
A promessa de carros que se dirigem sozinhos parece algo saído da ficção científica, mas a tecnologia avança rapidamente e já está nas ruas.
No entanto, muita gente ainda se confunde sobre o que significa, de fato, ter um carro autônomo — especialmente quando marcas como a Tesla vendem soluções como “Autopilot” e “Full Self-Driving”, que soam muito mais avançadas do que realmente são.
Para organizar essa bagunça, a SAE (Society of Automotive Engineers) criou uma classificação que vai do Nível 0 ao Nível 5, com base no grau de automação envolvido.
Os níveis 0 a 2 são considerados de assistência ao motorista; os níveis 3 a 5 já entram na categoria de direção autônoma de verdade.
Níveis 0 a 2: assistência, não autonomia
No Nível 0, o carro não tem qualquer função que conduza o veículo — só alertas ou ações momentâneas, como frenagem de emergência ou aviso de ponto cego.
No Nível 1, surgem tecnologias como o controle de cruzeiro adaptativo ou assistente de permanência em faixa. Já o Nível 2 combina essas funções, oferecendo aceleração, frenagem e até correções de direção simultaneamente — mas sempre exigindo atenção total e as mãos do motorista ao volante.
Hoje, a grande maioria dos carros novos vendidos nos EUA (e boa parte dos vendidos no Brasil) já está no Nível 2.
Modelos como o Toyota Corolla Cross, Ford Territory, Jeep Commander ou até o Volvo XC60 oferecem esse tipo de recurso.
E há uma evolução dentro do próprio Nível 2: versões “hands-free”, que dispensam o toque contínuo no volante, mas ainda obrigam o condutor a estar atento, como o Super Cruise da GM, o BlueCruise da Ford e o Highway Assistant da BMW.
A Tesla entra aqui — e com bastante polêmica.
Apesar dos nomes pomposos, tanto o “Autopilot” quanto o “Full Self-Driving” são apenas sistemas de Nível 2. A diferença é que, ao contrário das concorrentes, a Tesla libera o uso dessas funções em quase qualquer estrada, sem as limitações de mapeamento ou clima que outras marcas impõem.
O problema: isso aumenta muito os riscos. Já houve diversos casos de Teslas colidindo com viaturas, pedestres ou objetos fixos com o sistema ativado. Em um teste recente, o motorista precisou intervir a cada 21 km.
Nível 3: a verdadeira autonomia começa aqui
No Nível 3, o carro pode de fato dirigir sozinho em determinadas condições — como trânsito lento em rodovias bem sinalizadas. O motorista pode tirar as mãos do volante e os olhos da estrada, mas deve estar pronto para reassumir o controle quando solicitado.
Nos Estados Unidos, apenas a Mercedes-Benz tem um sistema assim aprovado: o Drive Pilot, disponível no Classe S e no EQS.
O recurso pode ser ativado em rodovias específicas da Califórnia e de Nevada, em dias claros e em velocidades de até 64 km/h. Enquanto ativo, o motorista pode até assistir a vídeos ou mexer no celular.
Mas se algo mudar — como o tráfego acelerar ou surgir uma obra — o carro avisa o condutor, que precisa retomar o volante. Se não o fizer, o veículo para sozinho e aciona os serviços de emergência.
Níveis 4 e 5: os verdadeiros carros sem motorista
No Nível 4, o carro opera sem necessidade de motorista, mas ainda com limitações de território e situação.
O melhor exemplo são os táxis autônomos da Waymo, que circulam em áreas específicas dos EUA, como em San Francisco e Los Angeles. Eles não têm volante nem pedais e operam sozinhos, mas não podem sair das zonas geográficas pré-definidas.
O Nível 5 é o sonho total: um carro capaz de dirigir em qualquer lugar, sob qualquer condição, sem intervenção humana. Hoje, não existe nenhum modelo assim disponível.
E apesar do entusiasmo de Elon Musk, especialistas concordam que ainda estamos a muitos anos de ver isso virar realidade.
Portanto, da próxima vez que alguém te disser que o carro dele se dirige sozinho, talvez valha a pena perguntar: “mas em qual nível?”
Porque no mundo real, direção autônoma de verdade ainda é uma promessa — e não algo que você encontra por aí com um botão no painel.
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