Com estoques abarrotados e vendas emperradas, montadoras chinesas encontraram um expediente controverso para manter os números de vendas em movimento: estão anunciando veículos “usados” com absolutamente zero quilômetro no odômetro.
O truque, que consiste em registrar como “segunda mão” carros que nunca saíram da concessionária, virou prática comum em várias regiões do país — até ser criticada duramente pela imprensa estatal chinesa, sinalizando que o governo quer pôr um fim à manobra.
O alerta veio por meio do jornal People’s Daily, frequentemente utilizado como porta-voz do Partido Comunista Chinês.
A publicação destacou que vender carros como seminovos sem sequer rodar compromete a saúde financeira das montadoras e cria distorções de mercado insustentáveis a longo prazo.
Apesar de aumentar os números oficiais de vendas, a prática corrói margens de lucro e alimenta a guerra de preços que já assola o setor há anos.
O problema central, no entanto, é mais amplo. A economia chinesa vive um momento de desaceleração no consumo interno, mas sua capacidade industrial segue acelerada.
Segundo a consultoria Deloitte, mais de um terço de toda a produção industrial global sai da China. Sem consumidores suficientes para absorver o que é fabricado, os produtos se acumulam — e com os carros não é diferente.
Para se manterem competitivas, marcas como a BYD foram forçadas a cortar preços agressivamente e, em alguns casos, criar “descontos camuflados” com a venda de carros tecnicamente novos como seminovos.
Agora, autoridades reguladoras chinesas vêm pressionando o setor a abandonar essa tática. A preocupação é que o mercado, cada vez mais distorcido, entre em colapso se as empresas continuarem buscando volume a qualquer custo.
O cenário se complica ainda mais com a escalada das tarifas sobre produtos chineses no exterior.
Com o mercado americano praticamente fechado para os veículos chineses, graças a tarifas que chegam a 100% no governo Biden e 145% na gestão Trump, exportar se tornou uma tarefa árdua.
O que antes era uma válvula de escape para o excesso de produção agora é um beco sem saída.
Enquanto consumidores podem comemorar preços mais baixos, o movimento ameaça comprometer a viabilidade de longo prazo das montadoras chinesas.
No fim das contas, até o planeta sai perdendo: em vez de acelerar a transição para EVs acessíveis, o cenário desestimula inovação e sufoca margens, afastando investidores e travando a expansão sustentável do setor.
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