
A condução de um carro elétrico pode até ser silenciosa, eficiente e futurista, mas para muitos entusiastas, ela ainda carece de algo essencial: envolvimento.
Pensando nisso, a Ford parece estar desenvolvendo uma solução curiosa (e ousada) para resgatar parte da emoção que se perdeu na transição dos motores a combustão para os elétricos.
Um pedido de patente da montadora, registrado em 2023 e recentemente divulgado, revela planos para criar uma alavanca de câmbio que simula a experiência de trocar marchas manualmente em um EV — mesmo que, tecnicamente, esse câmbio não exista.
O documento, batizado de “Shifter Assembly for Electric Vehicle”, descreve um sistema que inclui uma alavanca tradicional de câmbio, similar àquelas com padrão em H encontradas em carros manuais de seis marchas, mas com uma diferença fundamental: ela não está fisicamente conectada a uma caixa de câmbio.

Em vez disso, a experiência é simulada por atuadores eletrônicos e possivelmente reforçada por feedback háptico — vibrações e resistências controladas por software para emular a sensação de engatar marchas reais.
De acordo com os diagramas incluídos na patente, o sistema pode permitir diferentes estilos de troca: desde o clássico padrão em H até um modo sequencial, em que se move a alavanca apenas para cima ou para baixo.
Curiosamente, a Ford menciona um “caminho virtual”, o que indica que o trajeto da alavanca pode ser personalizado eletronicamente. Isso abre a possibilidade de configurar a alavanca para simular transmissões de quatro, seis, ou até sete marchas — tudo por software.
A tecnologia vai além da nostalgia e busca criar uma camada adicional de interação para motoristas que sentem falta da conexão mecânica com seus carros.

O sistema poderia permitir ao condutor ajustar diversos parâmetros: o esforço necessário para mover a alavanca, a posição da marcha ré, o nível de “rugosidade” no engate e até a resposta vibratória ao trocar de marcha — tudo acessível através de menus no sistema de infotainment do carro.
Embora isso possa parecer heresia para os puristas, a proposta é, no mínimo, interessante: oferecer uma simulação realista da experiência manual em um carro que, por sua própria natureza elétrica, não precisa mais de marchas.
Ainda assim, a ideia não é obrigar ninguém a usar esse recurso. Ele seria opcional, voltado àqueles que desejam manter uma ligação emocional com a forma clássica de dirigir, mesmo em tempos de condução digitalizada.
Vale lembrar que, como toda patente, o registro não garante que a tecnologia chegará de fato ao mercado.
Mas considerando o contexto atual, em que marcas como Hyundai já experimentam experiências similares com o Ioniq 5 N (que simula trocas de marcha com som e vibração pelos paddle shifts), é plausível imaginar a Ford apostando em algo do tipo, especialmente em um futuro Mustang elétrico.
Quando o fim dos motores a combustão se consolidar — e isso é uma questão de tempo — soluções como essa podem ser a ponte entre o passado e o futuro, permitindo que novas gerações conheçam, mesmo que digitalmente, o que era a arte de trocar marchas na unha.
Afinal, quem nunca errou a marcha e aprendeu da pior forma? Que ao menos a versão digital venha com um botão de “desfazer”.

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