Nos Estados Unidos, a icônica Harley-Davidson enfrenta um esvaziamento preocupante de sua rede de concessionárias, com lojas fechando repentinamente de costa a costa.
Do tradicional endereço em San Francisco ao interior de Illinois e até a ensolarada Titusville, na Flórida, o cenário se repete: portas fechadas, placas retiradas e nenhuma explicação clara para os clientes fiéis.
Algumas lojas culparam má gestão, outras mencionaram a economia instável, mas muitas simplesmente desapareceram sem aviso.
Uma concessionária centenária e familiar em San Francisco encerrou as atividades em 2024, apenas seis anos após passar para novos gestores que não conseguiram atender aos padrões da matriz.
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Em Nova York, uma loja querida por motociclistas resistiu por quase três décadas, mas não sobreviveu ao aperto financeiro e encerrou as operações oferecendo até 75% de desconto para se livrar do estoque.
A marca ainda mantém mais de 650 lojas ativas nos EUA, mas o encolhimento é visível, principalmente em cidades menores.
O que está por trás desse colapso é uma combinação perigosa de lucros centralizados e vendas em queda livre.
De acordo com o Conselho de Concessionárias da Harley-Davidson, muitos lojistas simplesmente deixaram de lucrar com a operação.
Durante a pandemia, a escassez de motos gerou lucros inesperados: sem desconto e com alta demanda, as vendas explodiram.
Mas o fim do isolamento veio acompanhado de juros altos, queda na procura e excesso de estoque empurrado pela fábrica para as lojas.
As concessionárias, que investiram pesado em prédios luxuosos no auge da pandemia, agora enfrentam custos fixos altos e pouco movimento no showroom.
Além disso, o modelo de negócios da Harley tem favorecido operações maiores e centralizadas, o que pressiona ainda mais as lojas independentes.
A digitalização da marca, com plataformas de e-commerce cada vez mais completas, também tem drenado os clientes das lojas físicas.
Mesmo com lucros vultosos, a situação no varejo é crítica: no terceiro trimestre de 2025, a Harley anunciou um lucro de R$ 1,8 bilhão, mais que o triplo do mesmo período em 2024.
Só que esse resultado veio não da venda de motos, mas da venda da divisão de serviços financeiros, que rendeu à empresa R$ 6 bilhões em caixa.
Ao mesmo tempo, as vendas globais de motocicletas caíram 6% no período, com queda de 5% apenas na América do Norte.
A nova liderança da Harley-Davidson, sob comando do CEO Artie Starrs desde agosto de 2025, tenta conter o impacto com recompra de ações e corte de dívidas.
Por trás da contabilidade otimista, no entanto, está um dado alarmante: o número de unidades enviadas às lojas despencou 45% nos últimos dez anos.
Enquanto os lucros são mantidos com estratégias financeiras, o elo direto com os motociclistas – representado pelas concessionárias – está se rompendo.
Sem esse ponto de contato, a cultura que sustentou a Harley por mais de um século começa a desaparecer das estradas e das cidades americanas.
A marca pode até seguir lucrando nos relatórios trimestrais, mas o som do motor clássico vai ficando cada vez mais raro nas rotas que ajudou a eternizar.
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