Depois de conquistar o topo do mercado global de carros elétricos em 2024, superando até mesmo a Tesla em volume de vendas, a gigante chinesa BYD enfrenta agora o momento mais desafiador desde 2020.
Após anos de crescimento explosivo impulsionado por apoio estatal, expansão internacional e uma guerra brutal de preços, a montadora começa a sentir os efeitos de uma nova fase: queda nas vendas, margens pressionadas e intervenção do governo chinês.
Embora no exterior a marca continue avançando — com destaque para o Reino Unido, onde as vendas em setembro cresceram 880% em relação ao ano anterior —, o mercado interno, que representa a maior fatia dos negócios da BYD, vive um esfriamento preocupante.
Nos três meses até o fim de setembro de 2025, a montadora registrou queda anual nas vendas totais pela primeira vez em cinco anos.
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A retração obrigou a BYD a reduzir suas metas para o ano que vem.
Em vez das 5,5 milhões de unidades planejadas para 2025, agora a projeção é mais modesta: 4,6 milhões de carros.
Ao mesmo tempo, a montadora viu seu lucro trimestral cair 30% em agosto — a primeira queda desse tipo em mais de três anos.
A valorização obtida com a venda de modelos no exterior, com preços mais altos, ajudou, mas não foi suficiente para compensar a pressão do mercado doméstico.
A raiz do problema está na mudança de postura do governo chinês, que passou a intervir diretamente na guerra de preços iniciada em 2023.
Autoridades impuseram limites a descontos excessivos, atingindo uma das principais armas comerciais da BYD.
Além disso, a companhia foi forçada a encurtar drasticamente seus prazos de pagamento a fornecedores, que antes podiam chegar a 275 dias e agora, por imposição regulatória, devem ser liquidados em no máximo 60 dias.
A situação se agrava com o avanço de rivais como Geely, Leapmotor e até a recém-chegada Xiaomi, que vêm abocanhando parcelas do mercado com ofertas competitivas.
Para piorar, mercados internacionais como Europa e México começam a levantar barreiras contra a entrada em massa de carros elétricos baratos vindos da China, enquanto os EUA seguem praticamente fechados à marca devido a tarifas elevadas e sanções tecnológicas que devem endurecer ainda mais em 2027.
No mercado financeiro, o impacto foi imediato.
As ações da BYD despencaram em setembro após o anúncio da queda no lucro, eliminando mais de US$ 6 bilhões em valor de mercado.
Pouco tempo depois, veio outro golpe: o Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, anunciou a venda completa de sua participação na empresa — avaliada em cerca de US$ 9 bilhões antes do início do desinvestimento.
O movimento gerou uma nova queda de 7% nas ações em apenas três dias.
Ainda assim, há espaço para otimismo.
Analistas como Yuqian Ding, do HSBC, apontam que uma nova geração de modelos prevista para 2026, com tecnologias mais avançadas, pode impulsionar uma retomada.
A expectativa é que esse line-up consiga reacender o crescimento, especialmente fora da China, onde a marca continua atraindo novos clientes com seu apelo de custo-benefício e desempenho.
A trajetória da BYD é notável: criada em 1995 como uma fabricante de baterias para celulares, entrou no setor automotivo em 2003 e deu um salto em 2016, quando passou a investir pesado em design e inovação, contratando nomes de peso como Wolfgang Egger, ex-Audi e Lamborghini.
Com o apoio massivo do governo chinês e preços até 25% menores que concorrentes ocidentais, a empresa virou símbolo da nova era elétrica.
Mas o jogo mudou. Agora, liderar também significa resistir às pressões políticas, econômicas e regulatórias, tanto dentro quanto fora de casa.
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