
Nos últimos anos, os números pareciam indicar que os Estados Unidos finalmente estavam acelerando na direção dos veículos elétricos.
Em 2023, as vendas de EVs ultrapassaram 1,2 milhão de unidades, cinco vezes mais do que em 2019.
No último agosto, os carros movidos a bateria atingiram 10% das vendas totais no país, um recorde histórico segundo a S&P Global Mobility.
Mas por trás desses dados há um cenário bem menos otimista: boa parte desse crescimento foi apenas uma corrida para aproveitar o subsídio federal de US$ 7.500, que deixou de valer no fim de setembro.
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Sem ele, até gigantes como Ford, GM e Tesla já preveem retração.

A comparação internacional mostra o atraso americano. No Reino Unido, veículos elétricos e híbridos responderam por quase 30% das vendas no ano passado.
Na Europa, o índice já gira em torno de um em cada cinco carros novos. Na China, maior mercado do mundo, os eletrificados estão prestes a se tornar maioria.
Em países menores, como Noruega, a penetração é ainda mais impressionante, beirando a universalização.
Os EUA, segunda maior praça automotiva do planeta, continuam sendo um dos retardatários na corrida global dos EVs.
Analistas apontam que esse atraso não é por falta de capacidade industrial, mas por políticas públicas inconsistentes.

Enquanto Europa e China adotaram programas robustos de subsídios, troca de frota, regras de emissões e metas obrigatórias, os EUA oscilaram entre estímulos e cortes.
O governo Biden tentou recuperar o tempo perdido, endurecendo normas de poluição, investindo bilhões em infraestrutura de recarga e ampliando o crédito fiscal para compradores.
Mas as mudanças políticas e ideológicas minaram esse esforço: Donald Trump já prometeu reverter esses programas, classificando-os como imposições “forçadas” ao consumidor.
Esse cenário cria uma realidade dura para o mercado, segundo reportagem da BBC. Sem incentivos, os elétricos continuam caros para a maioria dos americanos.
O preço médio de um EV no país passa dos US$ 57 mil, cerca de 16% acima da média geral dos carros novos.

Mesmo o modelo mais barato, o Nissan Leaf, custa cerca de US$ 30 mil, enquanto na Europa já há opções equivalentes por menos de £20 mil.
Montadoras como Hyundai anunciaram cortes para compensar o fim do crédito fiscal, mas a maior parte das empresas não pretende seguir esse caminho, pressionada também pelas tarifas impostas recentemente a veículos e peças estrangeiras.
O resultado é um ciclo de desvantagem competitiva. Sem apoio constante, a demanda enfraquece, os preços não caem e as montadoras reduzem investimentos.
Enquanto isso, empresas chinesas como BYD, barredas do mercado americano por tarifas, avançam em praticamente todos os outros mercados com preços agressivos e tecnologia competitiva.
Pesquisadores já alertam que as mudanças de política nos EUA podem reduzir ainda mais os investimentos na área, tornando difícil recuperar o espaço perdido.
Para especialistas como Stephanie Brinley, da S&P Global Mobility, o momento é crítico: “O próximo ano será difícil. É o primeiro teste real da demanda por elétricos sem os incentivos.”
Katherine Yusko, do American Security Project, é mais incisiva: “Esses subsídios foram criados para nivelar o jogo. Agora, os EUA têm muito chão para recuperar.”
Enquanto outros países correm para liderar a transição, os Estados Unidos parecem presos em debates políticos e estratégias instáveis.
O resultado é claro: mesmo com toda a força industrial que possuem, ficaram para trás na corrida global dos EVs — e o custo desse atraso pode ser perder a dianteira na maior revolução automotiva desde o carro a combustão.
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