império automotivo que Elkann herdou pode estar mais perto de ser um fardo do que um ativo estratégico.
A Stellantis, criada em 2021 pela fusão da Fiat Chrysler com o grupo francês PSA, vem enfrentando turbulências internas desde a saída inesperada de Carlos Tavares no ano passado.
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A troca de comando trouxe Antonio Filosa, um nome interno, após uma busca tensa por substitutos.

Mas os problemas vão muito além da liderança: há um consenso crescente de que a montadora perdeu fôlego, principalmente pela condução agressiva de cortes e pela deterioração da marca Jeep — um dos pilares da empresa nos Estados Unidos.
Para Elkann, Stellantis representa o elo com o passado da família, mas também uma dor de cabeça persistente. O desejo dele seria trocar pistões por pixels — ou seja, abandonar a indústria automobilística e focar em negócios mais tecnológicos e escaláveis.
Como disse o professor Carlo Alberto Carnevale Maffè, da Universidade Bocconi, “a ferrugem da indústria automotiva europeia exige mais do que visões ambiciosas para brilhar novamente”.
A tentativa de virar essa página vem desde a época de Sergio Marchionne, o lendário CEO que comandou a recuperação da Fiat e liderou a aquisição da Chrysler no auge da crise financeira de 2008.

Marchionne, que morreu em 2018, tinha um plano claro: destrinchar os ativos do grupo, extrair valor e preparar o terreno para fusões e IPOs, como fez com a Ferrari em 2015.
Com sua morte, Elkann assumiu a responsabilidade de manter esse legado — mas as peças do quebra-cabeça continuam sem encaixar.
Enquanto isso, a holding Exor, braço financeiro da família, vem se diversificando agressivamente em áreas como mídia, saúde e tecnologia, reduzindo a exposição à Stellantis para menos de 15% do portfólio.
Mas apesar desse movimento, Elkann continua preso ao peso simbólico e financeiro da empresa automotiva.
E o cenário global não ajuda: tarifas impostas pelo governo Trump, mudanças nas políticas comerciais e a instabilidade da indústria automobilística tornaram o futuro ainda mais incerto.
O contraste é claro. Embora a fortuna dos Agnelli tenha crescido com manobras financeiras ao longo dos anos, a Stellantis segue patinando, e o setor automotivo tradicional dá sinais de esgotamento estrutural.
O negócio de carros, antes um símbolo de poder industrial, hoje parece mais uma âncora difícil de soltar.
Como todo bom drama empresarial de família, o dilema de Elkann é tão emocional quanto financeiro. Mesmo com todas as tentativas de seguir em frente, o sobrenome Agnelli continua atrelado aos carros — e, ao que tudo indica, essa história está longe de chegar ao fim.
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