Ryan Xu, uma empreendedora de Guangdong, e seu marido, proprietários de um Porsche 911 e de um Mercedes-Benz Classe G, pareciam ser clientes perfeitos para os fabricantes alemães.
No entanto, após a compra de um Porsche Taycan, suas opiniões mudaram drasticamente.
Para ela, o modelo elétrico de luxo, que custa mais de 100 mil dólares, oferecia um desempenho decepcionante em termos de tecnologia. “Era apenas um Porsche eletrificado – e nada mais”, comentou a empresária de Guangdong, destacando os problemas de software do carro.
Essa decepção reflete um sentimento crescente entre os consumidores chineses, que agora priorizam refinamento tecnológico em vez de atributos tradicionais como potência e dirigibilidade.
Com o mercado chinês em rápida transição para veículos elétricos (EVs), gigantes alemães como Volkswagen, Mercedes-Benz e BMW estão perdendo terreno, colocando bilhões de euros em risco.
Nos recentes resultados de vendas do terceiro trimestre, as três montadoras relataram quedas acentuadas na China, seu maior e mais lucrativo mercado.
A BMW viu suas vendas despencarem 30%, a maior queda em quatro anos, enquanto a Mercedes teve uma retração de 13%. A Porsche, por sua vez, sofreu um declínio de 19% nas vendas, o pior desempenho trimestral na China em uma década.
Essa crise para as fabricantes alemãs surge em meio ao sucesso de concorrentes locais, como a BYD, que oferecem EVs mais acessíveis e com tecnologia superior.
Empresas como Tesla também capitalizaram nesse espaço, ganhando a preferência dos consumidores chineses, que agora veem marcas locais com melhores opções em termos de design, tecnologia de software e até mesmo conforto.
A queda de desempenho das marcas alemãs na China expõe um problema estrutural, postado pelo site da Bloomberg: por muitos anos, essas montadoras dominaram o mercado de carros movidos a combustão e se tornaram complacentes, subestimando a ascensão de concorrentes e a transição para carros elétricos.
Segundo Stephen Dyer, diretor da consultoria AlixPartners, essas empresas precisam mudar rapidamente suas estratégias para se adaptarem ao novo cenário competitivo.
Os esforços para recuperar participação de mercado estão sendo intensificados. A Volkswagen, por exemplo, formou parcerias com fabricantes chineses, como a Xpeng, para desenvolver tecnologias avançadas em EVs e melhorar a experiência de seus usuários.
A Mercedes também está investindo em tecnologia chinesa, com acordos para baterias da CATL e serviços digitais da Tencent. A BMW, por sua vez, está trabalhando com a Great Wall para produzir modelos elétricos da marca Mini.
No entanto, esse movimento para revitalizar suas operações na China é complexo.
Com mais de 40 fábricas operando no país, as montadoras alemãs têm um grande envolvimento local, o que torna inviável um recuo significativo. Além disso, a burocracia local e as parcerias com entidades governamentais dificultam quaisquer tentativas de reestruturação.
Apesar da aposta de longo prazo, os fabricantes alemães enfrentam uma competição feroz. Os consumidores chineses estão cada vez mais inclinados a optar por marcas nacionais que oferecem carros com tecnologia superior, preços mais baixos e inovação constante.
Como exemplo, a família Xu vendeu o Taycan e comprou um Nio ET5, um modelo elétrico de uma marca chinesa que oferece comandos de voz mais avançados e até uma recepção personalizada para seus filhos quando entram no carro.
Os carros alemães mal conseguem competir com esse nível de tecnologia”, disse Xu, afirmando que modelos como Mercedes, BMW e Audi já não podem mais ser considerados verdadeiros veículos de luxo no país.
Sem uma resposta rápida, o declínio das fabricantes alemãs no mercado chinês pode se agravar, e o futuro da Volkswagen, Mercedes e BMW na China está em jogo.
Mesmo com iniciativas para melhorar seus produtos e a experiência do cliente, a pressão sobre essas montadoras aumenta à medida que o cenário se torna cada vez mais competitivo e voltado para a inovação local.
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