Em entrevista reveladora ao podcast Decoder, Jim Farley, CEO da Ford, fez uma rara autocrítica pública sobre os desafios da montadora com os carros elétricos e deixou claro: o Mustang Mach-E não representa mais o futuro da marca.
Segundo ele, a próxima fase da eletrificação da empresa passa por uma reinvenção completa da forma como os veículos são projetados, fabricados e vendidos.
O Mach-E, lançado com alarde como resposta direta ao Tesla Model Y, foi elogiado por seu desempenho e estilo, mas acabou ficando atrás em eficiência e custos de produção.
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Farley reconheceu que o SUV elétrico tem limitações técnicas importantes e que a Ford aprendeu muito com os erros da primeira geração de seus EVs.
Agora, a aposta é em uma plataforma completamente nova, batizada de Ford Universal EV Platform, que deve chegar ao mercado apenas em 2027.

O novo projeto vem sendo desenvolvido em sigilo por uma equipe independente baseada na Califórnia, longe dos processos tradicionais da montadora.
A estratégia, segundo Farley, foi tirar o time do “castelo” de Dearborn e permitir uma abordagem totalmente diferente — com mais ousadia, menos burocracia e foco em eficiência radical.
A inspiração vem da filosofia original de Henry Ford: criar um carro acessível, universal e com apelo massivo.
Apesar do tom otimista, Farley foi direto ao admitir que o mercado global de veículos elétricos está sendo dominado pelas montadoras chinesas, principalmente a BYD.
Segundo ele, nem Ford, nem GM e muito menos Tesla estão hoje em condições de competir diretamente com os preços e tecnologias oferecidos na China.

“A única forma de vencer é inovar de forma extrema. Não dá mais para competir com abordagens incrementais”, afirmou.
Essa visão pragmática se reflete em mudanças profundas na própria estrutura da empresa.
O executivo revelou que o novo projeto está sendo desenvolvido com uma filosofia de simplicidade máxima, que inclui carrocerias em três peças, redução drástica de parafusos, chicotes elétricos mais leves e custos radicalmente mais baixos.
Um dos objetivos é chegar a um carro elétrico que custe cerca de 30 mil dólares, mas que também seja lucrativo — algo que, segundo ele, nenhuma montadora conseguiu até agora.
Farley também falou sobre o futuro digital dos veículos e criticou a tentativa de algumas marcas de substituir smartphones por sistemas proprietários no painel dos carros.

Defensor da integração com Apple CarPlay e Android Auto, ele reforçou que a Ford quer ser parte do ecossistema digital do cliente, e não substituí-lo.
No entanto, ele alertou: se empresas como a Apple quiserem controlar o carro completamente — desde o entretenimento até o acionamento do motor —, a Ford poderá ser forçada a tomar outro rumo.
Sobre a experiência com direção autônoma, a prioridade da montadora está no desenvolvimento de sistemas de nível 3, focados em uso em rodovias, com segurança e confiabilidade como diferenciais.
A promessa é que, em breve, o motorista poderá tirar as mãos do volante e assistir a um filme enquanto percorre longos trajetos, tudo com respaldo da tecnologia BlueCruise.
No fim da entrevista, Farley ainda defendeu uma revalorização das carreiras técnicas nos Estados Unidos, criticou o abandono da formação profissionalizante e alertou para a escassez de trabalhadores na chamada “economia essencial” — de operários a eletricistas.
Para ele, valorizar essas profissões é tão importante quanto investir em inteligência artificial e mobilidade elétrica.
Com um discurso sincero, crítico e repleto de autoconhecimento, Jim Farley mostrou que a Ford está longe de ter todas as respostas sobre o futuro dos carros elétricos.
Mas uma coisa ficou clara: a montadora sabe que precisa mudar. E rápido.
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