A Renault vive um momento conturbado. Em uma virada inesperada, a montadora francesa viu suas ações despencarem até 18% nesta quarta-feira após anunciar um corte drástico em sua previsão de lucros para o ano — e tudo isso apenas um mês depois de o CEO Luca de Meo confirmar sua saída da companhia.
A fabricante admitiu, em comunicado divulgado na noite de terça-feira, que suas vendas em junho foram bem mais fracas do que o esperado.
Com isso, a meta de margem operacional foi reduzida de pelo menos 7% para 6,5% em 2025.
Ainda que o novo número continue superior ao de boa parte das concorrentes, o mercado reagiu com força, penalizando a ação da Renault, que caiu para €33,80, o nível mais baixo em 18 meses.
A frustração com a mudança de cenário foi ainda maior porque a empresa vinha sendo vista como uma das exceções positivas do setor.
Por não ter forte presença nos Estados Unidos nem na China, a Renault parecia blindada de tarifas e desaceleração econômica, ao contrário de Volkswagen e Stellantis.
Em 2023, inclusive, foi uma das poucas montadoras que não emitiu alerta de lucros.
Para completar o clima de incerteza, o diretor financeiro Duncan Minto foi nomeado como CEO interino. Ele só assumiu o cargo de CFO em março e ainda não apresentou nenhum balanço desde então.
Agora, além de suas responsabilidades financeiras, precisará conduzir a montadora durante o período mais instável dos últimos anos.
O baque também foi sentido no caixa: a Renault informou um fluxo de caixa livre de apenas €47 milhões no primeiro semestre, número que ficou muito abaixo das expectativas de €645 milhões, segundo analistas.
O rombo foi causado por um impacto de €900 milhões no capital de giro, devido a atrasos em cobranças e ao esfriamento do mercado europeu de carros e vans.
Otimistas de plantão tentaram minimizar o baque. Analistas do banco Berenberg disseram que a nova previsão de margem é “realista” diante da nova safra de lançamentos da marca, enquanto a Morningstar classificou a reação do mercado como um “exagero”.
Ainda assim, o momento é de tensão. Os planos para encontrar um novo CEO definitivo estão em andamento, mas sem prazo definido. Enquanto isso, a Renault promete intensificar cortes de custos no segundo semestre.
O problema é que a concorrência está mais acirrada do que nunca, especialmente no segmento de elétricos populares, onde diversas marcas já lançaram modelos mais baratos, pressionando margens e participação de mercado.
O futuro da Renault dependerá da capacidade de reagir rápido — e de convencer investidores de que a crise atual é apenas um tropeço e não o começo de um novo declínio estrutural.
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