O colapso financeiro da Northvolt, maior promessa europeia no setor de baterias para veículos elétricos (EVs), trouxe um golpe duro para os planos da região de construir uma indústria independente e competitiva.
Na última quinta-feira, a startup sueca entrou com pedido de proteção contra falência nos EUA, sob o Capítulo 11, após falhar em obter financiamento adicional de investidores e credores como Volkswagen e Goldman Sachs.
Desde sua fundação em 2016, a Northvolt levantou mais de US$ 10 bilhões em capital próprio, empréstimos e financiamento público.
Entre os acionistas, Volkswagen e Goldman Sachs possuem cerca de 20% das ações. Apesar desse apoio, a empresa agora busca entre US$ 1 bilhão e US$ 1,2 bilhão para se reestruturar até março de 2024.
Nos últimos meses, a Northvolt reduziu suas operações e cortou empregos para estabilizar suas finanças, mas enfrentou dificuldades em atingir volumes suficientes de produção de baterias de alta qualidade.
A perda de um contrato de € 2 bilhões com a BMW em junho agravou a crise, expondo os desafios da Europa em criar uma cadeia de valor robusta no setor de baterias.
O lento crescimento na demanda por EVs na Europa contrasta com o avanço acelerado da China, que controla 85% da produção global de células de bateria, segundo a Agência Internacional de Energia.
Fabricar baterias em escala é um processo tecnicamente complexo, e a Northvolt não conseguiu atender às exigências de seus clientes, apontou Andy Palmer, fundador da consultoria Palmer Automotive.
“Os chineses estão 10 anos à frente do Ocidente em tecnologia de baterias. Isso é um fato,” afirmou Palmer.
Além da Northvolt, ao menos oito empresas suspenderam ou abandonaram projetos de baterias na Europa em 2023, incluindo a chinesa Svolt e a joint venture ACC, liderada por Stellantis e Mercedes-Benz.
Dados da Benchmark Minerals mostram que a capacidade projetada para produção de baterias na Europa até 2030 caiu 176 gigawatts-hora este ano, praticamente equivalente à capacidade instalada atual do continente.
Especialistas pedem que a Europa reavalie sua abordagem para apoiar startups locais e competir com gigantes chinesas como CATL e BYD.
James Frith, chefe europeu da Volta Energy Technologies, destacou a necessidade de planejamento estratégico: “A Europa precisa repensar como apoia um setor nascente antes que a China domine toda a cadeia de valor.”
A Northvolt, que possui dívidas de US$ 5,8 bilhões, deve cerca de US$ 313 milhões ao Banco Europeu de Investimento (EIB).
Apesar de reconhecer o interesse estratégico de uma indústria europeia de baterias, o vice-presidente do EIB, Thomas Östros, enfatizou a importância de proteger os interesses da instituição e da União Europeia.
O cofundador e CEO em saída da Northvolt, Peter Carlsson, expressou preocupação com o futuro do setor. “Estou um pouco preocupado que a Europa esteja desistindo do sonho de competir com a China. Vamos nos arrepender disso em 20 anos se recuarmos agora,” afirmou.
A trajetória da transição para EVs enfrenta um momento de hesitação, com dúvidas de montadoras, formuladores de políticas públicas e investidores.
Enquanto a Europa tenta equilibrar ambições industriais com realidade financeira, o colapso da Northvolt é um lembrete contundente dos desafios de construir uma indústria globalmente competitiva em meio à liderança dominante da China.
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