
O cenário da indústria automotiva europeia está passando por uma transformação silenciosa — mas poderosa.
Marcas chinesas de veículos elétricos como BYD, GAC, Chery, Xpeng e Hongqi estão deixando claro, durante o Salão de Munique, que não vieram apenas para testar o mercado europeu: vieram para ficar.
O discurso mais repetido nos estandes das montadoras chinesas é direto: “na Europa, para a Europa.
É a mesma abordagem estratégica que os alemães adotaram na China há décadas, quando começaram a desenvolver modelos e fábricas adaptados ao mercado local. Agora, a maré virou.
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Com a guerra de preços no mercado chinês corroendo margens e saturando a concorrência, a Europa se tornou o novo campo de batalha para as gigantes do setor.
Stella Li, vice-presidente da BYD, foi clara: a montadora iniciará a produção de veículos em sua nova fábrica na Hungria até o fim de 2025.
Já a GAC lançou o SUV elétrico Aion V, que chega ainda este mês a Polônia, Portugal e Finlândia, e prometeu outro modelo, o Aion UT, para 2026.
A Xpeng, por sua vez, anunciou a inauguração de um centro de P&D em Munique, reforçando seu compromisso com uma presença duradoura no continente.
O entusiasmo das marcas chinesas não é por acaso. Segundo a JATO Dynamics, as marcas chinesas praticamente dobraram sua participação de mercado na Europa em 2025, atingindo 4,8% entre janeiro e julho.

E uma projeção da McKinsey sugere que, em menos de uma década, elas podem alcançar níveis similares aos de japonesas (14%) e coreanas (9%) — que hoje são players consolidados.
O desafio, no entanto, ainda é grande.
Como lembra Pedro Pacheco, vice-presidente de pesquisa da consultoria Gartner, muitas marcas chinesas ainda estão apenas adaptando modelos locais para o gosto europeu, sem desenvolver carros pensados desde o início para o consumidor do continente.
Ele cita o exemplo da Toyota, que só deslanchou na Europa ao lançar o Yaris em 1997, modelo criado exclusivamente para o mercado europeu.

Apesar disso, há sinais claros de que as chinesas estão dispostas a evoluir. A Hongqi, por exemplo, tem um centro de design na Europa desde 2017, e anunciou que lançará 15 modelos no continente até 2028.
O novo EHS5, apresentado em Munique, é o primeiro da leva que pretende disputar espaço direto com os europeus no quesito estilo, acabamento e tecnologia.
Enquanto marcas tradicionais como Volkswagen, Mercedes-Benz e BMW enfrentam queda de vendas na China, as chinesas avançam no velho continente — mais maduras, mais agressivas e com um discurso afinado com os tempos atuais: design local, produção local e preços competitivos.
O próximo passo será provar que conseguem também criar desejo e fidelidade de marca fora de casa.
A invasão chinesa está longe de ser improvisada. E se depender das estratégias em curso, a presença dessas marcas nas ruas europeias tende a se tornar tão comum quanto um Renault ou um Peugeot.
A diferença é que, agora, quem dita o ritmo da inovação talvez não fale mais alemão — mas mandarim.
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