
As mesmas baterias de íon-lítio que alimentam celulares e carros elétricos agora estão se tornando peças fundamentais na transformação das redes elétricas globais.
Instaladas ao lado de parques solares e turbinas eólicas, essas baterias — muitas do tamanho de contêineres marítimos — armazenam energia quando há sobra e a liberam quando a demanda aumenta, evitando apagões e reduzindo a dependência de usinas caras e poluentes.
Embora a tecnologia tenha sido inventada nos Estados Unidos nos anos 1970, por muito tempo foi considerada inviável para uso em larga escala nas redes elétricas.
Isso começou a mudar há cerca de 15 anos, com um projeto pioneiro no deserto do Atacama, no Chile, segundo reportagem do The New York Times.
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Em uma área árida a quase 3.000 metros de altitude, engenheiros da empresa americana AES conectaram uma bateria ao sistema elétrico chileno.
O local, isolado e sujeito a temperaturas extremas, foi descrito como “testar a bateria na Lua” pelo engenheiro Joaquín Meléndez.
O Chile enfrentava, na época, uma crise energética provocada pela escassez de gás vindo da Argentina, o que forçou o país a recorrer ao carvão.
Mas essas usinas não eram ágeis o suficiente para lidar com as oscilações de consumo causadas pelas minas de cobre e lítio.
A resposta veio com a bateria: ela podia liberar energia instantaneamente, enquanto as térmicas levavam até 12 minutos para entrar em operação.

O experimento foi um sucesso e inspirou projetos semelhantes nos Estados Unidos, inicialmente em Nova York, Texas e Califórnia.
De lá para cá, o uso global dessas baterias explodiu, impulsionado pela queda de 90% nos custos em apenas 15 anos.
Hoje, elas são vistas como essenciais para manter o equilíbrio entre geração e consumo, principalmente com a rápida expansão da energia solar e eólica.
Na Califórnia, por exemplo, os alertas de economia de energia nos dias quentes desapareceram desde 2022, graças às baterias que estendem o uso da energia solar mesmo após o pôr do sol.
A capacidade de armazenamento no estado cresceu 30 vezes desde 2018.

Segundo a Agência Internacional de Energia, o avanço não se limita aos EUA. China, Europa, Índia, Chile e Austrália também estão instalando grandes volumes de baterias para sustentar suas redes com fontes renováveis.
Mas o caminho não foi livre de obstáculos. No início, executivos do setor energético viam as baterias como arriscadas e caras.
Alguns até hoje resistem — especialmente em regiões como o sudeste dos EUA, onde o uso ainda é tímido comparado à Califórnia ou ao Texas.
Além disso, houve casos de incêndio, como o que destruiu um complexo de baterias na Califórnia em 2023.
Especialistas apontam que o incidente envolveu um tipo de bateria já em desuso e que as novas instalações são ao ar livre, com menor risco de propagação de fogo.
Enquanto isso, o Chile colhe resultados: em dezembro de 2023, mais de 40% da energia gerada no país veio de fontes solares e eólicas, contra 19% cinco anos antes.
Hoje, baterias são vistas não apenas como armazenamento, mas como substitutas das chamadas usinas de pico, que funcionam por poucas horas ao dia para atender à alta demanda.
“Por que construir uma usina que você só usa 5% do tempo?”, questiona Christopher Shelton, executivo da AES e um dos principais defensores da tecnologia.
O que antes era experimental em um canto remoto do deserto hoje se tornou parte essencial de um novo modelo energético.
E, ao que tudo indica, as baterias vieram para ficar — e mudar radicalmente a forma como o mundo produz e consome energia.
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