Depois de anos investindo em redes de carregamento e tentando suprir a demanda crescente por veículos elétricos, o setor agora mira em algo ainda mais ambicioso: transformar os próprios carros em fonte de energia.
A ChargePoint, uma das maiores operadoras de estações de recarga dos Estados Unidos, anunciou nesta quinta-feira uma nova geração de carregadores que não apenas abastecem baterias, mas também permitem que os carros devolvam energia para a rede elétrica.
A inovação, chamada Express Grid, está sendo desenvolvida em parceria com a Eaton Corp., empresa especializada em gestão energética.
O sistema, segundo o site da Bloomberg, foi pensado especialmente para frotas corporativas, como empresas de entrega, construtoras e serviços urbanos — grupos que têm dezenas ou centenas de veículos que ficam parados por longos períodos, justamente quando a demanda por energia está no pico, no fim do dia.
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A ideia é simples: usar os carros como baterias móveis. Enquanto não estão em uso, os veículos podem alimentar prédios próximos, compensar tarifas de energia ou até gerar receita com a venda dos “elétrons extras” de volta à rede.
“Vamos conseguir reduzir os custos das frotas elétricas sem depender de subsídios, descontos fiscais ou programas de incentivo”, afirmou Rick Wilmer, CEO da ChargePoint.
A proposta chega num momento em que muitas empresas já estão investindo em geração própria de energia — com painéis solares, turbinas eólicas ou baterias estacionárias — para escapar da instabilidade da rede ou dos altos custos em horários de pico.
Agora, com os carros elétricos entrando nessa equação, surge um novo componente na chamada matriz de energia descentralizada.
“Os veículos elétricos passam a ser ativos energéticos, não só meios de transporte”, explicou Paul Ryan, vice-presidente da Eaton.
Com o novo sistema, os carregadores bidirecionais podem usar energia renovável gerada localmente ou se conectar com os veículos para criar redes inteligentes — algo antes restrito a grandes instalações industriais.
Mas nem tudo são flores. Nem todas as concessionárias de energia aceitam receber eletricidade de fontes “não convencionais”.
Além disso, muitos EVs ainda não suportam a chamada carga bidirecional. O Ford F-150 Lightning já possui essa funcionalidade, por exemplo, mas modelos como o Mustang Mach-E ainda não permitem esse tipo de fluxo reverso de energia.
Mesmo assim, a expectativa é que esse recurso se torne padrão em pouco tempo.
Com o avanço das mudanças climáticas, o crescimento de data centers e o aumento da pressão sobre o sistema elétrico dos EUA, qualquer fonte de energia adicional passou a ser estratégica. “Estamos diante de uma armadilha melhorada”, brincou Wilmer, em referência ao clássico “better mousetrap”.
A ChargePoint e a Eaton ainda não abriram pedidos para o novo sistema, mas prometeram que a primeira unidade será instalada na segunda metade de 2025.
Se der certo, essa tecnologia pode redefinir o papel do carro elétrico — deixando de ser apenas consumidor de energia para virar também um fornecedor.
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