Muito antes da Porsche criar oficialmente seu programa Sonderwunsch de personalizações, já havia clientes que conseguiam veículos únicos com exigências nada convencionais.
Um raro exemplo disso acaba de vir à tona: trata-se de um Porsche 356 A Coupe de 1958, que foi meticulosamente restaurado após mais de 60 anos, trazendo detalhes impressionantes — incluindo um telefone sem fio instalado no painel.
O responsável pelo resgate é o holandês Henk Spin, que comprou o carro como um projeto inacabado no Arizona, nos Estados Unidos, há cerca de uma década.
Só mais tarde ele descobriria que aquele 356 era, na verdade, um dos exemplares mais especiais já fabricados pela Porsche.
Após uma longa pesquisa no acervo histórico da marca em Stuttgart, Spin confirmou que o modelo havia sido encomendado por Reinhard Schmidt, um colecionador que nos anos 1950 e 60 solicitou oito Porsches exclusivos, cada um com especificações únicas.
Entre os destaques desse 356 A está a pintura especial Porcelain White e o motor opcional 1600 Super, que entregava 74 cv — potência considerável para a época.
Mas o que realmente surpreende está na cabine: Schmidt solicitou que o carro fosse equipado com um telefone automotivo, algo extremamente avançado para os padrões da década de 50.
A tecnologia funcionava por meio de ondas dedicadas fornecidas pelo serviço postal, algo tão raro que só alguns poucos privilegiados conseguiam autorização para usá-la.
Segundo o relato publicado na revista oficial da Porsche, a “Christophorus”, o telefone operava sem fios, algo impensável até mesmo para os anos 1990.
Além do telefone, o interior traz acabamento em imitação de couro na cor Acella Red, aplicado em portas, painel e encostos dos bancos.
O estofamento é em couro branco Nappa, e os detalhes do volante e dos botões são em bege. A combinação de cores é tão incomum quanto ousada.
Outro toque de exclusividade está nos instrumentos do painel. O velocímetro veio do esportivo 356 Carrera, enquanto um relógio Junghans foi retirado do modelo 356 A 1600 GS Carrera GT de rali.
Abaixo do banco do passageiro, há uma caixa de ferramentas embutida. E, como se não bastasse, o limpador de para-brisa conta com bomba elétrica, substituindo o acionamento por pedal comum na época.
Com tantos elementos personalizados, a restauração foi um desafio à parte. Spin dedicou mais de 3.000 horas ao processo, buscando fotos antigas, artigos e documentos para recriar cada detalhe do veículo conforme o projeto original encomendado por Schmidt.
Mesmo com o Porsche 911 ocupando o posto de ícone máximo da marca, é o 356 que garantiu as bases do sucesso da fabricante alemã.
Por isso, a Porsche e diversos restauradores continuam prestando homenagens ao modelo até hoje, incluindo versões conceituais e restomods com inspirações nostálgicas.
E esse exemplar de 1958 é a prova de que a obsessão por exclusividade entre os clientes da Porsche não é nenhuma novidade. Ela já existe há mais de 70 anos — com telefone e tudo.
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