Em Nova York, respirar ar limpo virou uma espécie de missão coletiva.
Mas, diferentemente de campanhas educativas ou medidas tradicionais de fiscalização, a cidade adotou uma abordagem peculiar e altamente lucrativa para quem decide participar.
Qualquer cidadão pode filmar um caminhão parado com o motor ligado por mais de três minutos e receber uma parte da multa gerada.
A prática, que pode parecer inusitada à primeira vista, tem rendido cifras surpreendentes.
Um dos participantes mais ativos, conhecido como Streeter, revelou que consegue faturar mais de 100 mil dólares por ano – o equivalente a cerca de 550 mil reais – apenas pedalando pelas ruas da cidade com uma câmera em mãos, à caça de motoristas infratores.
O funcionamento é simples: ao flagrar um caminhão (ou ônibus não municipal) com o motor ligado em repouso por mais de três minutos, o cidadão pode gravar um vídeo, enviar para a prefeitura e, se a infração for confirmada, receber 25% do valor da multa.
Os valores variam entre 350 e 600 dólares por infração.
O programa não é novo – já existe há pelo menos seis anos –, mas a popularização recente entre os nova-iorquinos o transformou em um verdadeiro fenômeno de microempreendedorismo urbano.
No entanto, nem tudo são flores. Muitos dos chamados “vigilantes ambientais” relatam enfrentar situações hostis, com ameaças, empurrões e até perseguições por parte dos motoristas flagrados.
De outro lado, caminhoneiros e representantes do setor enxergam o programa como uma forma de caça às bruxas disfarçada de política ambiental.
“É um sistema de caçadores de recompensas”, resume Zach Miller, da associação de transportadoras de Nova York.
A cidade, que enfrenta desafios crônicos com o trânsito pesado e altos níveis de poluição, vê na medida uma forma de engajar a população na fiscalização ambiental, ao mesmo tempo em que pressiona setores como o de transporte a adotar práticas mais sustentáveis.
Mas a iniciativa também levanta questões sobre o limite entre ação cidadã e vigilância, e até onde vai a responsabilidade de um morador em nome da saúde pública.
Com o aumento da visibilidade do programa e do número de participantes, a discussão ganha contornos mais amplos.
Seria essa uma ferramenta inteligente de empoderamento popular ou uma forma camuflada de transferir a função do Estado para os cidadãos comuns?
A única certeza é que, para alguns nova-iorquinos, transformar poluição em dinheiro virou parte da rotina.
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