Quem dirige por muitas cidades brasileiras, já se acostumou aos buracos e à buraqueira sem fim das vias urbanas.
E embora a gente acabe se habituando, ninguém gosta disso. Por isso, qualquer proposta para melhorar as condições do asfalto tende a chamar atenção.
E foi exatamente o que a General Motors fez: a montadora registrou uma patente nos Estados Unidos (US 2025/0200526 A1) com uma ideia ambiciosa de usar carros comuns – de modelos populares como o Chevrolet Trailblazer até elétricos premium como o Cadillac Lyriq – para mapear as condições das ruas em tempo real.
A lógica é simples: os carros modernos são equipados com uma infinidade de sensores. Eles monitoram desde a velocidade até forças G, além de utilizarem câmeras e radares para enxergar a pista.
Todos esses dados, hoje usados para manter o carro seguro e confortável, poderiam servir também para identificar falhas no pavimento.
Ao sentir um impacto forte – como o de uma cratera no asfalto – o carro registraria a localização via GPS, a intensidade do impacto e mandaria tudo para uma base de dados na nuvem.
Com milhares ou até milhões de veículos compartilhando informações semelhantes, seria possível criar um mapa em tempo real das ruas que mais precisam de manutenção.
Na teoria, governos e prefeituras poderiam usar esses dados (pagando uma taxa, claro) para priorizar reparos onde o problema é mais crítico. Isso tornaria a alocação de recursos públicos mais eficiente e, quem sabe, deixaria as vias em melhor estado com mais rapidez.
No entanto, a ideia apresentada na patente para por aí. Mas é fácil imaginar outras utilidades: os próprios motoristas poderiam ser beneficiados.
Informações sobre buracos ou trechos ruins poderiam ser integradas aos sistemas de navegação dos carros, oferecendo rotas alternativas que evitam vias danificadas – um alívio para donos de carros baixos ou com pneus de perfil esportivo.
Apesar dos benefícios evidentes, o projeto reacende uma preocupação crescente no mundo automotivo: a privacidade. Os carros conectados, com internet e sensores cada vez mais avançados, já são capazes de coletar uma enorme quantidade de dados sobre seus donos.
A própria GM foi recentemente acusada de vender informações de motoristas para terceiros, o que levou a empresa a enfrentar restrições legais. Outras marcas não são muito diferentes, segundo a Mozilla Foundation, que apontou um padrão preocupante de coleta de dados sensíveis por parte das montadoras.
Essas informações, além de serem utilizadas para fins comerciais, podem vazar ou acabar nas mãos de empresas de seguros e crédito, influenciando preços e pontuações.
O caso da Tesla, em que funcionários compartilharam imagens internas dos veículos entre si, mostra como os riscos não são apenas teóricos.
Com sensores e câmeras espalhados pelo veículo, qualquer vazamento pode incluir localização, hábitos e até imagens dos ocupantes, comprometendo seriamente a segurança pessoal.
A proposta da GM é tecnicamente interessante, e poderia contribuir muito para melhorar a mobilidade urbana.
Mas, num cenário onde a coleta de dados dos carros já se tornou um problema, confiar ainda mais informações sensíveis a empresas privadas requer cautela.
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