
O Canadá está reavaliando sua tarifa de 100% sobre veículos elétricos vindos da China, numa reviravolta comercial que envolve carros, rivalidade geopolítica com os Estados Unidos e até óleo de cozinha.
E, curiosamente, quem está puxando essa revisão são governadores das províncias mais conservadoras do país, pressionados por uma crise que ameaça agricultores locais.
A revisão foi confirmada pela ministra das finanças do Canadá, que afirmou que o governo está analisando se as tarifas impostas à China — tanto sobre EVs quanto sobre aço e alumínio — ainda fazem sentido.
Essas medidas haviam sido implementadas em outubro passado, seguindo o exemplo dos EUA, como resposta às práticas comerciais consideradas desleais por parte do governo chinês.
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O setor automotivo é extremamente relevante para o Canadá, representando cerca de 10% das exportações nacionais.
Como é integrado à cadeia produtiva americana, especialmente com a região de Detroit, a imposição das tarifas foi vista inicialmente como um alinhamento natural com os interesses de Washington.
Mas o cenário mudou drasticamente após turbulências políticas nos Estados Unidos e o endurecimento unilateral de tarifas por parte do governo americano — o que acabou afetando diretamente a indústria canadense e gerando perdas de empregos.
Para muitos no Canadá, ficou claro que as decisões de Washington não apenas ignoraram a parceria histórica entre os dois países, como causaram danos concretos à economia local.
A resposta da China veio na mesma moeda — só que mirou um ponto estratégico: o mercado de canola.
O governo chinês anunciou tarifas de até 76% sobre a importação do óleo vegetal canadense, afetando diretamente os agricultores das províncias do oeste, como Alberta e Saskatchewan, onde a produção de canola é vital para a economia local.
Essas regiões, dominadas politicamente por partidos conservadores e com forte influência do agronegócio e da indústria petrolífera, passaram a liderar o lobby por uma reaproximação com a China.
A ideia é simples: se o Canadá aliviar as tarifas sobre os carros elétricos chineses, a China pode recuar nas medidas contra a canola.
O premier de Saskatchewan, Scott Moe, já está a caminho da China para tentar negociar pessoalmente a suspensão das tarifas.
Alberta, por sua vez, também pressiona o governo federal pela retirada das sobretaxas contra os veículos elétricos chineses, apesar de aplicar taxas punitivas sobre EVs dentro do próprio território.
A ironia da situação chama a atenção: províncias conservadoras, que tradicionalmente se opõem à eletrificação dos transportes e à influência chinesa, agora estão pedindo exatamente isso em nome da sobrevivência de seu agronegócio.
A estratégia parece estar surtindo efeito. Logo após o anúncio de que o Canadá está revendo suas tarifas, a China decidiu adiar temporariamente a aplicação das tarifas sobre a canola.
Isso dá fôlego aos produtores locais e reforça a ideia de que a abertura para os EVs chineses pode ser a chave para resolver o impasse comercial.
Mais do que uma questão de política comercial, o episódio evidencia a crescente pressão por independência do Canadá em relação às decisões políticas e econômicas dos Estados Unidos.
E, ao que tudo indica, até os setores mais céticos à eletrificação podem acabar dirigindo carros chineses — tudo para proteger o que realmente importa por lá: o óleo de canola.
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