
Poucos meses depois de se mudar para Pequim, um fato inusitado chamou a atenção de um morador estrangeiro: ele estava dormindo melhor do que em qualquer outra cidade onde já havia morado.
Em metrópoles como Londres, Taipei e Hong Kong, o sono era constantemente interrompido por caminhões de lixo, vans barulhentas e entregas matinais. Mas em Pequim, o silêncio era surpreendente.
A diferença não estava apenas na altura do apartamento ou no bairro residencial. A cidade como um todo parecia mais silenciosa, algo que se repetia em outras metrópoles chinesas.
A explicação mais plausível? A popularização dos veículos elétricos.
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Com aceleração mais suave, frenagem controlada e motores quase imperceptíveis em baixa velocidade, os EVs estão mudando o ambiente sonoro das grandes cidades chinesas.
Segundo estudos, o benefício sonoro dos elétricos desaparece acima de 50 km/h, quando o ruído dos pneus passa a predominar. Mas nas zonas urbanas, onde o trânsito flui devagar, a diferença é clara.
Relatórios do Ministério do Meio Ambiente da China mostram melhora contínua na conformidade com os níveis aceitáveis de ruído. Em 2024, 99,4% das vias urbanas respeitavam os limites sonoros durante o dia, contra 92,6% em 2016.
À noite, o índice saltou de 50,5% para 76,3% no mesmo período.

As cidades que lideram esses números — como Shenzhen e Xangai — são também as que mais adotaram os carros elétricos.
No entanto, o silêncio urbano não é mérito exclusivo dos EVs.
Desde a crise imobiliária de 2021, o ritmo acelerado das construções desacelerou drasticamente. O barulho de obras, antes onipresente, desapareceu de muitas paisagens urbanas.
Além disso, medidas urbanísticas eficazes começaram a surtir efeito. Em 2023, a China instalou 833 mil metros de barreiras acústicas e aplicou 32 milhões de metros quadrados de pavimentação fonoabsorvente.
Áreas de silêncio obrigatório foram criadas, caminhões pesados foram proibidos de circular no centro das cidades e sensores instalados em parques alertam autoridades sobre atividades excessivamente barulhentas.
Com o tráfego mais calmo, outro tipo de ruído começou a se destacar: o humano.
Somente em 2024, o país recebeu quase seis milhões de queixas por barulho — e 71% delas estavam relacionadas a pessoas, não a veículos. Música alta, gritaria e vizinhos barulhentos lideraram as reclamações.
Governos locais começaram a agir: bares e karaokês foram relocados ou multados, e em Jiangxi, uma campanha conjunta contra ruídos em casas de KTV impôs multas quando os cantores ultrapassavam o limite sonoro permitido.
O cenário atual nas cidades chinesas sugere algo inédito: é possível viver em uma megacidade e ainda assim ter noites de sono restauradoras.
Com a redução do barulho nas ruas, até mesmo os mais céticos — e acostumados com fones de ouvido ou tampões — estão deixando os acessórios de lado ao dormir.
Se a China está, de fato, oferecendo uma prévia do futuro urbano silencioso, talvez esteja também apontando um caminho para um novo tipo de qualidade de vida nas cidades do século XXI.
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