Com corte de 280 mil carros na meta anual, Honda está em crise global diante do avanço das marcas chinesas

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A Honda, uma das maiores montadoras do Japão, acaba de revisar para baixo suas projeções financeiras e de vendas para o ano fiscal, refletindo uma série de desafios que vêm se acumulando no horizonte da marca.

Além da pressão das tarifas dos Estados Unidos e da escassez global de semicondutores, o que mais preocupa a fabricante é a ofensiva cada vez mais agressiva das montadoras chinesas de veículos elétricos em mercados que antes eram dominados por marcas japonesas — especialmente no Sudeste Asiático.

A montadora reduziu sua projeção anual de lucro em 20%, um corte significativo que se tornou público após o fechamento do mercado na última sexta-feira.

A empresa apontou custos pontuais relacionados à eletrificação e problemas no fornecimento de chips da Nexperia, empresa controlada pela chinesa Wingtech e que teve parte de suas operações restringidas pelo governo holandês em setembro.

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honda super one (1)
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As tarifas americanas sobre veículos e componentes devem impactar a Honda em até 385 bilhões de ienes (US$ 2,6 bilhões), uma perda ligeiramente menor do que os 450 bilhões inicialmente estimados.

Ainda assim, o mercado reagiu de forma negativa: as ações da montadora caíram 4,7% na segunda-feira.

Mas o desafio maior está mesmo na Ásia.

Até recentemente, marcas como a Honda acreditavam que poderiam manter bons resultados nos mercados asiáticos fora da China, mesmo com as dificuldades enfrentadas no maior mercado automotivo do mundo.

honda 0 alfa 3
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Essa estratégia já mostra sinais claros de esgotamento.

Em países como Tailândia, Indonésia e Malásia, o crescimento das montadoras chinesas, como a BYD, vem alterando o equilíbrio.

“O ambiente competitivo na região está muito acirrado, e perdemos nossa vantagem em preços”, admitiu Noriya Kaihara, vice-presidente executivo da Honda.

Os números confirmam essa tendência: a marca reduziu em mais de 10% sua previsão de vendas para a Ásia, passando de 1,09 milhão para 925 mil unidades, incluindo a China.

honda super one 2
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Nos mercados fora da China, o recuo é ainda mais dramático — uma queda de 75 mil unidades em relação ao ano anterior, quando a expectativa era de uma queda modesta de apenas 5 mil.

Na Indonésia, as vendas da Honda caíram quase 30% nos nove primeiros meses do ano. Na Malásia, a retração foi de 18%, e na Tailândia, de 12%.

Para piorar, não há novos modelos previstos para a região neste ou no próximo ano fiscal, exceto uma atualização do sedã compacto City — uma janela de oportunidade que pode ser explorada por rivais mais ágeis.

Diante da pressão, a Honda e outras montadoras japonesas começam a direcionar seus esforços para a Índia, onde as marcas chinesas ainda enfrentam fortes restrições.

A empresa anunciou que o país se tornará uma base de produção e exportação de modelos elétricos, reforçando a importância estratégica da região.

Ainda assim, a situação é delicada. A divisão de automóveis da Honda registrou prejuízo operacional pelo terceiro trimestre consecutivo, enquanto a área de motocicletas segue altamente lucrativa.

Para especialistas, como Yoshio Tsukada, isso escancara um desequilíbrio estrutural. “Se a Honda separasse os negócios de duas e quatro rodas, a divisão de motos prosperaria globalmente, mas os carros continuam em situação crítica”, avalia o analista.

Além da Ásia, a Honda também enfrenta problemas na América do Norte, seu maior mercado.

A falta de chips resultou em paralisações no México e ajustes na produção nos EUA e no Canadá, o que impactou a previsão de lucro operacional em cerca de US$ 1 bilhão.

Com ações que caíram 1,4% no ano — enquanto o índice Nikkei 225 subiu 28% —, a Honda vem perdendo valor de mercado e protagonismo. Uma possível fusão com Nissan ou Mitsubishi, aventada no passado, parece hoje improvável.

Segundo Tsukada, “seria apenas uma união de empresas em posição frágil”.

Para a Honda, o cenário é de alerta. Enfrentando pressão de todos os lados, a montadora terá que repensar profundamente seu modelo de negócios se quiser manter relevância global em um setor cada vez mais dominado por marcas chinesas, elétricas e competitivas.

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Autor: Eber do Carmo

Fundador do Notícias Automotivas, com atuação por três décadas no segmento automotivo, tem 20 anos de experiência como jornalista automotivo no Notícias Automotivas, desde que criou o site em 2005. Anteriormente trabalhou em empresas automotivas, nos segmentos de personalização e áudio.


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