A marca RAM, famosa por suas picapes robustas, está tentando virar o jogo depois de um primeiro trimestre desastroso em 2025.
Em vez de celebrar resultados, a montadora amarga uma queda de quase 12% nas vendas dos EUA, e ocupa um distante terceiro lugar no ranking de picapes grandes, colada perigosamente na traseira da GMC Sierra.
Para reverter essa tendência preocupante, a empresa anunciou uma medida ousada: todos os modelos 2026 da linha RAM terão 10 anos ou 160 mil quilômetros de garantia no powertrain — motor, transmissão, eixos, diferenciais e afins.
Na prática, essa é a maior cobertura entre as grandes do segmento. Para comparação, a Ford cobre apenas cinco anos ou 96 mil quilômetros no F-150, enquanto a Chevrolet oferece os mesmos cinco anos, mas com os 160 mil km da RAM.
No papel, a jogada é inteligente. Na realidade, revela um problema estrutural mais profundo: o financiamento das picapes está se alongando tanto que a garantia de fábrica padrão já não cobre sequer o tempo do financiamento.
De acordo com o CEO da RAM, Tim Kuniskis, cerca de 80% dos compradores de picapes hoje financiam seus veículos por mais de cinco anos. Em outras palavras, a maioria dos clientes ainda está pagando o carnê quando a garantia tradicional já expirou.
A nova cobertura, portanto, seria uma forma de acompanhar o comportamento do consumidor e passar mais segurança durante o uso.
Mas nem tudo são flores. A nova garantia vale apenas para o primeiro dono e está excluída de vendas para frotistas. Ou seja, se você comprar uma RAM 2026 seminova, a cobertura especial não será transferida.
Os modelos elétricos da linha, como o ProMaster EV, continuam com os tradicionais oito anos ou 160 mil km de garantia para o powertrain, sem mudanças.
Apesar da iniciativa ser bem-vinda, ela expõe um dilema maior: o custo de um veículo novo está tão alto que os consumidores estão se prendendo a dívidas de 84 meses ou mais — um risco considerável em tempos de economia instável e aumento da inadimplência.
Ainda que a RAM tente se posicionar como uma marca de confiança ao estender sua cobertura, o problema central é outro: está cada vez mais difícil pagar por uma picape nova sem comprometer o orçamento por quase uma década.
A garantia de 10 anos soa como música para os ouvidos, mas seria ainda melhor se os veículos fossem financeiramente acessíveis. Não adianta oferecer longa cobertura para um produto que já não cabe no bolso de grande parte dos americanos.
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