Dívida bilionária, vendas fracas e resistência a mudanças: VW vive impasse sob comando familiar

familia porsche piech
familia porsche piech

Em tempos de transição turbulenta para a indústria automotiva, a poderosa família Porsche-Piëch, que comanda a Volkswagen AG, enfrenta pressões internas e financeiras sem precedentes.

O pivô da nova tensão é Hans Michel Piëch, de 83 anos, que assumiu um empréstimo de aproximadamente €1,1 bilhão (cerca de R$6 bilhões) em 2017 para comprar ações de seu irmão, Ferdinand Piëch, e evitar que parte do controle do grupo fosse parar no mercado.

Na época, a operação ajudou a encerrar uma briga familiar histórica, mas tornou Hans Michel dependente dos dividendos da VW para pagar a dívida — uma receita que agora começa a secar.

Com a queda nas margens e os lucros da Volkswagen cada vez mais pressionados, o fluxo de caixa para os acionistas controladores está diminuindo rapidamente.

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Em 2025, a holding Porsche SE — que concentra os ativos do clã — já viu uma queda de 25% nos dividendos pagos, e a própria marca Porsche admitiu que o valor repassado será “significativamente menor” no ano que vem.

Analistas e fontes próximas à empresa afirmam que, se os cortes continuarem, Hans Michel poderá ter dificuldades para manter os pagamentos da dívida.

Documentos recentes mostram que sua empresa, HMP Vermögensverwaltung, ofereceu 25 milhões de ações como garantia bancária.

A situação financeira da família é ainda mais delicada porque sua fortuna depende fortemente de dois ativos principais: 53,3% da Volkswagen AG e 25% da Porsche AG, por meio da holding Porsche SE.

Desde a abertura de capital da Porsche em 2022, a holding perdeu mais de US$3 bilhões em valor de mercado, segundo o Bloomberg Billionaires Index.

Ao mesmo tempo, a Volkswagen enfrenta queda na geração de caixa, e estima terminar o ano com fluxo líquido nulo no setor automotivo — o pior cenário desde o escândalo do Dieselgate.

Para cumprir um orçamento de €160 bilhões nos próximos cinco anos, o CFO Arno Antlitz já avalia cortes e vendas de ativos, o que gera conflitos com a família controladora, sindicatos e o Estado da Baixa Saxônia, outro acionista-chave.

Mesmo assim, há resistência dentro do clã a reformas profundas, como cisões, vendas de marcas ou mudanças geracionais na liderança.

O caso contrasta com outras famílias industriais da Europa. Os Agnelli, da Fiat, diversificaram seus ativos sob comando de John Elkann. Já os Quandt, da BMW, investiram em setores fora da indústria automotiva.

Na Volkswagen, porém, ainda predomina uma gestão familiar conservadora, comandada por Hans Michel e seu primo Wolfgang Porsche, ambos octogenários, com influência direta de figuras como Ferdinand Oliver Porsche e Josef Michael Ahorner.

A escolha de Oliver Blume para liderar simultaneamente Porsche e Volkswagen também gerou ruídos internos, especialmente diante da estratégia de eletrificação e resultados abaixo do esperado.

A crise culminou com a saída dos executivos Lutz Meschke (CFO) e Detlev von Platen (vendas) da Porsche, em fevereiro, obrigando o grupo a chamar Michael Leiters, ex-McLaren, para reorganizar a marca esportiva.

Diante desse cenário, consultores familiares e investidores pressionam por renovação, modernização da governança e maior abertura ao mercado — mas o impasse persiste.

“Na Volkswagen, a disposição para mudar diminui conforme os problemas aumentam”, resumiu Hendrik Schmidt, especialista em governança da DWS Investment.

Se não agir rápido, o império construído por Ferdinand Porsche e perpetuado com mão de ferro por Ferdinand Piëch pode ver sua força e valor minguarem, justamente no momento em que mais precisa se reinventar.

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Autor: Eber do Carmo

Fundador do Notícias Automotivas, com atuação por três décadas no segmento automotivo, tem 20 anos de experiência como jornalista automotivo no Notícias Automotivas, desde que criou o site em 2005. Anteriormente trabalhou em empresas automotivas, nos segmentos de personalização e áudio.


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