
A indústria automotiva europeia vive um impasse: é pressionada por regulamentos cada vez mais rígidos ao mesmo tempo em que o consumidor resiste à eletrificação em massa.
A Comissão Europeia prepara novas diretrizes para acelerar a adoção de veículos elétricos, mas a realidade nas ruas não acompanha o entusiasmo dos burocratas de Bruxelas.
Apesar das metas ambiciosas, o público europeu — tanto pessoas físicas quanto empresas — ainda não aderiu aos EVs de forma expressiva.
No Reino Unido, por exemplo, o governo aplica medidas contraditórias, como a criação de um imposto de 3 centavos por milha para carros elétricos e, simultaneamente, um subsídio de até £3.750 para incentivar a compra desses modelos.
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Essas ações desalinhadas confundem o consumidor e minam a confiança no processo de transição energética.
Bruxelas afirma que deseja uma indústria automotiva sustentável, mas regras desconectadas da demanda real geram instabilidade e desorganizam todo o ecossistema produtivo.
Projetos de engenharia, cadeias de suprimento e decisões bilionárias de investimento exigem previsibilidade de longo prazo, algo que está faltando no cenário atual.
As metas de descarbonização da UE estão entre as mais agressivas do mundo, exigindo um ritmo de eletrificação que ignora a disposição real do mercado.
Ao mesmo tempo, montadoras europeias enfrentam uma avalanche de EVs chineses subsidiados, que chegam com preços agressivos e ameaçam a produção local.
Com capacidade industrial sobrando, a China tem condições de abastecer sozinha todos os novos compradores de carros na Europa.
Em apenas 12 meses, marcas chinesas dobraram sua participação de mercado na região, alcançando 5,5% em agosto, enquanto os EVs estagnaram em 16% — muito abaixo dos 25% exigidos para 2025.
A produção de veículos na UE já está 3 milhões de unidades abaixo dos níveis anteriores à pandemia.
Em 2024, cerca de 90 mil postos de trabalho no setor automotivo desapareceram, atingindo diretamente uma das bases de sustentação da estabilidade social europeia.
O que deveria ser uma transição ordenada está se transformando num processo de desmonte industrial.
O setor não pede socorro financeiro nem protecionismo, mas sim regras claras e aplicáveis.
A Ford, por exemplo, já reduziu seu quadro de funcionários, fechou fábricas antigas e investiu pesadamente na reestruturação de suas operações na Europa.
Mesmo com todos esses esforços, é impossível operar num ambiente regulatório que muda a cada ano e ignora o comportamento do consumidor.
O atual modelo “regulamenta que eles comprarão” falhou.
É preciso alinhar as metas ambientais com a realidade do mercado e oferecer um horizonte de planejamento confiável para a próxima década.
Isso inclui permitir que veículos híbridos sigam em circulação por mais tempo, funcionando como ponte entre os motores a combustão e os elétricos puros.
Também é fundamental incentivar essa transição com políticas consistentes, além de ampliar a infraestrutura de recarga para além dos centros urbanos ricos.
A situação dos veículos comerciais é ainda mais crítica: apenas 8% das vans vendidas são elétricas, mas as regulamentações as tratam como se fossem carros de luxo.
Esses utilitários são ferramentas de trabalho de profissionais como encanadores, floristas e pedreiros, e são essenciais para pequenas e médias empresas que respondem por mais da metade do PIB europeu.
Se a Europa deseja manter sua relevância industrial, precisa repensar sua estratégia agora.
Do contrário, corre o risco de virar um depósito de EVs chineses enquanto suas próprias fábricas acumulam poeira.
Texto adaptado de um artigo escrito pelo CEO da Ford, para o Financial Times.
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