
As mudanças climáticas causadas pela ação humana estão deixando de ser uma ameaça distante e se tornando uma realidade quente e desconfortável no nosso dia a dia.
O ano de 2024 foi o mais quente já registrado e trouxe uma avalanche de eventos extremos: enchentes-relâmpago, incêndios florestais e tempestades cada vez mais violentas atingiram diversas regiões do mundo.
Para tentar combater esse cenário sufocante, algumas cidades passaram a pintar o asfalto preto com tinta clara, na tentativa de reduzir a temperatura. Mas e se carros escuros também estiverem contribuindo para esse superaquecimento?
Um novo estudo realizado em Lisboa, Portugal, aponta que sim: carros com pintura escura estacionados em áreas urbanas podem aumentar a temperatura do ar ao redor em até 3,5°F (cerca de 2°C).
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A descoberta surpreende, já que até então os principais vilões das chamadas “ilhas de calor urbanas” eram o asfalto negro e prédios de concreto. Mas agora, a influência dos carros parados – especialmente os de cores mais escuras – entra no radar da ciência.
A pesquisa foi conduzida pela geógrafa Márcia Matias, que comparou dois carros idênticos: um preto e um branco, estacionados sob o sol por algumas horas.
O resultado chamou atenção: o carro preto chegou a irradiar 3,8°C a mais do que o próprio asfalto em que estava parado.
Já o carro branco teve impacto mínimo e, em certos momentos, chegou a resfriar o ar ao redor mais do que a rua. A conclusão é clara: a cor do carro interfere significativamente no microclima urbano.

O motivo por trás disso é pura física. A lataria metálica dos veículos absorve calor de forma muito mais eficiente que o solo ou o concreto e o irradia diretamente para o ambiente ao redor.
Imagine isso multiplicado por milhares de carros pretos parados sob o sol nas grandes cidades.
Em Los Angeles, por exemplo, estima-se que existam cerca de 518 km² de áreas destinadas a estacionamento — ou seja, uma cidade de carros estacionados que funciona como uma gigantesca placa de calor, irradiando energia para o ambiente todos os dias ensolarados, que por lá somam mais de 275 por ano.
Embora o estudo ainda seja limitado em escopo, os resultados já levantam reflexões importantes.

Em entrevista à NPR, a pesquisadora sugeriu que frotas públicas — como ônibus, viaturas e veículos municipais — poderiam adotar cores mais claras como medida simples e eficaz de reduzir o calor urbano.
Incentivar a indústria a oferecer pinturas reflexivas e opções de cores mais claras também pode ser um passo prático para aliviar as altas temperaturas nas cidades.
Uma alternativa interessante seria estimular o uso de pinturas em dois tons, com tetos brancos que refletem melhor a luz solar. Além disso, incentivos para que veículos comerciais adotem cores claras podem ter um impacto direto e mensurável na qualidade térmica do ambiente urbano.
Embora o estudo não tenha abordado ainda o impacto de tetos panorâmicos de vidro — cada vez mais comuns nos carros modernos —, é evidente que o caminho passa por reconsiderar até mesmo detalhes como a paleta de cores dos veículos.
Não se trata de banir carros pretos ou impor regras absurdas, mas sim de repensar nossas escolhas cotidianas à luz dos desafios climáticos que batem à nossa porta — e ao nosso termômetro.
Afinal, se cada pequeno gesto pode reduzir o calor das cidades, talvez trocar o carro preto por um branco seja mais do que uma questão de estilo. Pode ser, literalmente, uma atitude refrescante.
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