De forma silenciosa, mas avassaladora, uma revolução está em curso nos países em desenvolvimento.
A virada já começou: carros elétricos estão sendo vendidos em ritmo mais acelerado do que os movidos a combustíveis fósseis em países como Nepal, Vietnã, Etiópia e Costa Rica.
Em muitos casos, isso não está sendo impulsionado por consciência ambiental, mas por pura lógica econômica — os elétricos já são mais baratos, mais eficientes e mais práticos.
Enquanto potências como os Estados Unidos recuam em políticas públicas que favoreciam os EVs, o Sul Global está fazendo sua própria transição energética, motivado por realidades locais que colocam a eletrificação como o caminho mais sensato.
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Muitos desses países não produzem petróleo nem fabricam carros a combustão em grande escala.
Para eles, importar carros elétricos, especialmente os chineses, e abastecê-los com energia local — muitas vezes gerada por fontes renováveis como a hidrelétrica — é um negócio muito mais vantajoso do que depender da gasolina cara e poluente.
Na China, o maior mercado automotivo do mundo, mais de 50% das vendas de carros novos já são elétricos.
E o mais impressionante: no último trimestre deste ano, os chineses venderão mais EVs do que o total de todos os carros — elétricos ou a combustão — vendidos nos Estados Unidos no mesmo período.
O contraste revela uma tendência que deve preocupar Detroit: os consumidores estão cada vez mais longe dos modelos a combustão, e os EUA estão ficando para trás.
Por trás dessa transformação global está a queda vertiginosa no custo das baterias. O que antes era visto como um impeditivo está se tornando uma alavanca para o crescimento.
Em muitos mercados, os EVs já estão mais baratos do que os equivalentes a combustão — especialmente na China, onde modelos elétricos acessíveis e com boa autonomia invadiram o mercado.
Esse movimento força o resto do mundo a se adaptar ou ficar obsoleto.
E o mais curioso é que essa mudança não está vindo das grandes capitais do Norte Global. A adoção em massa de elétricos está sendo puxada de baixo para cima.
Em países como Nepal, mais de 70% dos carros novos vendidos são elétricos. Na Tailândia, a taxa passa de 60%. No Vietnã, são 40%.
Na Índia, marcas locais como Tata Motors e Mahindra estão finalmente encarando os chineses de frente, enquanto empresas como a Hyundai ganham mercado com produção local.
Mesmo em países com tarifas elevadas sobre veículos importados, como a Índia, os modelos chineses ainda conseguem competir.
Um exemplo emblemático: mesmo pagando impostos, um SUV elétrico da BYD foi a escolha de um consumidor de Mumbai, por oferecer mais valor do que as opções indianas.
Esse tipo de decisão de compra, centrada no bolso do consumidor e não no discurso climático, é o que realmente acelera a transição.
Ao contrário do que se vê nos Estados Unidos — onde o governo Trump planeja desmontar incentivos e enfraquecer as metas de economia de combustível — países em desenvolvimento estão abraçando os EVs por uma razão simples: é a melhor escolha econômica.
E isso vale não só para carros de passeio. Motocicletas elétricas, vans de entrega, ônibus urbanos e até caminhões pesados estão eletrificando frotas em várias partes da Ásia, África e América Latina.
Com isso, a demanda global por petróleo começa a sofrer os primeiros impactos. Segundo estimativas da BloombergNEF, cerca de 2 milhões de barris de petróleo por dia já estão deixando de ser consumidos graças à eletrificação.
Em mercados mais avançados, como a Noruega, o consumo de combustíveis líquidos está caindo 3% ao ano.
Na China, a maior compradora de petróleo do planeta nas últimas décadas, a demanda por gasolina já mostra sinais de ter atingido o pico.
Esse movimento pode não ser suficiente para garantir um mundo com emissões zero até 2050, mas representa uma mudança profunda na matriz energética global.
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