A histórica fábrica da Volkswagen em Bruxelas, que atualmente produz o Audi Q8 E-Tron, enfrenta o risco de fechamento em meio a um cenário desafiador para o mercado de veículos elétricos (EVs) na Europa.
A planta, em operação desde 1949 e com capacidade para fabricar 120 mil veículos ao ano, produz o Q8 E-Tron — SUV elétrico de luxo com preço médio de €80.000 —, mas as vendas estão longe das expectativas.
Em 2022, a produção atingiu 47.900 unidades, e caiu para 37.400 no ano seguinte. Em 2024, apenas 23.900 unidades foram entregues, refletindo uma demanda abaixo do esperado.
Essa situação levou a Volkswagen a considerar seriamente o encerramento das operações da planta, o que colocaria em risco 3.000 empregos e já gerou protestos de trabalhadores e sindicatos em Bruxelas.
Ronny Liedts, representante do sindicato ACV-CSC, expressou a insatisfação dos trabalhadores, afirmando que a Volkswagen parece decidida a fechar a fábrica rapidamente, sem dar espaço para alternativas viáveis.
Os sindicatos defendem que o problema não está na falta de interesse por EVs, mas sim na inacessibilidade dos modelos atuais, que são caros e voltados para consumidores de alta renda.
A transição para EVs na Europa ainda avança em um ritmo mais lento do que o previsto pelas montadoras. No período entre janeiro e agosto de 2023, os veículos elétricos representaram apenas 12,6% das vendas de automóveis na União Europeia, um número modesto para o que se esperava como a “era dos EVs.
Enquanto a Volkswagen e outras fabricantes apostaram em modelos luxuosos e de alto valor como o Q8 E-Tron, o consumidor europeu médio encontra dificuldades para arcar com esses preços elevados.
Para Hillal Sor, sindicalista da Metallos FGTB, o erro das montadoras foi buscar lucratividade imediata, ignorando que a fase de transição para o mercado de EVs exigiria paciência e margens de lucro mais contidas.
Segundo Sor, essa estratégia levou a uma superprodução de modelos de luxo e caros que, agora, se acumulam nos estoques, forçando grupos como a Volkswagen a considerar o fechamento de fábricas em países como Bélgica e Alemanha.
Além disso, o cenário se torna ainda mais desafiador com a crescente ameaça de concorrência dos fabricantes chineses, que têm lançado modelos elétricos a preços bem mais acessíveis.
Caso a União Europeia não imponha tarifas sobre os EVs chineses, as montadoras locais, como a Volkswagen, poderão enfrentar ainda mais dificuldades para competir em um mercado onde o custo é decisivo para o consumidor.
A situação crítica da planta de Bruxelas representa um sinal de alerta para a indústria automotiva europeia. A demanda crescente por EVs existe, mas não necessariamente na categoria de luxo.
Quer receber todas as nossas notícias em tempo real?Acesse nossos exclusivos: Canal do Whatsapp e Canal do Telegram!