O mercado de caminhões de bombeiros nos Estados Unidos está no centro de uma crescente polêmica que agora chegou às mesas da Procuradora-Geral Pam Bondi e do presidente da Comissão Federal de Comércio, Andrew Ferguson.
Um novo apelo assinado pela Associação Internacional de Bombeiros (IAFF) e pelo grupo American Economic Liberties Project (AELP), que combate monopólios, pede que o governo federal investigue a concentração das fabricantes de veículos de emergência no país — especialmente os caminhões escada.
Segundo o documento, os preços desses veículos dobraram, ultrapassando a marca dos US$ 2 milhões por unidade, enquanto os prazos de entrega podem se estender por até quatro anos e meio.
O motivo, apontam as entidades, é a concentração do setor em torno de apenas três gigantes: REV Group (controlada por fundos de investimento), Oshkosh Corporation e Rosenbauer.
Esses três grupos já detêm, juntos, mais de dois terços do mercado americano.
A IAFF acusa os conglomerados de priorizarem lucros para investidores em detrimento da segurança pública, com base em dados preocupantes.
A REV, por exemplo, tem cerca de 33% de participação num mercado que movimenta US$ 3 bilhões por ano. A Oshkosh, que já adquiriu diversas concorrentes, responde por cerca de 25%, enquanto a austríaca Rosenbauer detém 8%.
As reclamações não se limitam aos preços: os prazos de entrega também entraram em colapso.
A REV encerrou 2024 com uma fila de pedidos de US$ 3,6 bilhões apenas na sua divisão de veículos de emergência.
A Oshkosh acumulava ainda mais, com US$ 5,3 bilhões em encomendas pendentes. Isso reflete uma explosão na demanda por novos veículos, que cresceu cerca de 43% ao ano entre 2021 e 2023, segundo a associação das fabricantes.
A pressão política também está crescendo.
Os senadores Elizabeth Warren (Massachusetts) e Jim Banks (Indiana) já investigam o impacto da presença de fundos privados no setor.
Em carta enviada à IAFF, os parlamentares expressaram preocupação com a priorização de lucros sobre o bem-estar da população e o funcionamento dos serviços de emergência.
As consequências disso já são vistas no mundo real. Durante os incêndios florestais que atingiram Los Angeles em janeiro, mais de 100 dos 183 caminhões dos bombeiros da cidade estavam fora de operação.
Muitos deles foram produzidos pela KME, uma fabricante independente de 70 anos adquirida pela REV em 2016 — que, cinco anos depois, decidiu fechar duas fábricas da marca.
Diante desse cenário, a IAFF e o AELP exigem que o Departamento de Justiça e a FTC tomem providências para investigar se há violação das leis antitruste.
Para os bombeiros, não se trata apenas de um problema financeiro, mas de vida ou morte.
“Estamos pagando o preço por essas decisões corporativas. Serve aos investidores, mas não serve ao público quando você liga para o 911 e o caminhão escada não vem”, afirmou Edward Kelly, presidente da IAFF.
Enquanto isso, as fabricantes tentam justificar os atrasos e preços elevados com a escassez de mão de obra qualificada, aumento de custos de produção e problemas logísticos desde a pandemia.
Mas, para quem depende de resposta rápida em emergências, as explicações corporativas não são suficientes.
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